quinta-feira, agosto 25, 2011

O fim de Muammar Khadafi não justifica os meios

Podemos todos aplaudir a queda de Khadafi, mas não ignorar que o intervenção internacional foi equivocada. Do 'Guardian*

A ruína de um ditador é sempre bem-vinda. Especialmente bem-vinda é a queda do líbio Muammar Khadafi. Ele não era o pior da sua categoria, mas foi, durante 42 anos, beneficiário da intervenção ocidental mais crassa, desde as sanções ineficientes e o ostracismo até a “amizade” subserviente e ensopada em petróleo com o ex-primeiro-ministro inglês Tony Blair. Mais bem-vinda ainda seria uma queda claramente promovida pelo próprio povo líbio e não uma cortesia de exércitos ocidentais.

As preliminares da intervenção na Líbia têm sido típicas. A Inglaterra e a França afirmaram estar estabelecendo uma zona de exclusão aérea “para proteger Benghazi” de ataques putativos e logo se viram tomando partido em uma guerra civil. Isto logo se transformou numa operação de bombardeio com o fim de “proteger as vidas do povo líbio”, e logo numa alegação de que seria impossível executar este objetivo sem tirar o ditador do poder ou possivelmente assassiná-lo. Do mesmo modo tropas norte-americanas e inglesas foram ao Iraque meramente para “encontrar armas de destruição em massa”, e ao Afeganistão meramente para “eliminar bases da Al Qaeda”. Primeiramente não haveria forças da Otan em solo líbio, depois apenas forças especiais, depois uma miríade de aeronaves para apoiar as tropas de Benghazi – e agora fontes do setor de defesa inglês admitem que tropas podem ser necessárias para “ajudar a manter a ordem”.

Agora começa a parte difícil. Tornou-se um clichê afirmar que a Líbia “precisa aprender com as lições do Iraque”. Todas essas intervenções — Líbano, Somália, Iraque, Kosovo e Afeganistão – compartilham as características de ações preliminares de  longo-prazo, seguidas por clareza em combate, que de algum modo se perde numa ocupação caótica.

Conquistar os requisitos de um golpe não é o mesmo que assegurar o sucesso de uma revolução, muito menos de uma que aconteça de modo democrático.

Então os eventos desta semana justificam a intervenção britânica na Líbia? Não. E nem um eventual sucesso na Líbia justificaria um ataque à Síria, Iêmen, Bahrein ou ao Egito, caso as coisas azedem. A aventura Líbia, seus entusiastas observam, foi taticamente fácil, embora tenha levado cinco meses e custado à Inglaterra centenas de milhões de libras. A Líbia tem uma população pequena e é um país rico. Caso se torne um Estado petrolífero fantoche ao modo do Golfo, pode até ser governável como um entreposto de interesses ocidentais, mas se tornará o mesmo ímã de forças antiocidentais, como já foi o caso do Iraque e do Líbano.

*Texto traduzido e adaptado pelo Opinião e Notícia

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