domingo, abril 04, 2010

Sou um velho repórter são-paulino, como sabem os leitores deste Balaio, mas isto não me impediu de abrir espaço aqui para falar da beleza de futebol que a molecada do Santos vem jogando este ano. É, de longe, o melhor time do Brasil hoje, na minha modesta opinião de torcedor _ e não só pelo caminhão de belos gols que marca a cada jogo, assim como por ter devolvido a alegre irreverência ao nosso futebol burocratizado.

Fora de campo, porém, os meninos pisaram na bola, deram um baita vexame esta semana. Levados pela diretoria para visitar o Lar Espírita Mensageiros da Luz, em Santos, que cuida de crianças e adolescentes com paralisia cerebral, alguns se recusaram a descer do ônibus _ entre eles, as grandes estrelas Robinho, Neymar e Ganso. Outros cinco jogadores (Fábio Costa, Durval, Léo, Marquinhos e André) ficaram no ônibus.

Quem nos revelou esta revoltante atitude dos jovens ídolos santistas foi o repórter-fotográfico Ricardo Nogueira, da Folha. Não podia acreditar no que li: “O aparente motivo do levante foi religioso: a instituição beneficente segue a doutrina espírita”.

À parte o fato de que eles nem devem saber do que se trata, os jogadores tinham todo o direito de recusar o pedido da diretoria, pois eles ganham para jogar futebol e não para participar de ações beneficentes. O que não dá para entender é porque foram até a entidade e depois ficaram emburrados dentro do ônibus, esperando a volta dos seus colegas que fizeram a doação de 600 ovos de Páscoa doados à entidade por um patrocinador do clube.

“Acho normal cada um fazer o que bem entender. Eu não conhecia a casa, mas o Santos tem que provar que não é apenas um time de futebol”, disse o constrangido presidente do clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, depois de sua fracassada tentativa de fazer a turma descer do ônibus.

Ficou pior ainda. Se cada um pode fazer o que bem entender, os jogadores poderiam simplesmente ter ficado na Vila Belmiro. E quem disse que o Santos tem que provar que não é apenas um time de futebol? Provar para quem?

Desse jeito, é melhor que os atletas se limitem a fazer o que sabem, e o fazem tão bem, e o Santos seja apenas um time de futebol. A não ser que antes da sua próxima iniciativa fora de campo, por melhor que seja a boa intenção, a diretoria ofereça um curso intensivo de cidadania ao seu elenco.

Autor: Ricardo Kotscho

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