O vestibular é uma "guerra" e o vestibulando, um "samurai". O guerreiro
quer superar esse desafio - é lógico. Para o professor de artes
marciais e médico, Jorge Kishikawa , 48, a melhor maneira de alcançar
esse objetivo é seguindo as regras do código de conduta dos samurais, o
Bushido.
Para o "sensei", o vestibular é uma das grandes batalhas do samurai
moderno ou de todo indivíduo que se disponha a enfrentar a vida com
bravura. Talvez a primeira batalha, de uma lista de pelo menos mais
quatro: casamento, criação dos filhos, vida profissional e alguma “outra
que fica por conta do destino”. Uma doença grave, talvez. Sensei, em
japonês, significa "mestre", "professor".
Confira os conselhos do samurai para os vestibulandos
Foto 1 de 11 - "O
vestibular é uma das primeiras grandes batalhas do samurai moderno",
diz professor de artes marciais e médico, Jorge Kishikawa, 48. Ele
acredita que o código de conduta dos samurais (Bushido) pode ajudar na
batalha do vestibular Mais Montagem Arte UOL com fotos de Leonardo Soares/UOL
Médico formado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo, o
próprio Kishikawa passou por esse teste mais de uma vez em sua vida -- e
com sucesso. Antes de optar pela medicina, ele passou em engenharia na
Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e administração
na FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas) e, no ano seguinte, na FEA-USP
(Faculdade de Economia e Administração) para poder conciliar a
engenharia durante o dia (o curso é de período integral) e a outra
graduação no turno da noite. Somente depois, ele descobriu sua vocação
para a área médica.
Disciplina e abnegação
Se o vestibular é uma batalha, o vestibulando sensei, precisa estar
ciente de que “está no meio de uma guerra e, durante uma guerra, não há
tempo para lazer e tentações mundanas” nas palavras de Kishikawa. Ele é
enfático: o segredo é abster-se, abnegar-se e focar apenas nos estudos.
Para quem acha o conselho muito severo o conselho, ele argumenta: “é uma
vez na vida”.
Depois, quando o vestibular for superado, rotina de diversão, namoros,
tudo pode ser retomado. Sim, namoros são terminantemente proibidos
durante o período de preparação, na conduta ideal recomendada pelo
sensei. “Se quiser passar no vestibular, pare de namorar”, escreveu em
seu livro "Shin Hagakure – Pensamentos de um Samurai Moderno", da
Editora Conrad.
Kishikawa é curto e grosso: “não conheci até hoje nenhum soldado que
tenha levado sua namorada para o front”. E no último parágrafo do
capíutlo, dá a dica: “pegue sua mochila, suas armas e diga a ela que
retornará depois de um ano. Com firmeza”.
Rotina de estudos
Como a maioria dos vestibulandos de hoje, ainda cursava o ensino médio
quando ele começou a se aplicar aos estudos visando entrar na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo. O pai, nascido no Japão e
radicado no Brasil antes de Jorge nascer, era engenheiro eletrônico e,
com o passar do tempo, se tornou um executivo da área. Jorge queria ser o
mesmo. Sonhava ser executivo da Nissan, conta.
E, para passar no vestibular, estudava onde podia. Não perdia tempo.
Sempre era ocasião para “matar testes”, como ele gosta de nominar. O
ônibus, seja de casa para a escola ou no caminho inverso, era seu
favorito. Às vezes, ficava dando voltas e mais voltas, além do ponto de
destino, só para poder prolongar seus estudos ao movimento do coletivo
no então já complicado trânsito de São Paulo. Concentração nunca lhe
faltou, mas em casa, por um motivo ou outro, talvez algo o pudesse
distrair. Então, para aproveitar melhor o dia, o embalo frenético, mas
constante do ônibus, lhe era um aliado.
Acordava às 6h, fazia 15 minutos de exercícios e ia para a escola. Na
volta, estudava até a hora do jantar. Como um bom samurai, ele treinava
de noite e, logo depois, se retirava para dormir. “Não aconselho estudar
até altas horas da noite. O guerreiro tem que acordar cedo e dormir
cedo”, diz, explicando na sequência: “estudar na calada da noite vai
causar desequilíbrio no organismo com o passar do tempo. Nosso organismo
não foi feito para isso.”
Antes de decidir
Ao final de um ano, passou na Politécnica e na Fundação Getúlio Vargas.
Queria conciliar a engenharia com a administração, mas o primeiro curso
era integral e o segundo, diurno. Escolheu a Poli, depois prestou FEA,
cujo curso era noturno, e assim ingressou no mundo universitário,
estudando de manhã, à tarde e à noite. Só mais adiante é que descobriu
que sua vocação mesmo era a medicina.
Kishikawa não se arrepende dos cursos que iniciou e não terminou, mas
garante que, se tivesse a cabeça de hoje, teria prestado vestibular um
pouco mais tarde. Escolheu engenharia porque tinha o pai como exemplo,
quis complementar com administração, mas apenas no desenrolar da
academia foi perceber que não era nada disso que queria para a vida.
“Antes do vestibular, o samurai tem que saber se quer entrar na guerra.
Não é porque todo mundo vai prestar (vestibular) depois do ensino médio
que ele tem que fazer também”, alerta. Embora antecipe que este
conselho possa não ser bem visto por pais e professores, ele insiste em
que se conceda intervalo de um ano entre a escola e a universidade.
Na pressão por decidir logo, o estudante pode acabar optando por um
curso que não lhe traga satisfação. “Tem gente que escolhe fazer
odontologia porque sabe que não vai passar em medicina. Errado”, aponta o
7º dan Kyoshi da arte marcial Kendo.
Ele afirma que um ano é um tempo bom para viajar, conhecer gente,
outras culturas, trocar ideias, e só então entrar para a “guerra”, com
consciência. Porque, a partir daí, o destino está traçado e não terá
nada de moleza.
Na contracapa de seu livro “Shin Hagakure – Pensamentos de um Samurai
Moderno” – com apresentações de Guido Mantega, na primeira edição
(2004), e da Monja Coen, na edição revisada (2010) -, Jorge Kishikawa
fez constar o seguinte: “a travessia da vida é difícil. Devemos sempre
encarar cada momento como se fosse uma batalha. Numa guerra, falhas ou
imperfeições são inconcebíveis. É por isso que o samurai deve encarar
cada momento de sua vida como se fosse o último”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário