"Tivesse" ou "estivesse"?
"‘Aquilo me deixou bem apavorada. Era como se ele tivesse voltando dos mortos’, diz ela."
Na fala corriqueira, é muito comum que se anule a diferença entre as formas “tivesse” e “estivesse”, esta última, com a sílaba inicial suprimida, reduzida à primeira. Ocorre que, no discurso escrito, em que se privilegia a norma culta, é preciso assinalar a distinção entre elas – afinal, uma pertence ao verbo “estar”, e outra, ao verbo “ter”.
O leitor poderá, a título de teste, observar à sua volta, durante um dia, quantas vezes as pessoas dizem “tivesse” ou “tivessem” no lugar de “estivesse” ou “estivessem”: “Se eu tivesse lá, eu teria dito...”, “Se vocês tivessem aqui, vocês saberiam...”. Uma dica: se, depois do verbo, vier um termo que indique lugar, use “estivesse” ou “estivessem” – afinal, alguém pode estar em algum lugar, mas não ter em algum lugar...
O problema também se verifica no futuro do subjuntivo, quando “estiver” vira “tiver”. Na letra de um antigo e conhecido samba de Luiz Américo, encontramos os seguintes versos: “Quando eu tiver / Com a minha cuca cheia de cachaça/ Te arranco dessa roda, te ganho na raça/ Te levo pra ser dona do meu barracão”. Os versos, que reproduzem a fala popular, confirmam essa tendência a confundir “ter” com “estar” no modo subjuntivo.
Abaixo, a correção da frase em epígrafe:
"Aquilo me deixou bem apavorada. Era como se ele estivesse voltando dos mortos", diz ela.
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