"Lula, o filho do Brasil" estreia em todo o País em busca de sucesso
iG São Paulo
SÃO PAULO – Com uma estreia em larga escala nesta sexta-feira (01) em todo o território nacional, "Lula, o filho do Brasil" clama por sucesso. Filme mais caro da história do País – R$ 12 milhões, captados sem qualquer apoio ou incentivo governamental –, a produção chega a cerca de 500 salas querendo pegar carona em um ano de bilheterias fartas para o cinema brasileiro, engordadas por comédias como "Se Eu Fosse Você 2" e "Divã".
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Estreia na virada do ano é tentativa de repetir o sucesso de "Se Eu Fosse Você 2" |
A escolha para estreia na virada do ano não é à toa: "Se Eu Fosse Você 2" entrou em cartaz no primeiro dia de 2009 e bateu tanto o recorde de melhor abertura para uma produção nacional como o de maior bilheteria da Retomada. Além disso, janeiro vem nos últimos anos se firmando, ao lado do mês de agosto, como o período mais rentável para os longas brasileiros.
A divulgação do filme, porém, sofreu um baque: há pouco mais de uma semana, o diretor Fábio Barreto foi vítima de um sério acidente de carro no Rio de Janeiro e continua internado em estado grave. No início de dezembro, ele afirmou reiteradas vezes que não tinha intenção de fazer uma obra política e o objetivo era apenas produzir puro entretenimento, mesmo que – apesar de todas as negativas – o longa estreie justamente em ano eleitoral. "Acho que nas telas todo mundo vai esquecer disso", disse o cineasta.
Pois está aí algo difícil de acontecer. Por mais que a história seja bastante cinematográfica, como percebeu Denise Paraná – uma das responsáveis pelo roteiro e autora do livro que deu origem ao filme – logo em suas primeiras conversas com o presidente, o personagem condensado em pouco mais de duas horas não cativa o suficiente para fazer o espectador mergulhar na trama e superar as comparações com a figura histórica. O recorte entre 1945 e 1980, antes de Lula assumir a presidência, talvez tivesse justamente esse objetivo, mas o épico de "superação" de um brasileiro nunca chega a empolgar.
E não é por falta de tentativa. Lula nasceu em Caetés, no sertão pernambucano, já sem a presença do pai, vivido por Milhem Cortaz ("Tropa de Elite", "Encarnação do Demônio"), que se mudou para São Paulo com uma mulher mais nova. Para que o público antipatize com o vilão o mais rápido possível, ele é caracterizado como um maníaco que beija o cachorro, não os filhos, e é tão violento que baba ao vociferar ou tentar bater nas crianças. Sobra para a mãe, dona Lindu (Gloria Pires, excelente), assumir as rédeas da família e o protagonismo do filme.
A primeira parte é a que melhor convence. A viagem em pau-de-arara até Santos, a dura vida no litoral, a mudança para São Paulo, a matrícula no Senai de São Bernardo do Campo, tudo ganha ar nostálgico e emotivo, e o orçamento folgado fica evidente na trilha sonora de Antonio Pinto ("Cidade de Deus", "Central do Brasil"), na fotografia de Gustavo Hadba e na direção de arte caprichada de Clovis Bueno. As interpretações de Felipe Falanga e Guilherme Tortolio, respectivamente Lula criança e adolescente, fortalecem ainda mais esse quadro, que tem uma função clara – mostrar que as adversidades só estimularam o caráter rijo e a personalidade forte de Lula.
E então entram em cena as mulheres. Jovem metalúrgico, Lula se apaixona e casa com Lurdes (Cléo Pires), em uma história de amor breve, mas com cores de romance clássico. Lurdes morre no parto e Lula não sabe para onde vai. Antes de encontrar a viúva Marisa (Juliana Baroni), dona Lindu brilha mais uma vez. A matriarca é tratada como o pilar do filme, tentando mostrar que ela era a grande mulher por trás do grande homem. Gloria Pires faz o que pode, mas no fim a personagem é um poço de lugares comuns - "A rapadura é doce, mas não é mole não", "Vá devagar com o andor que o santo é de barro", é nisso que se resumem suas falas. O que seria uma homenagem à sabedoria popular do brasileiro fica ralo demais.
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Em performance elogiada, Gloria Pires interpreta dona Lindu, mãe de Lula |
Na fase adulta, o papel de Lula cai nas mãos do estreante Rui Ricardo Diaz, ator de teatro que conseguiu se salvar de uma interpretação caricata. Na tentativa de superar a morte da mulher, o torneiro mecânico mergulha na vida sindical, simplificação que ilustra bem o espírito do filme. Segundo Denise Paraná, a ideia era captar a alma de Lula, e para isso o roteiro tomou certas liberdades ao resumir pessoas e situações em passagens fictícias. Como disse Fábio Barreto, "a preocupação completa com a história real é assunto de um documentário". Sobra, então, o drama.
A questão é que Barreto está longe de ser um cineasta brilhante. Se chamou a atenção no início da carreira por "Índia, a filha do sol" (1984), sua primeira parceria com Gloria Pires, e conseguiu pôr no currículo uma indicação ao Oscar por "O Quatrilho" (1995), também cometeu equívocos flagrantes como "Bela Donna", "A Paixão de Jacobina" e "Nossa Senhora de Caravaggio". Em "Lula", fez seu trabalho mais maduro, o que não quer dizer muita coisa.
Falta ao filme de Fábio a simpatia e autenticidade de "Dois Filhos de Francisco", comparação que salta aos olhos a todo momento. Enquanto a ascensão da dupla sertaneja cativava o espectador, "Lula" patina ao tentar mostrar a força dos discursos nos sindicatos e o avanço de Lula como líder popular. Ambição demais e pouco arrebatamento, sem contar o final que se revela de certa forma frustrante.
O sucesso do longa-metragem no Brasil – a carreira comercial no exterior já está encaminhada – também é relacionado a "Dois Filhos do Francisco". O público de mais de 5 milhões de espectadores do primeiro só foi atingido graças ao boca a boca, que ajudou a romper o preconceito contra os sertanejos. O mesmo se espera no caso de "Lula", que, desta vez, conta com uma campanha de marketing massiva nos meios de comunicação (em parceria com a Rede Globo) e o apoio dos sindicatos. A sorte está lançada. Uma aposentadoria hiperbólica para o produtor Luiz Carlos Barreto, e é o melhor adjetivo que se pode usar.
Assista ao trailer de "Lula, o filho do Brasil":
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