Já pensou em largar tudo e se dedicar a um hobby ou paixão como forma de ganhar dinheiro? Isso não significa menos trabalho
Rona Economou era advogada em um grande escritório de Manhattan, onde ganhava um salário confortável e aproveitava a vida social da cidade, até que foi demitida em 2009, mais uma vítima da recessão americana. Primeiro, ela chorou. “Depois, caiu a ficha: era a chance de ir atrás de meus sonhos”, diz a nova-iorquina de 33 anos.
Seis meses depois, cheia de esperança, ela abriu o Boubouki, um quiosque grego no Essex Street Market, onde assa torta de espinafre e baklava todas as manhãs. Deveria ser seu Plano B: a chance de se entregar a uma paixão, ter uma vida mais saudável, diminuir o ritmo. Mas foi o contrário.
Seis vezes por semana, ela acorda às 5h30 (“mais cedo que a maioria dos advogados”) para começar a assar. No lugar de papelada, ela lida com sacos de dez quilos de farinha, se queima e, ocasionalmente, se corta. Às segundas, quando a loja está fechada, ela faz a contabilidade.
Seis vezes por semana, ela acorda às 5h30 (“mais cedo que a maioria dos advogados”) para começar a assar. No lugar de papelada, ela lida com sacos de dez quilos de farinha, se queima e, ocasionalmente, se corta. Às segundas, quando a loja está fechada, ela faz a contabilidade.
Foto: Evan Sung/The New York Times
A advogada Rona Economou se dedica agora à culinária grega. E trabalha mais do que antes
Tendência
O trabalho dos sonhos, no fim, é muito mais duro do que parece. Mas isso não impede escravos do escritório de sonhar. Nos últimos anos, uma onda de profissionais tem aproveitado a conjunção de um mercado de trabalho moribundo com um crescente entusiasmo por tudo que é artesanal e a ideia de que o trabalho precisa ter um sentido para cortar laços com as corporações e seguir segundas carreiras como chocolatiers, donos de pousadas e fazendeiros orgânicos.
Desde o início da recessão, mais americanos abriram negócios (565.000 por mês em 2010) do que em qualquer outro período dos últimos 15 anos, de acordo com a Kauffman Foundation.
Os atrativos são óbvios – liberdade e satisfação pessoal. Os “altos” podem ser muito altos. Mas virar seu próprio patrão tem “baixos” específicos: o tempo de aprendizado, a insegurança, exaustão física, crises emocionais. O trabalho dos sonhos é tão trabalho quanto sonho.
Expediente
Muitos se surpreendem com a carga horária. Foi o caso de Mary Lee Herrington, 32, que trabalhava em um escritório de advocacia em Londres. Há dois anos, largou o emprego que lhe custava 60 horas por semana – e pagava R$ 375 mil por ano. Seu objetivo era se reinventar como organizadora de casamento.
Muitos se surpreendem com a carga horária. Foi o caso de Mary Lee Herrington, 32, que trabalhava em um escritório de advocacia em Londres. Há dois anos, largou o emprego que lhe custava 60 horas por semana – e pagava R$ 375 mil por ano. Seu objetivo era se reinventar como organizadora de casamento.
Logo ela descobriu que não era um trabalho de horário comercial. Ela frequentemente ficava colada no computador até depois da meia-noite, fazendo planilhas e outras coisas. Quando a data de um casamento se aproximava, trabalhava 17 horas por dia.
Para sua primeira cliente, ela estava tão ansiosa que cobrou R$ 3.500 por um trabalho de cinco meses. Em outro casamento, seus clientes pediam tanto sua atenção que “quando dividi o que tinha cobrado pelo número de horas que eles consumiam, percebi que estava ganhando cerca de R$ 3,50 por hora”, diz. (Como advogada, ela ganhava R$ 675).
Quando você é o chefe, o expediente nunca termina de verdade.
Quando você é o chefe, o expediente nunca termina de verdade.
Foto: Nathaniel Brooks/The New York Times
Anne McInnis abriu um antiquário e joalheria, e teve dificuldade para se adaptar às incertezas do comércio
Faça o que eu digo
No ano passado, Jennifer Phelan, 27, deixou um emprego na área de marketing para se tornar professora particular de pilates. Ela sonhava com uma vida de “exercícios, dormindo bastante e escrevendo todos os dias sobre saúde e bem-estar”. Em vez disso, suas aulas começam as às seis da manhã, e ela chega ao final de seu expediente – que pode ser 14 horas depois – se sentindo destruída. “Eu ensino meus alunos a criarem tempo para eles mesmos e tratarem seus corpos como instrumentos vitais. Mas eu mesma tenho sorte se consigo fazer isso algumas vezes por mês”, diz.
Depois que Anne McInnis, 52, perdeu seu emprego como diretora de design têxtil da Martha Stewart Living Omnimedia, ela e seu marido decidiram abrir um antiquário e joalheria. Sem experiência como comerciante, ela teve dificuldades em se adaptar à incerteza. Em um dia comum, não havia como saber se 50 pessoas ou nenhuma entrariam pela porta.
Às vezes, manter o emprego dos sonhos significa arrumar um segundo emprego. Antes de Herrington se estabelecer como organizadora de casamentos, por exemplo, ela arrumou um trabalho de meio-período na London Business School.
Para algumas das pessoas que fazem essa mudança, os maiores desafios não são financeiros ou físicos, mas emocionais. O risco de isolamento é permanente sem colegas de trabalho. Não há chefes para segurar a onda nos momentos de crise, nem equipe para dividir as conquistas – ou culpar quando as coisas dão errado. E, como Beth Conroy descobriu, a rejeição parece mais pessoal.
Em abril, Conroy, 35, largou a área de relações públicas para se tornar acupunturista e abriu um consultório em Manhattan. Ela se preocupa sempre que um cliente não volta. Ele está curado? “Ou foi algo que eu fiz de errado”, questiona. “Há muita incerteza se eu deixar que vire um reflexo de mim”.
Pesadelo
Para alguns, os revezes inesperados podem ser tão traiçoeiros que eles não mais consideram seu plano B o trabalho dos sonhos – e sim um pesadelo. Essa foi uma dura lição para Anne-Laure Vibert, 31, que deixou um emprego em marketing em Nova York para se tornar uma chocolatier.
Há alguns anos, ela se mudou para Paris para aprender as técnicas, e passou a fantasiar um mundo de doces e glamour. Mas seu dia a dia era encurvada embrulhando chocolates, esfregando panelas, atendendo telefones e enviando entregas..
Depois de quatro meses, ela cansou e desistiu. Seu plano C? Voltar para Nova York e arrumar um novo emprego com seu antigo chefe.
Sucesso
Isso não significa que o sucesso é inalcançável. Martha Stewart, afinal, se tornou Martha Stewart como um plano B após deixar sua carreira como corretora da Bolsa. E, com exceção de Vibert, todos os entrevistados disseram que não trocariam a nova vida pelos antigos empregos.
“Não ando mais como uma corcunda meio depressiva”, diz Herrington, a organizadora de casamento, que agora tem um fluxo constante de trabalho e recebe elogios em publicações especializadas. “E não vejo mais tufos de cabelo caindo por causa de estresse”.
Para algumas das pessoas que fazem essa mudança, os maiores desafios não são financeiros ou físicos, mas emocionais. O risco de isolamento é permanente sem colegas de trabalho. Não há chefes para segurar a onda nos momentos de crise, nem equipe para dividir as conquistas – ou culpar quando as coisas dão errado. E, como Beth Conroy descobriu, a rejeição parece mais pessoal.
Em abril, Conroy, 35, largou a área de relações públicas para se tornar acupunturista e abriu um consultório em Manhattan. Ela se preocupa sempre que um cliente não volta. Ele está curado? “Ou foi algo que eu fiz de errado”, questiona. “Há muita incerteza se eu deixar que vire um reflexo de mim”.
Pesadelo
Para alguns, os revezes inesperados podem ser tão traiçoeiros que eles não mais consideram seu plano B o trabalho dos sonhos – e sim um pesadelo. Essa foi uma dura lição para Anne-Laure Vibert, 31, que deixou um emprego em marketing em Nova York para se tornar uma chocolatier.
Há alguns anos, ela se mudou para Paris para aprender as técnicas, e passou a fantasiar um mundo de doces e glamour. Mas seu dia a dia era encurvada embrulhando chocolates, esfregando panelas, atendendo telefones e enviando entregas..
Depois de quatro meses, ela cansou e desistiu. Seu plano C? Voltar para Nova York e arrumar um novo emprego com seu antigo chefe.
Sucesso
Isso não significa que o sucesso é inalcançável. Martha Stewart, afinal, se tornou Martha Stewart como um plano B após deixar sua carreira como corretora da Bolsa. E, com exceção de Vibert, todos os entrevistados disseram que não trocariam a nova vida pelos antigos empregos.
“Não ando mais como uma corcunda meio depressiva”, diz Herrington, a organizadora de casamento, que agora tem um fluxo constante de trabalho e recebe elogios em publicações especializadas. “E não vejo mais tufos de cabelo caindo por causa de estresse”.
Economou, a cozinheira grega, se diz espiritualmente transformada. “Adoro ser parte da vizinhança. Nunca percebi como você faz amizade com os clientes”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário