segunda-feira, outubro 11, 2010

Como surgiu a santa padroeira do Brasil

A fé no Brasil
Católicos 64%
Evangélicos pentecostais 17%
Evangélicos não-pentecostais 5%
Espíritas kardecistas ou espiritualistas 3%
Umbandistas 1%
Outras religiões 3%
Sem religião ou ateus 7%
Fonte: Datafolha 2007
Ela foi encontrada sem cabeça. Ficou em cacos depois de um atentado. E teve até uma réplica chutada por um bispo evangélico durante transmissão ao vivo pela televisão. Mas nenhum desses fatos conseguiu tirar da Nossa Senhora da Conceição Aparecida o título de preferida dos brasileiros. Em uma pesquisa do Datafolha divulgada em maio de 2007, a santa foi citada espontaneamente por 18% dos entrevistados, perdendo apenas para São Francisco de Assis. O que explica tamanha predileção? Para os menos religiosos, apenas mais um dia de descanso, já que 12 de outubro, dia oficial da santa, padroeira do Brasil, é feriado nacional. Para os católicos, a predileção pela santa está nos milagres que ela opera desde a primeira aparição, quase três séculos atrás, quando abarrotou de peixes as redes e a canoa de uma família de pescadores pobres, apagou e acendeu velas misteriosamente e libertou escravos. Hoje, a padroeira do país mais católico do mundo atrai ao longo de um ano mais de 7 milhões de romeiros e devotos à cidade de Aparecida do Norte, no Vale do Paraíba, onde encontra-se seu santuário. Mas como a santa ficou tão famosa e como ela virou padroeira do Brasil? 

História
No dia 16 de outubro de 1717, pescadores da vila de Guaratinguetá, na antiga Capitania de São Vicente, colocaram suas canoas no velho rio Paraíba com a finalidade de garantir o prato principal do banquete que seria servido no dia seguinte ao novo governador, o conde de Assumar. Depois de passarem o dia puxando para os barcos redes vazias, os pescadores foram desistindo um a um, restando apenas uma canoa com Domingos Alves Garcia, seu filho, João Alves, e seu cunhado, Felipe Cardoso. Os três resolveram tentar mais um pouco e, numa das redes recolheram uma pequena imagem sem cabeça. Jogaram a rede novamente, e trouxeram o que restava da estatueta. Os pescadores embrulharam as duas peças cuidadosamente e decidiram jogar uma última rede. Desta vez, recolheram muitos peixes. E continuaram a pescaria até o barco quase afundar. Os três pescadores voltaram para suas casas com a imagem e os bolsos cheios pela venda dos peixes.

A padroeira


estátua de nossa sra aparecida
A estátua de Nossa
Senhora Aparecida,
com a coroa dada pela
princesa Isabel
A imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida pesa 2,765 kg e mede 39 cm com o pedestal de prata. É feita de terracota, material que adquiriu uma cor castanho-dourada depois de ficar anos no leito do rio. Como um dos primeiros milagres da Nossa Senhora Aparecida foi a libertação de um escravo acorrentado, a cor da estátua passou a ser interpretada como um vínculo simbólico da mistura racial brasileira. Pela análise do material original e do estilo de modelagem, especialistas acreditam que a estátua é seiscentista, oriunda de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, onde vivia o monge beneditino e escultor Frei Agostinho de Jesus. A autoria, no entanto, não foi confirmada.

A estátua da Nossa Senhora “Aparecida” foi colada com cera e colocada num altar de família, em agradecimento ao milagre dos peixes. Durante os 28 anos seguintes, a imagem da santa peregrinou por várias casas da família. Virou referência para outros moradores da Vila, que acorriam à casa do pescador e de seus familiares sempre que queriam pedir algo para a santa ou pagar uma promessa. Em 1745, a imagem foi levada ao altar de uma igreja construída no alto do Morro dos Coqueiros, conhecida hoje como Basílica Velha. Ali ela atraiu milhares de fiéis de todo o país, incluindo a princesa Isabel, que em 1888, durante sua segunda visita à basílica, deixou como ex-voto a coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis que cobre a cabeça da santa até hoje.
A fama de milagreira de Nossa Senhora da Conceição Aparecida tirou de São Pedro de Alcântara o título de padroeiro do Brasil. O santo havia sido escolhido pelo então imperador D. Pedro I, que tinha o nome do santo, devoção por ele e que afirmava não poder reger os negócios da coroa sem a ajuda celeste. A pedido do imperador, o santo foi confirmado no posto pelo papa Leão XII. Mas como o santo era praticamente desconhecido, Aparecida ganhava notoriedade e a República precisava de um novo símbolo, o papa Pio XI, em 16 de julho de 1930, declarou-a como padroeira do Brasil. Em 31 de maio do ano seguinte, o então presidente do país Getúlio Vargas declarou oficialmente a imagem de barro da Conceição Aparecida padroeira do Brasil.
O título de padroeira deu à santa mais fama ainda. Milhares de peregrinos, fiéis, curiosos, religiosos de todo o país passaram a visitar a Basílica Velha, que ficou pequena demais para abrigar os visitantes e os votos deixados pelos pagadores de promessa. Foi construído então um novo templo, no Morro das Pitas, batizado de Catedral-Basílica de Aparecida e consagrado pelo papa João Paulo II, em visita ao local em 1980, mesmo ano em que o dia 12 de outubro foi decretado feriado. Dois anos depois, a imagem da santa foi levada para lá em definitivo. O Santuário Nacional de Aparecida, como é chamado o complexo, só perde em tamanho para a Basílica de São Pedro, no Vaticano. O edifício principal, em forma de cruz grega, tem 173 m de comprimento e 168m de largura. As naves têm 40 m e a cúpula, 70 m de altura. Ali cabem 45 mil pessoas. O estacionamento do complexo tem 272 mil m2 e abriga 4 mil ônibus e 6 mil carros.
basílicas
Fotos: CDM - Santuário Nacional de Aparecida
A Basílica Velha (à esq.), no Morro dos Coqueiros, e o complexo da
Basílica Nova (à dir.), no Vale do Paraíba

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