Com aulas em período integral, reforço escolar e participação dos pais, diretora nascida na comunidade eleva desempenho de escola no violento Morro da Pedreira
Ioliris Paes nasceu há 47 anos na Pavuna, bairro do
subúrbio do Rio com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano
(IDH) da cidade, próximo à divisa com a Baixada Fluminense. Desde 1996,
ela dirige o CIEP Glauber Rocha, no violento complexo de favelas na
região, que inclui o Morro da Pedreira
e as favelas da Lagartixa e Quitanda.
Contra todos os prognósticos, a escola teve o terceiro
melhor desempenho do Brasil nos anos iniciais do Ideb (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica), com a média 8,5. “Nós temos nos
superado. No último Ideb, em 2009, tivemos 6,7 de média, e agora
conseguimos superar a nossa meta, que era evoluir 12,5% em relação ao
último”, vibra Ioliris.
Antes desacreditada pela população, a escola hoje conta
com a intensa participação das famílias e é o orgulho da comunidade. Em
1996, quando Ioliris assumiu a direção, eram apenas 89 alunos. Hoje são
512, da creche até o 5º ano, e sobram candidatos para as vagas.
“Nasci nesta comunidade e morei aqui até oito anos atrás.
Vi esta escola ser construída. Era muito desacreditada pela população,
não tinha alunos, não tinha projeto político-pedagógico. É uma área
altamente desafiadora, dentro da comunidade da Pedreira, Lagartixa,
Quitanda. Mas acreditamos no desenvolvimento da autoconfiança de cada
criança, valorizamos a ética do esforço”, afirmou ela, reeleita com 98%
dos votos de professores, alunos e pais.
A proposta de trabalho da Glauber Rocha tem alguns
pilares: educação em período integral, participação dos pais, projeto de
formação de leitores, com eventos mensais e reforço escolar, com apoio
dos professores, voluntários e estagiários.
“A criança é atendida conforme a necessidade, e o reforço
é permanentemente disponível. Temos aula em tempo integral, de 7h30 às
16h30, o que significa mais tempo para enriquecer o processo”, disse a
professora.
Esperança de UPP
Ioliris diz ter esperança da chegada de uma UPP (Unidade
de Polícia Pacificadora) na região para reduzir a violência e as
constantes trocas de tiros entre criminosos ou entre traficantes e
policiais.
“Não estamos em uma área pacificada, há violência e
vulnerabilidades familiares. Depois que chega UPP, a paz se instaura.
Mas isso não impede nosso trabalho, Não trabalhamos em cima dos
problemas, mas das soluções. Há respeito. Aqui não tem pichação. Eu
fecho a escola na sexta-feira e na segunda, está tudo igual”, afirmou.
Nem tudo são flores. Apesar do extraordinário desempenho,
a Glauber Rocha não foi incluída entre as “Escolas do Amanhã”, programa
da prefeitura do Rio para colégios em locais de risco. “Eu tenho
vivência em sala de aula e sabia que era possível esse resgate.
Trabalhamos em cima da possibilidade de sucesso da criança, nosso
cliente. Quando não tinha professora, eu dava aula, ou minha adjunta”,
contou.
Apesar do resultado positivo no Ideb, a escola ainda tem
carências básicas, como por exemplo, a falta de secretários escolares
para cuidar das questões administrativas. A diretora e seus assistentes e
professores muitas vezes se ocupam desse tipo de tarefa.
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