A pretexto de render homenagens à memória de Tiradentes, o governo brasileiro levou à força o pescoço da Viúva.
A ditadura militar criou, em 1969 a ‘Bolsa Tiradentes’.
Destinava-se a brindar com aposentadorias vitalícias os “últimos três trinetos” do mártir da Independência.
Responsável pela restituição da memória da prebenda, o repórter Bernardo Mello Franco conta, na Folha:
Súbito, outros beneficiários foram brotando do nada.
Nas pegadas dos “últimos três” surgiram mais quatro descendentes de Tiradentes.
Comprovaram o parentesco e tornaram-se beneficiários da pensão –dois sob Sarney; uma sob FHC.
Decorridos 42 anos desde a instituição do mimo, uma ancestral do alferes continua apalpando a aposentadoria até hoje: a tetraneta Lúcia de Oliveira Menezes.
A despeito do baixo valor –dois salários mínimos—, o benefício desperta cobiça inaudita. Lúcia tem duas irmãs. Ambas cogitam requerer a pensão.
Não são as únicas. Descobriu-se que a árvore genealógica de Tiradentes é inacreditavelmente frondosa.
Lúcia avisa que tem algo como 200 parentes da mesma geração. “Tenho primo para tudo quanto é canto”, diz ela. “Eu acho que eles têm direito também”.
Lucia receia que, além da parentela genuína, aproveitadores tentem tirar proveito da valiosa memória do mártir:
“Tem gente que gosta de se aproveitar, né? Mas eu acho difícil. A Justiça é lenta, mas não é injusta”.
Vem de longe, como se vê, a cultura do privilégio que converteu o Brasil em empreendimento unifamiliar. Os ex-governadores “vitalícios” apenas aperfeiçoaram a técnica.
Quanto ao barulhinho que você ouve ao fundo, não se preocupe. É apenas o ruído dos pedaços de Tiradentes revirando na cova.
Fonte: Blog do Robson Pires
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