Da necessidade de receber
Tenho conhecido muitas pessoas que se preocupam com os outros, que são extremamente generosas na hora de dar, e que encontram um profundo prazer quando alguém lhes pede um conselho ou apoio.
Até aí tudo bem – é ótimo poder fazer o bem ao nosso próximo.
Entretanto, tenho conhecido muito poucas pessoas que são capazes de receber algo – mesmo quando lhes é dado com amor e generosidade.
Parece que o ato de receber faz com que se sintam numa posição inferior, como se depender de alguém fosse algo indigno. Pensam: “se alguém está nos dando algo, é porque somos incompetentes para consegui-lo com o próprio esforço”. Ou então: “A pessoa que me dá agora, um dia irá cobrar com juros”. Ou ainda, o que é pior: “Eu não mereço o bem que me querem fazer”.
Por que agimos assim?
Porque nos custa entender que este universo é feito de dois movimentos. O primeiro é a expansão, rigor, disciplina, conquista; o segundo é a concentração, meditação, entrega.
Basta olhar o nosso coração (e não é a toa que o coração sempre foi identificado como o símbolo da vida) para compreender que são estas duas energias que o fazem bater, contrair-se e expandir-se no mesmo ritmo.
As muitas estrelas do céu estão emitindo luz, mas ao mesmo tempo estão sugando tudo a sua volta, naquilo que é conhecido pelos físicos como força de gravidade.
Assim, os atos de dar e de receber, embora sejam aparentemente opostos, fazem parte do mesmo e contínuo movimento.
Não é melhor quem dá com generosidade, nem é pior quem recebe com alegria. O amor é, justamente, fruto destas duas coisas.
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