terça-feira, abril 13, 2010

Escolas públicas da Bahia são orientadas a proibir o uso de pulseiras do sexo

São pedaços de silicone em forma de pulseira, mas no braço de estudantes viram um perigoso arco-íris. Os acessórios da moda deixaram de ser inocentes penduricalhos. Se rompidos, abrem caminho para uma tabela de obrigações, que vai desde o beijo até o sexo escatológico (no qual o parceiro passa fezes no outro) a depender da cor.

O uso das pulseirinhas do sexo é apontado pela polícia como motivador do assassinato de duas adolescentes em Manaus (AM) e do estupro de outra em Londrina (PR). Em função desses casos de violência, a Secretaria da Educação da Bahia orientou todas as escolas do estado a proibir o uso das pulseirinhas, segundo informou a assessoria de comunicação do órgão.


Alunas de colégio do Centro de Salvador dizem usar a
pulseirinha apenas por moda

Já na rede particular, segundo o presidente do sindicato das instituições de ensino da Bahia, Natálio Dantas, na próxima semana será feita uma reunião para discutir a orientação sobre o uso do acessório.

Evolução
Foi-se o tempo em que a brincadeira de criança era aquela da salada mista, onde o ponto máximo era um selinho na boca. Nos pátios dos colégios de Salvador, os grupos de adolescentes são reconhecidos pelo uso das pulseirinhas. “Quem não usa está fora do grupo”, conta a estudante A.L., 15, que cursa o ensino médio no Colégio Estadual Manoel Devoto.

Com a repercussão dos casos de agressão pelo país, as pulseirinhas lisas não são mais encontradas com facilidade. No Centro, apenas um vendedor ambulante comercializa o produto (R$ 0,10/cada). Agora, os adolescentes passaram a usar os objetos em forma de espiral (R$ 0,50/cada). “Quando pararam de vender a lisa, comprei essa em espiral e uso na mesma intenção”, revela a estudante S.G., 14 anos, também do Colégio Manoel Devoto.

A estudante revela que começou a usar as pulseiras por medo de ser excluída do grupo. “Não deixo quebrarem as minhas [pretas]. Se algum menino vier me atacar, bato nele. Uso só pela brincadeira do grupo. Devo ter umas 50”.


Estudantes usam pulseiras para se integrar, dizem psicólogos

Proibição
Mesmo antes da orientação da SEC de proibir o uso das pulseirinhas nas 1.544 escolas do estado, os quase 1,8 mil alunos do Colégio Estadual Presciliano Silva, na Ribeira, já estão proibidos de usar os acessórios. “Pesquisamos o significado das cores e passamos a orientar nossos alunos em palestras. Como não houve resultado significativo, chamamos os pais e contamos o que cada pulseira significava. Daí, passamos a proibir”, conta a vice- diretora, Viviane Bandeira.

A educadora ressalta que a decisão de proibir tem a intenção de preservar a integridade dos alunos dentro e fora da escola. “Os pais ficaram assustados em saber o que cada pulseira significava. Fizemos conversas com todos para proibir e evitar problemas”. Bandeira ressalta que muitos alunos respeitam a proibição na escola, mas continuam a usar os objetos na rua.

Segundo a assessoria da SEC, as escolas estão orientadas a seguir o exemplo da Presciliano Silva em conversar com os alunos e pais para negociar a proibição do uso. O representante das escolas particulares ressalta que a proibição deve ser feita de forma sutil. “Temos que começar pela orientação pedagógica, pois sabemos que os adolescentes tendem a não aceitar imposições”, ressalta Dantas que representa 450 escolas da Bahia.

Medo
Assustados com a violência envolvendo o uso das pulseiras, muitos pais já proibiram as filhas de usar os acessórios. Foi o caso da estudante B.C., 14, moradora de Luís Anselmo. “Meus pais não me deixaram mais usar, porque estão com medo de acontecer alguma coisa comigo”, conta a menina, que, para não deixar de fazer parte do grupo, camufla as pulseiras do sexo entre outras feitas com materiais diversos.

Não são apenas as meninas que usam as pulseirinhas. O estudante I.A., 16, residente no Cabula, conta que só usa a pulseira por moda. “Nunca ninguém quebrou ou quebrei de outra pessoa. Só uso porque está na moda”. O mesmo não acontece com o estudante G.D., 17, do Colégio Central. “Lasco um monte de pulseira das meninas e faço elas pagarem a prenda. Já consegui quebrar umas cinco pretas e ganhei o prêmio”, contou o adolescente, que mora na Liberdade e cursa o 2º ano.

Veja o significado de cada cor

AMARELA - Abraço no rapaz

LARANJA - Mordida carinhosa

ROXA - Beijo com língua

COR-DE-ROSA - Menina mostra o peito

VERMELHA - Dança erótica a curta distância

AZUL - Menina faz sexo oral no menino

VERDE - Sexo oral feito pelo menino

PRETA - Sexo na posição tradicional

DOURADA - Todas as posições ou sexo oral simultâneo

LISTRADA - Sexo onde a menina fica deitada de barriga para cima

GRENÁ - Sexo anal sem lubrificantes

TRANSPARENTE - Sexo com parentes consanguíneos

MARROM - Sexo escatológico

Assassinatos e estupro pelo Brasil
Pelo menos duas mortes e um estupro de adolescentes, respectivamente em Manaus e Londrina, estão relacionados com o uso das pulseirinhas do sexo. De acordo com a polícia de Manaus, uma das jovens, de 14 anos, foi encontrada morta, no dia 3 deste mês, em um quarto de hotel, localizado no bairro Morro da Liberdade. Junto ao corpo, a perícia localizou seis pulseiras, que foram supostamente arrebentadas pelo autor do crime.

Outra possível vítima das pulseiras coloridas, em Manaus, foi uma adolescente de 13 anos. A jovem foi esfaqueada na noite de Sexta-feira Santa no bairro Valparaíso. Ao lado do corpo da menor, foram encontradas duas pulseiras arrebentadas.

Em março, uma adolescente de 13 anos foi estuprada por pelo menos três rapazes em Londrina (PR). Segundo a polícia paranaense, um dos agressores teria 18 anos, e os demais seriam menores. Os três casos estão em investigação para identificar a autoria e confirmar se são relacionados com o uso das pulseirinhas. Diante dos casos, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Londrina, Ademir Ribeiro Richter, proibiu a venda das pulseiras na cidade.

Outra cidade do Sul do país que suspendeu a venda no comércio e uso nas escolas foi Navegantes (SC). Em Salvador, segundo a delegada Laura Argolo, titular da Delegacia Especializada para a Repressão de Crimes contra a Criança e o Adolescente (Derca), não houve nenhum registro de casos de violência envolvendo o uso das pulseirinhas do sexo.

Pais: o que fazer?
O uso das pulseirinhas visa a integração dos estudantes com o grupo, segundo a psicóloga Camila Baqueira. Contudo, ela ressalta que a banalização do sexo visto como mero acessório de uma brincadeira pode ser prejudicial para a formação dos adolescentes. “Os pais precisam negociar para que os jovens não usem as pulseiras. Não pode ser de maneira impositiva, é fundamental o diálogo”.

Baqueira, que atua com psicoterapia para crianças e adolescentes, diz que o aconselhamento familiar criará um discernimento no estudante. “Se ele tiver uma boa base familiar de diálogo, vai conseguir ter um pensamento crítico diante da imposição do grupo de amigos”.

A diretora de imprensa do Sindicato dos Professores da Bahia (Sinpro), Heloísa Monteiro, acredita que é fundamental uma ampla divulgação para esclarecer os adolescentes sobre os riscos dessa brincadeira. “É necessário conscientizar. Não se pode impor. Para que o adolescente entenda a gravidade do problema, é fundamental que haja um diálogo”. A educadora lembra que aos professores cabe o aconselhamento didático. “Temos que, em sala de aula, discutir o assunto para colaborar com a família”.

O coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca-BA), Valdemar Oliveira, diz que o jogo das pulseiras é perigoso e merece extrema atenção das famílias. “A conversa deve ser cuidadosa para que o adolescente não pense apenas que está perdendo seu livre arbítrio. O importante é apresentar os riscos e demonstrar atenção”. Oliveira destaca, ainda, que o número de casos de agressão já registrados no Brasil deve ser superior. “Muitas crianças agredidas podem não contar aos pais por medo de repressão”.

(Notícia publicada na edição impressa do dia 08/04/2010 do CORREIO)

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