Técnico admite culpa por doping coletivo e abandona a carreira
Técnico de três dos cinco atletas que foram flagrados em um exame antidoping, Jayme Netto anunciou nesta quarta-feira que está abandonando a carreira. Em entrevista coletiva concedida na sede da Rede Atletismo, equipe à qual pertence, o treinador admitiu culpa pelo caso, mas afirmou que não sabia que a substância era dopante.Apoiado pelo presidente da CBAt, Roberto Gesta de Melo, e pelo presidente da Rede, Jorge Queiroz de Moraes Junior, Netto explicou que a injeção de EPO nos cinco atletas foi sugerida por um colega, Pedro Balikian Jr, professor e coordenador do laboratório de fisiologia do exercício da Unesp, segundo o qual a substância serviria para acelerar a recuperação física dos atletas.
"Como estudioso, sei que o treinamento é importante, mas tem substâncias que podem favorecer, e outras que servem para dar um upgrade. Ele me falou que essa ajudaria na recuperação, e eu acreditei", detalhou o técnico.
Gesta de Melo, que pela manhã já havia colhido o depoimento de alguns dos atletas envolvidos, encampou a versão contada por Jayme. "Eles não tinham noção de que era uma substância proibida. Achavam que era um aminoácido e receberam injeções na barriga", afirmou.
O presidente revelou ainda um episódio contado por uma das atletas, que teria ocorrido após as primeiras aplicações realizadas em abril, na cidade de Presidente Prudente. "Como ela tinha que viajar, o Pedro deu a ela uma seringa em um isopor e pediu para ela mesma se aplicar. Mas ele pediu que depois ela devolvesse a seringa", detalhou.
Técnico renomado, conhecido pelo bom trabalho realizado nas equipes brasileiras de revezamento, Jayme Netto reconheceu sua parcela de culpa. "Tive culpa mesmo em acreditar na palavra dele", afirmou o treinador, que procurou evitar jogar toda a responsabilidade nas costas de Balikian Jr. "Quero acreditar que ele acreditava no que estava fazendo. Ainda não conversei com ele e não o estou condenando, só ficaria feliz se ele falasse que também se enganou".
Desolado, o treinador afirmou que o caso o leva a encerrar a carreira. "Fui a 10 Mundiais e cinco Olimpíadas. Estou muito decepcionado comigo mesmo", admitiu. "Foi difícil, eu não conseguia raciocinar, não imaginei que isso fosse acontecer. Estou muito preocupado com os atletas, mas não vou abandoná-los em hipótese alguma".
Todos integrantes da Rede, os cinco atletas flagrados em um teste fora de competição são: Bruno Lins Tenório de Barros (200m e 4x100m), Jorge Célio da Rocha Sena (200m e 4x100m), Josiane da Silva Tito (4x400m), Luciana França (400m com barreiras) e Lucimara Silvestre (Heptatlo). Membro da mesma equipe, Lucimar Teodoro (400m com barreira) já havia sido flagrada anteriormente, em exame realizado durante o Troféu Brasil, mas a substância dopante não foi divulgada.
Os seis atletas, que estavam na Alemanha preparando-se para o Mundial de Berlim, retornaram ao Brasil e não poderão disputar a competição. Todos estão suspensos preventivamente.
(Do UOL)
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