Procuradora de Justiça é acusada de maus tratos

A denúncia é contra uma menina de dois anos que ela tentava adotar, no Rio. A procuradora estava habilitada pelo Cadastro Nacional de Adoção e tinha a guarda provisória da criança.

Beatriz Thielmann Rio de Janeiro

Uma procuradora de Justiça aposentada é investigada por uma denúncia de maus tratos contra uma menina de dois anos, que ela tentava adotar, no Rio. A procuradora estava habilitada pelo Cadastro Nacional de Adoção e tinha a guarda provisória da criança.

Mas um telefonema anônimo chamou a atenção dos funcionários da central que recebe denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Uma ex-empregada e uma ex-babá são testemunhas do caso. E a polícia vai analisar gravações de áudio, que são de uma violência chocante.

- Maluca! Engole!
- Essa menina é doida!
- Engole...

A gravação teria sido feita num apartamento de um prédio em Ipanema, na zona sul do Rio. O mais assustador é que a vitima tem apenas dois anos de idade.

- Você vai comer tudo, entendeu? Sua vaquinha!
- Pode chorar quanto quiser e vai comer.
- Sua vaca!

As falas seriam da mãe adotiva Vera Lucia Gomes, uma procuradora aposentada. A criança passou a morar com ela há pouco mais de um mês.

- Abre a boca, sua cachorra!
- Abre a boca.
- Sua cachorra!
- Bota pra dentro.
- Engole isso.

A ex-babá e a ex-empregada contaram ao repórter Valmir Salaro que Vera agredia e humilhava a menina com frequência. “Ela acordava de manhã com a garota, ela dava bom dia pra menina e ela não respondia, isso já era motivo para ela bater na menina. Ela batia no rosto e puxava os cabelos”, conta.

As ex-empregadas disseram que não chamaram a polícia porque tinham medo da patroa. Os maus tratos só foram descobertos por causa de uma denúncia anônima.

Segundo um conselheiro tutelar a criança foi encontrada ferida no chão do terraço do apartamento. Passou três dias internada num hospital.

Quando procurada, ela foi irônica:

“Meu senhor... Sem, sem resposta...”.
JH: Tem uma acusação e uma queixa na delegacia.
“Meu senhor, dane-se, azar. Que tenha vinte”.

Novamente nossa reportagem tentou encontrar a procuradora aposentada, Vera Lucia Gomes, no prédio onde mora. E novamente ela se negou a nos receber, mas atendeu o interfone.

“Eu constituí "como" advogado por esta acusação que está me sendo feita, e ele me proibiu de dar entrevista. Senão, eu teria muito prazer em recebê-la, que eu não devo nada. Isso tudo é uma pantomima, mas ele me proibiu”, diz.

Segundo o advogado, Vera Lucia tem 53 anos, é solteira e pela primeira vez tentava adotar uma criança. “Eu a conheço há muitos anos, sei que ela tem um temperamento muito forte, mas não chega as raias da agressividade. Ela nega esta acusação”, declara Jair Leite Pereira, advogado.

A polícia já está com as fotos que mostrariam o rosto machucado da menina. A delegada que investiga o caso informou que vai analisar os áudios com as supostas agressões, assim como um relatório feito pelo Conselho Tutelar sobre o caso.

A menina já está de volta ao abrigo, de onde saiu no mês passado para ter uma família e encontrou humilhação e dor. Agora o que ela precisa é de uma terapia para tentar se recuperar e ter uma nova chance.

A secretaria de direitos humanos da presidência da república recebe oitenta denúncias de violência contra crianças e adolescentes por dia

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Saiba como funciona o Conselho Tutelar

A função do Conselho Tutelar é ter um encargo social para fiscalizar se a família, a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público estão assegurando com absoluta prioridade a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes, cobrando de todos que cumpram o Estatuto e a Constituição Federal.

O órgão não deve ser considerado um pronto-socorro. Ele só deve agir, e se necessário for, após a família, comunidade, sociedade e o Poder Público cumprirem com seus deveres. Somente diante da omissão de algum dos devedores, ou se negado o direito a ser protegido, é que o Conselho Tutelar utilizará seu poder de obrigação e advertência aos pais ou responsável.

Fonte: http://www.forumdca-poa.org.br/crdeca/CONSELHO%20TUTELAR.htm

Para denunciar maus tratos contra crianças e adolescentes acesse o site do Ministério da Justiça e procure o Conselho Tutelar mais próximo da sua cidade.

Fonte: G1