segunda-feira, março 01, 2010

Saiba como entrar na Academia de Hollywood e como é a escolha do Oscar de melhor filme

iG São Paulo

O Oscar pode aparentemente ser só glamour e emoção, mas por trás da festa, política e matemática têm muito mais importância do que beleza e um figurino de alta costura. Nesta edição, quando o prêmio volta a ter 10 indicados a melhor filme depois de quase 60 anos, os números falam ainda mais alto para definir os vencedores.

Antes, no entanto, é preciso entender quem faz parte desse time da Academia de Hollywood. Formado atualmente por cerca de 6 mil membros, o órgão é um clube de "notáveis" e não tem tanto peso corporativo (para isso servem os sindicatos). Ele é dividido em 15 setores, de acordo com cada área da indústria cinematográfica, como, por exemplo, atores, diretores, documentaristas e técnicos de efeitos especiais. Não é possível ser sócio de mais de um setor – se o sujeito é ao mesmo tempo ator, diretor e roteirista, será escolhido para participar de apenas um desses times particulares.

Ser indicado a um Oscar ajuda muito, mas não é garantia de filiação. Para entrar na Academia, o primeiro passo é ter uma boa relação com os colegas. Isso porque o processo de seleção é sempre o mesmo: o candidato precisa ter dois "padrinhos" em sua área, que defendam seu nome e o apresentem à diretoria do setor.

Se apoiada, a candidatura vai adiante e é avaliada pelo Conselho da Academia, uma espécie de Senado formado pela presidência – encabeçada atualmente pelo executivo Tom Sherak e seu vice, o astro Tom Hanks – e por representantes eleitos. Esse pequeno grupo (menos de 10% do total de associados) avalia se o candidato representa os "altos padrões" da Academia ou tem uma contribuição substancial ao cinema. Se for o caso, parabéns, o convite chega às mãos do felizardo (que talvez nem estivesse a par desse processo todo), assim como a cobrança da anuidade de 250 dólares.

E aí começa a matemática. No final de dezembro, cada associado envia uma lista de cinco concorrentes, em ordem de preferência, de sua área de atuação: roteiristas votam em roteiro, atores nos prêmios de interpretação, maquiadores em maquiagem e assim por diante. Todos os associados, no entanto, informam seus preferidos a melhor filme. A partir disso, chega-se à lista final de indicados que disputam a estatueta – a exceção fica por conta de melhor filme estrangeiro e longa-metragem de animação, selecionados por comitês específicos.

Na hora de escolher os vencedores, dois meses depois, os membros votam em todas as categorias, apesar de nenhuma delas ser obrigatória – a princípio, é possível deixar algumas em branco, embora dificilmente alguém deixe isso passar. Assim, um maquiador pode opinar em outros prêmios técnicos, como edição e direção de fotografia, além dos principais. Em apenas cinco categorias é preciso comprovar ter visto todos os concorrentes: curta-metragem e curta de animação, documentário em longa e curta-metragem e filme estrangeiro.

A grande mudança em 2010, com dez finalistas ao Oscar de melhor filme, é que, ao invés de apenas marcar um "X" em seu favorito, o votante terá que numerar de 1 a 10 todos os indicados, por ordem de preferência, começando por seu filme predileto (1) e terminando com aquele que menos gostou (10).

De acordo com o cronograma disponível no site oficial da Academia, as últimas cédulas foram enviadas aos eleitores no dia 10 de fevereiro e serão recebidas até 02 de março. Tudo é feito de forma manual, tanto o voto dos membros quanto a apuração: a Academia decidiu continuar abrindo mão da tecnologia para garantir que os resultados finais estejam ao alcance de poucos.

Sistema preferencial: o quebra-cabeças

Até o ano passado, ganhava o Oscar o indicado com o maior número de votos. Isso continua valendo em 2010 para todas as categorias, exceto para o prêmio mais importante da noite, o de melhor filme. Com dez candidatos no páreo, a Academia achava arriscado que uma produção com apenas 11% de apoio pudesse, apesar de bastante improvável, ganhar a estatueta. Assim, a PricewaterhouseCoopers, empresa responsável pela auditoria do prêmio, vai adotar, pela primeira vez desde 1945, o mesmo procedimento utilizado para definir os finalistas: o sistema de preferências.

Grosso modo, funciona da seguinte forma: na apuração, a empresa monta dez pilhas de votos, separando-as de acordo com os filmes que tiveram a nota máxima, ou seja, uma pilha para as cédulas com "Avatar" na primeira posição, outra com "Guerra ao Terror", outra com "Amor Sem Escalas", até todas estarem divididas.

O próximo passo é eliminar a pilha com o menor número de cédulas, redistribuindo os votos a partir do filme na segunda posição em cada uma delas. Caso um filme que tenha sido descartado esteja na segunda posição, usa-se a terceira, e assim por diante. Esse procedimento se repete até que a pilha de um dos filmes tenha 51% do total de cédulas recebidas (neste ano, 5.777 foram enviadas pelos correios), que será o ganhador.

Pode parecer complexo, mas o sistema preferencial é utilizado atualmente nas eleições municipais de algumas cidades dos Estados Unidos e de forma geral na Austrália. Muita gente defende sua efetividade, em especial os auditores da PricewaterhouseCoopers, que zelou pela segurança do Oscar em 76 de seus 82 anos.

"Quando há 10 concorrentes para um prêmio específico, a vantagem do sistema preferencial é que ele realmente mede a profundidade do apoio entre os todos votantes", disse o auditor Rick Rosas à Associated Press. "A chave é sempre ter o maior número de votos na primeira posição, porque isso dá uma probabilidade maior de vitória. Os votos em segundo ou terceiro lugar podem nunca vir à tona, dependendo de quem ficou em primeiro."

Rosas e seu colega Brad Oltmanns são, segundo a Academia, as duas únicas pessoas que sabem os ganhadores das 24 categorias do Oscar. Tanto que, ao longo da cerimônia de entrega do prêmio, os dois ficam de pé, nos bastidores, esperando o momento em que os apresentadores adentram no palco para entregar a eles os envelopes com os resultados. Três longas horas e daí sim, a matemática sai de cena para virar... história.

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