O porquê e o motivo
"O técnico Cuca, no entanto, disse que não sabia o porque do motivo da ausência do seu principal jogador."
O fragmento em questão apresenta dois problemas. O mais evidente é a redundância que se verifica na construção formada de termos sinônimos ("porquê" e "motivo"). O segundo diz respeito à grafia do substantivo "porquê".
As formas "porque", "porquê", "por que" e "por quê" têm diferentes usos e é sabido que o tema causa mesmo confusão. "Porque" é uma conjunção, o que vale dizer que é o elemento articulador de duas orações. Assim: "O jogador faltou ao treino porque estava doente" (a primeira oração, "O jogador faltou ao treino", articula-se com a segunda, "estava doente", numa relação de causa e efeito; a oração que exprime a causa é encabeçada pela conjunção "porque").
"Porquê" é a substantivação da conjunção "porque". Como esta introduz ideia de causa, o substantivo (que recebe o acento diferencial), ele próprio, assume esse sentido. Isso é semelhante ao que ocorre com a conjunção "porém", que introduz ideia de oposição. Podemos vê-la substantivada numa frase como "Sempre há um porém", ou seja, sempre há um obstáculo, uma ressalva. No caso do "porquê", a substantivação (que geralmente vem depois de um artigo) requer o acento circunflexo.
O advérbio interrogativo de causa assume a forma "por que", indicada para iniciar as perguntas diretas ("Por que o jogador faltou ao treino?") e indiretas ("Gostaria de saber por que o jogador faltou ao treino", "Ninguém sabia por que o jogador tinha faltado ao treino").
Se o advérbio estiver no fim do período (em posição tônica), será necessário acentuá-lo. Assim: "O jogador faltou ao treino por quê?", "Faltou ninguém sabe por quê".
Abaixo, duas sugestões de correção do fragmento:
O técnico Cuca, no entanto, disse que não sabia o motivo da ausência do seu principal jogador.
O técnico Cuca, no entanto, disse que não sabia o porquê da ausência do seu principal jogador.
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