domingo, abril 01, 2012

A experiência dos editores


Jorge Viveiros de Castro, Martha Ribas e Marcos da Veiga Pereira contam histórias e estratégias de suas editoras em um curso sobre mercado editorial


Se pensarmos de forma simplificada, até um livro chegar na mão dos leitores ele passa por várias etapas: é escrito, revisado, ganha capa e ilustrações, é impresso e chega às livrarias com uma série de estratégias de marketing que podem ajudar em sua venda. Por trás de todas estas delicadas escolhas, está o olhar atento dos editores, determinante para que um título dê certo ou fique esquecido em um canto de prateleira na livraria ou, pior, encalhado em um depósito. Mas será que os editores são mesmo determinantes nesse processo? A provocação sobre o papel dos editores e outras questões sobre o tão discutido futuro do livro serão colocadas em pauta por Marcos da Veiga Pereira, da Sextante; Jorge Viveiros de Castro, da 7Letras e Martha Ribas, da Casa da Palavra,  no curso "Mercado editorial: experiências de sucesso e novas oportunidades", a partir de segunda-feira, no Polo de Pensamento Contemporâneo ( Rua Conde Afonso Celso 103). Além da troca de experiências, os editores vão comentar novidades como a abertura de um "showroom" da 7Letras em Ipanema e o lançamento do selo Fantasy-Casa da Palavra.

A história de Marcos Pereira, editor da Sextante e que dará a primeira aula do curso no dia 2, se confunde com a dos negócios da família - ele é neto de José Olympio, fundador da editora que ainda leva seu nome,  e filho de Geraldo Jordão Pereira, que criou a Salamandra, em 1981, hoje pertencente à Moderna. Para ele, a função quase curatorial do trabalho do editor não está sumindo, apenas passando por  mudanças, assim como a relação das pessoas com a leitura, com a forma de comprar livros.

- Futurologia não dá para fazer. Essa questão do futuro da indústria editorial versus o futuro do livro é incerta, mas gosto de pensar o seguinte: antigamente havia apenas o comércio de livros físicos, havia uma preocupação com a edição, com a capa. Agora e no futuro ele será apenas um download em um tablet, no Kindle, e a função do editor entra em cheque. Mas editor é só um cara que vai pegar o dinheiro, imprimir o livro, vai trabalhar na distribuição, ou seja, vai virar um sócio? Ou o editor é alguem que tem uma sensibilidade em relação ao texto, em relação ao mercado, interfere e ajuda o autor a construir o projeto dele? - questiona Pereira.
A Sextante  sempre teve uma atuação forte no setor de livros de autoajuda, mantém desde 2007 uma parceria com a Íntrinseca e lançou, em 2011, o selo Primeiro Pessoa, dedicado a obras de não ficção com ênfase em biografias. A editora está na lista dos mais vendidos com um livro sobre o empresário Eike Batista, e se prepara para lançar ainda este ano uma biografia do lutador Anderson Silva.

A criação de selos tem sido uma forma de se expandir não só nas prateleiras e para outros públicos, uma forma de chegar a nichos editoriais que vem ganhando cada vez mais espaço no mercado, como os livros de fantasia. A Casa da Palavra, fundada há 15 anos, se consolidou com um perfil editorial voltado para publicações e guias sobre a cultura brasileira e particularmente a carioca. No entanto, de acordo com a editora Martha Ribas, se reinventar faz parte da dinâmica do mercado e a Casa, associado ao grupo português Leya desde o ano passado, também está lançando um selo, o Fantasy- Casa da Palavra.  O primeiro título será "John Carter: entre dois mundos", de Stuart Moore, baseado na obra de Edgard Burroughs. A crise de identidade editorial passou longe de Martha.

- Eu pensava que os livros tinham que se relacionar um com o outro, que tinham que construir uma teia de aranha, mas acabava esquecendo que poderia lançar boas histórias que o público quer ler - conta Martha. - É um novo mundo novo que estou adentrando com alegria, me divertindo, conhecendo o público, aprendendo como eu vou divulgar. Estou começando a entender os estilos dentro de fantasia, que tem subgêneros como a fantasia urbana, elfos, fadas, bruxas. É um gênero que eu não lançava, não lia e que estou me divertindo e vibrando em conhecer. É uma área que eu até via com preconceito. E o mercado em si está muito competitivo, está todo mundo em cima dos livros de fantasia, com olheiro para achar os títulos.


Expectativa para a vinda da Amazon
Para acompanhar o crescimento do mercado, a criação de selos e a junção de grupos parece não ser suficiente. Um dos temas que será abordado no curso é a experiência com livros digitais e a chegada ao Brasil, prevista para o segundo semestre, da loja virtual Amazon, maior empresa de comércio eletrônico do mundo e criadora do leitor digital Kindle (especula-se que o dispositivo seja vendido no Brasil por R$200 em média). O assunto também cria expectativas entre os editores que, ainda com um pé atrás e outro adiante, levantam hipóteses cautelosas sobre como o Brasil reagirá. O editor da 7Letras e escritor Jorge Viveiros de Castro, que começou publicando poesias, revistas literárias e expandiu para livros acadêmicos, é otimista em relação à chegada da Amazon.

- O Brasil está começando a produzir, mas o resultado é quase nulo ainda. Acho que tem o problema do preço, tem a competição com o próprio livro físico e, na verdade, não existe o mercado do livro digital no Brasil, há alguns que vendem, alguns poucos outros que compram. Ainda está para chegar, não chegou -  observa Viveiros de Castro, que faz um trabalho quase marginal ao mercado e começou a disponibilizar livros digitais do catálogo da editora no ano passado. - Os tablets custam caro e para produzir e criar os mecanismos comerciais de funcionamento desse produto ainda é muito obscuro, ainda está no berço no Brasil, mas eu não vejo com medo, não acho que seja o fim do livro. É um espaço a mais para as publicações.
O editor no momento diz estar "em obras" porque se prepara para abrir um "showroom"  que vai reunir, em Ipanema, livros da 7Letras e também de outras editoras.  A previsão de abertura será em abril e Viveiros de Castro promete revelar mais  detalhes no curso, onde dará aula no dia 9.
Em relação à vinda da gigante Amazon para o Brasil, Pereira ressalta as diferenças entre os mercados editorais do Brasil e dos Estados Unidos e diz que no futuro, quando os livros digitais tiverem realmente expressão no mercado editorial do país, os preços terão que ser revistos:
- O modelo que foi criado nos Estados Unidos parece muito complicado para a indústria brasileira, há uma disputa muito clara entre os canais de venda, como a Amazon, por exemplo, e os editores, sobre quem é que determina as condições no mercado. Quando passarmos por uma transição total,  se ela acontecer, entre o livro físico e o livro digital, talvez essa questão do preço seja completamente revista. O grande desafio dos mercados editoriais em Espanha, Alemanha, Brasil, Itália é criar um modelo de livro digital que preserve a indústria como um todo, a individualidade do autor e o trabalho do editor.

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