segunda-feira, junho 22, 2009

Senadores pedem demissão do ex-diretor

Claudia Andrade
Do UOL Notícias


Em discurso na tarde desta segunda-feira (22) sobre a crise no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM) afirmou que, em sua opinião, o ex-diretor da Casa, Agaciel Maia, não agiu sozinho, mas teve algum senador "atrás dele". A última acusação que pesa sobre o ex-diretor é de ter ordenado que atos administrativos ficassem em segredo. Esses atos são utilizados para criação de cargos e aumento de salários. Em apartes, outros senadores cobraram medidas moralizadoras na Casa e também defenderam a demissão do ex-diretor.
Agaciel Maia é acusado de não declarar um imóvel à Receita Federal, o que resultou em uma exoneração. Além disso, ele daria as ordens para que atos administrativos fossem mantidos em segredo, de acordo com declarações do chefe do serviço de publicação do boletim de pessoal do Senado, Franklin Landim,em entrevista concedida ao jornal
Folha de S.Paulo. Na última sexta, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP) anunciou a criação de uma comissão de sindicância para apurar a denúncia. Amanhã, a Mesa Diretora do Senado deverá se reunir para discutir mudanças administrativas.


"Eu duvido que o senhor Agaciel Maia tenha praticado todos estes crimes sozinho. Tenho convicção de que tem senador atrás dele, tem gente com mandato por trás dele. Temos que saber isso sob pena de sermos incompletos, covardes e oportunistas", disse Virgílio, da tribuna do plenário do Senado, para em seguida pedir a demissão do ex-diretor e também do diretor de recursos humanos João Carlos Zoghbi. Afastados, ambos seguem na condição de funcionários efetivos do Senado.

"O senhor Agaciel tem que perecer como homem público. Não é o caso inventarmos nada que signifique panos quentes em relação a ele. O caso dele e do senhor Zoghbi é de demissão a bem do serviço público por se tratarem de figuras que não respeitaram a Casa que os abrigaram como funcionários e que lhes deu oportunidade de fazer uma carreira decente a serviço da nação brasileira", acrescentou Virgílio.

O senador levantou a hipótese de que o ex-diretor tenha escondido atos para acumular poder. "Quem sabe não transformou em secretos atos que não deveriam ser secretos, para acumular poder. É a lógica do chantagista", disse, referindo-se à acusação de que Agaciel Maia estaria "tentando calar" alguns senadores.

O tucano reclamou do silêncio de alguns parlamentares, da intenção de deixar o servidor "no ostracismo" e disse que "se sentiu sozinho" em alguns momentos. "Silencia quem quer silenciar, quem não quer, não silencia, doa a quem doer."
Também cobrou providências do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). "A época dos panos quentes acabou. Eu torço para que vossa excelência seja capaz de dar a resposta que o Senado precisa. Seja capaz de romper todo e qualquer laço com essa camarilha".

O senador disse que parlamentares "faltosos" devem ser julgados pelo conselho de ética e não pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como apontado por Sarney ao anunciar a criação de uma comissão de sindicância para apurar a responsabilidade por atos secretos mantidos em segredo na Casa. Tais atos seriam utilizados para criação de cargos e aumento de salários. "Vossa excelência não tem que sobreviver, necessariamente. Quem tem que sobreviver é a instituição Senado Federal", disse Arthur Virgílio.

Apartes
Após o pronunciamento do senador da oposição, o petista João Pedro (AM), endossou as palavras do colega. Disse que a questão da chantagem precisa ser apurada e também apoiou a demissão do ex-diretor. "Quero dizer publicamente: os dois diretores, por tudo o que a imprensa veiculou, por tudo o que já sabemos, por tudo o que é palpável, eles vão ter que ser demitidos. Precisamos tratar isso com força. Nós temos que responder à sociedade, fazendo cirurgias, se preciso sem anestesia."

Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos apontados por Virgílio como vítima de chantagem de Agaciel, explicou que sua esposa, que segundo denúncia teria sido nomeada para cargo no Senado por meio de ato secreto, foi convidada a atuar na liderança do partido, mas decidiu voltar a exercer função na procuradoria da Câmara. O retorno teria ocorrido, de acordo com Cristovam, "sem um real do Senado para ela, uma única passagem (paga pela Casa)". "Eu não tenho o rabo preso", afirmou o senador de Brasília.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) negou ter sido vítima de chantagem. "Ninguém está me chantageando. Se estou quieto é porque quero ficar quieto", disse. "Minha vida é tão limpa e tão transparente que não dá motivo para chantagem". Para ele, o Senado está atingindo "o limite do limite". "Nós estamos no fundo do poço e alguma coisa precisa ser feita."

Papaléo Paes (PSDB-AP) aproveitou para pedir o fim da verba indenizatória e a equiparação dos salários dos senadores aos do judiciário. "Meu salário é de R$ 12.129. É excelente para os padrões do país. Mas é um salário que você possa assumir as despesas, principalmente agora que vai ter que pagar passagem para seus familiares?", questionou. Ele classificou de "hipocrisia" os discursos de quem diz que os parlamentares já ganham muito.

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