Me dê motivo!

Sarney conseguiu achar um motivo para dar seu aval ao Senado para que os servidores da Casa recorressem da decisão que limitava o teto de seus salários. Por Claudio Schamis

Prince cancelou o show que faria aqui no Brasil sem dar qualquer explicação. Mas também não estou nem aí para o motivo que o levou a tomar tal decisão. Não ia ao show mesmo.

Só que quem deu show e sem convidar ninguém (e sem dar motivos para nada) foi o ‘Prince do Senado’, José Sarney. Quem mais poderia ter sido? E disseram que foi um showzaço. Pelo menos todos os servidores gostaram. Não é que Sarney conseguiu achar algum motivo para dar o seu aval como presidente do Senado, para que eles lá recorressem ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, contra uma decisão tomada menos de dois meses antes, que limitava os salários dos servidores do Senado a terem o mesmo teto do funcionalismo público, ou seja, R$ 26.723,13. E num é que eles ganharam? Agora, sem teto, o céu é o limite.

Mas vão dizer que essa minha preocupação é besteira. É coisa de quem só sabe criticar o governo. Logo eu? Nem faço isso tanto (quanto talvez devesse). E na verdade estamos falando de apenas de R$ 157 milhões que teriam custado a mais aos cofres do governo em 2009 com o descumprimento dessa lei, sendo R$ 11 milhões só no Senado. Mas, vem cá, o que você faria com míseros R$ 157 milhões?

Tenho certeza de que vai aparecer algum engraçadinho por aqui para dizer que sou demagogo, sou isso, sou também aquilo outro e que nem deve ser bem assim, que, com certeza, para que eles estejam fazendo isso em plena safra de faxina iniciada pela presidente Dilma, deve haver algum motivo muito forte e que explicaria tudo isso sem nenhum problema.  Afinal, eles devem estar precisando muito.

Tim Maia diria para que lhe dessem motivos e que foi jogo sujo fazer isso logo agora. Mas, sujo por sujo, melhor se sujar com o bolso cheio, pelo menos o banho pode ser de água mineral Perrier e sabonete Dove edição especial.

Virou especialidade deles essas viradas de mesas. Até parece que é tudo de caso pensado. Eles acatam a decisão numa boa, e quando todos estão distraídos com os escândalos nos vários ministérios, eles vêm que nem rato e fazem a festa.

Festa devem estar fazendo eles em seus apês e sem o Latino. Mas regados a caviar, salmão, champanhe e ostras. “Ostras” coisas nem entram no cardápio.

Só é estranho fazer parte dessa festa quem é lá do Tribunal Regional Federal. Só pode ser. Como eles dão um parecer favorável a um absurdo desses? Propina? Já que está na moda agora, por que não levantar essa hipótese? Tá rolando até propina paga por clínicas para que pacientes sejam encaminhados aos seus centros de tratamento. Ou o quê? O que justifica isso?

Será a mesma coisa que justifica a sede do Instituto Educar e Crescer – apontado pela Controladoria Geral da União (CGU) como um dos acusados de ter participação no desvio de dinheiro e de ter recebido entre 2008 e 2009, R$ 8,8 milhões – só ter comprovado a aplicação de R$ 258 mil e ser hoje uma sala vazia? Me dê motivo, vai?

Também queria que me dessem motivo do silêncio constrangido do PT. Será vergonha? Será medo? Será o quê? Diz aí, vai. Ou pelo menos diz quem matou Salomão Hayalla! Porque o PT ficar irritado com o termo “herança maldita de Lula” quando se fala da faxina de Dilma, isso nem tem explicação.

Da mesma forma que Lula “sempre sorrindo” Inácio da Silva diz que a saída desses ministros deve ser encarada com naturalidade. Claro, é natural ver um ministro caindo após o outro. Lula agora é vegetariano? Para ficar nessa de tudo é natural?

Assim como é natural que cem por cento dos convênios no Turismo estejam irregulares. E que 7 mil caixas — eu falei 7 MIL — de remédios, a maioria com a validade vencida, tenham sido encontradas no sótão da sede da Secretária de Saúde de Teresópolis. Mas que susto. Pelo menos as caixas estavam em casa. Se não, distribuiriam os remédios para os postos de saúde que estão desabastecidos. E pra quê? Deixa mofar. Deixa morrer.

E por falar em morrer, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) informou que o número de jornalistas assassinados cresceu. Será que eu…

Melhor mudar de assunto, né? Alguém aí assistiu ao último capítulo de “Insensato Coração”? Pô logo a Vanda?

Sabia que o número de livros vendidos no país aumentou 13,12%? Não é nada, não é nada, é coisa pra caramba, ainda mais se levarmos em consideração que o censo pegou parte do governo Lula (novembro de 2010 e abril de 2011) e que este não era muito fã de livros. Que continue assim, para o alto e avante. Vai que, com as pessoas lendo mais, a nova geração nos surpreenda e mude um pouco o que estamos vendo agora. Se bem que, se o Lula fosse presidente, ainda ele diria que não estava vendo nada. Que tudo de ruim são fantasmas que só a oposição enxerga e que…E que o quê?

No mais é aquilo. Queiram-me bem!

Salvem as baleias. Não jogue lixo não chão. Não fume em ambiente fechado.