quinta-feira, maio 17, 2012

Fóssil de dinossauro quase intacto será leiloado em Nova York

A expectativa de arrecadação é de US$ 2 milhões no leilão aberto ao público.



Muitos leilões de arte têm lances milionários. Quadros de grandes pintores são comprados por fortunas. Mas no próximo domingo (20), a empresa americana Heritage Auctions vai leiloar em Nova York algo bem diferente: o fóssil de um dinossauro.
O tiranossauro viveu há 75 milhões de anos e é um primo asiático do tiranossauro Rex.  O esqueleto está em ótimo estado de conservação com 75% dos ossos intactos. A expectativa de arrecadação é de US$ 2 milhões.
É a segunda vez que um esqueleto de dinossauro vai a leilão. Em 1997, um tiranossauro Rex foi vendido por mais de US$ 8 milhões. O leilão é aberto ao público
 

Brasil é o segundo maior país no Facebook, diz pesquisa

País perde apenas para os EUA em número de usuários.
Índia fica em terceiro lugar no ranking dos países com maior presença.


O Brasil se tornou o segundo país com mais usuários no Facebook nos últimos três meses (do início de fevereiro ao final de abril), segundo o site de pesquisas "Social Bakers" anunciou nesta quinta-feira (3). O país perde apenas para os Estados Unidos, onde a rede social foi criada.
O "Social Bakers" mede o tamanho dos países dentro do Facebook a partir da quantidade de usuários ativos mensais de cada local. Nos dados dos últimos três meses, o Brasil ficou com mais de 46 milhões de usuários do tipo contra 45 milhões na Índia, grande rival do país na disputa pela segunda colocação do ranking. Os norte-americanos já somam mais de 157 milhões e têm a liderança isolada.
“Brasil e Índia têm brigado pela segunda posição há um bom tempo, mas o Brasil finalmente superou seu rival”, diz o comunicado divulgado pelo "Social Bakers". A pesquisa também mostrou quais são as marcas brasileiras com maior força no Facebook: Guaraná Antarctica, Skol e L´Oreal Paris Brasil.
O Facebook é a maior rede social do mundo com mais de 900 milhões de usuários. A previsão é que o site ultrapasse 1 bilhão de membros já no segundo semestre de 2012.
A empresa abriu escritório no Brasil em agosto de 2011, para reforçar sua presença no país. Por aqui, a rede social é comandada por Alexandre Hohagen.
No dia 1º de fevereiro, o Facebook apresentou seus documentos aos órgãos regulatórios para fazer uma oferta inicial de ações (o chamado IPO) em que espera arrecadar US$ 5 bilhões. A estreia da rede social na bolsa de Nova York está prevista para maio, com o símbolo FB. A expectativa do mercado é que o IPO seja o maior para uma empresa de internet, superando o de quase US$ 2 bilhões do Google, feita em agosto de 2004.

Na terça-feira (1º), a rede social lançou um plano para aumentar a doação de órgãos e, desse modo, salvar vidas. Os usuários podem informar em seu perfil se eles querem ser doadores. Em um dia, a ferramenta já foi usada por 100 mil pessoas.

Facebook vende ação a US$ 38, e valor da empresa fica em US$ 104 bi

Empresa começa a negociar ações com o símbolo 'FB' nesta sexta-feira.
Rede social arrecada pouco mais de US$ 16 bilhões no processo de IPO.


Facebook (Foto: Reuters)Ações do Facebook começam a ser negociadas
nesta sexta-feira (Foto: Reuters)
O Facebook fechou na tarde desta quinta-feira (17) o valor de US$ 38 como preço de suas ações para oferta inicial na bolsa de valores (IPO). A empresa usará o símbolo "FB" nas negociações na Nasdaq, que terão início nesta sexta-feira (18).
Com o valor fechado para a oferta de ações, a rede social foi avaliada em mais de US$ 104 bilhões. O valor faz a empresa de 8 anos de idade ter uma avaliação próxima à da Amazon e superior ao da Hewlett-Packard (HP) e da Dell combinadas.
Ainda com as ações em US$ 38, a rede social pode arrecadar pouco mais de US$ 16 bilhões com o IPO. A compensação da oferta de ações deve ocorrer até terça-feira (22).
Com US$ 38 a ação, o Facebookx pode se tornar o terceiro maior IPO da história dos Estados Unidos, segundo a Renaissance Capital. A oferta inicial também poderá ser a sétima maior do mundo.Previsões de quanto as ações irão crescer no primeiro dia na bolsa de valores afirmam que o salto pode ser de 50% em cima do valor inicial. Entretanto, alguns analistas afirmam que este salto pode ser de menos de 10%.
Na quarta-feira (16), aumentaram o número de papeis em 25%, para mais de 421 milhões de ações.
Além disso, o Facebook e seus acionistas tem 30 dias para poder comprar mais de 63 milhões de ações "Classe A", que oferecem direito a voto nas dacisões da empresa. Cada ação deste tipo dá direito a um voto.
arte facebook ipo (Foto: Arte/G1)
Futuros milionários
O quadro de funcionários da rede social subiu de 700, no final de 2008, para mais de 3 mil em 2011. Como a empresa usa ações como forma de remuneração, fontes da agência Reuters disseram em dezembro passado que, mesmo sob uma estimativa conservadora, pode haver mais de 1 mil pessoas destinadas a receber mais de US$ 1 milhão em ganhos quando a empresa abrir seu capital.
Os primeiros funcionários do Facebook, que receberam participações acionárias, e os primeiros investidores do setor de capital de risco receberão as maiores recompensas, afirma a reportagem. Estima-se que Zuckerberg detenha pouco mais de um quinto da companhia, de acordo com David Kirkpatrick, autor de "The Facebook Effect". Mas o dinheiro também beneficiaria engenheiros, vendedores e outros funcionários contratados mais tarde, já que a maioria recebe salários e mais alguma forma de remuneração relacionada a ações.
O Facebook foi fundado em fevereiro de 2004 nos dormitórios dos alunos na Universidade de Harvard por Mark Zuckerberg, Chris Hughes, Dustin Moskovitz e o brasileiro Eduardo Saverin. Já no meio de 2004, a rede social recebeu sua primeira rodada de investimentos, feita por Peter Thiel, no valor de US$ 500 mil. O nome inicial do site era Thefacebook.
Atualmente o Facebook tem sua sede em Menlo Park, na Califórnia, e 3.200 funcionários. Mark Zuckerberg é quem tem mais ações na companhia, com 56,9% (informações prévias ao IPO).

Ator belga ganha aplausos e conquista os críticos em Cannes

Mathias Schoenaerts protagoniza 'Rust and Bone', com Marion Cotillard.
Aos 32, ele diz não ter pressa para filmar nos EUA: 'Sou muito jovem, eu acho'.


O ator belga Matthias Schoenaerts, candidato a estrela do Festival de Cannes 2012 (Foto: Valerie Macon/Getty Images/AFP ) 
O ator belga Matthias Schoenaerts
(Foto: Valerie Macon/Getty Images/AFP )
É apenas o segundo dia, mas o festival de cinema de Cannes já descobriu uma estrela em ascensão no belga Matthias Schoenaerts, que ganhou aclamação da crítica por sua interpretação de Ali no drama francês "Rust and Bone".
Schoenaerts não é novo na tela grande -ele já apareceu em mais de 20 filmes, incluindo "Bullhead", indicado para o Oscar de filme estrangeiro no início deste ano. Mas, para milhares de jornalistas e críticos em Cannes para o festival anual, a exibição para a imprensa nesta quinta-feira (17) da história de amor comovente "Rust and Bone" era o primeiro olhar deles para o ator de 34 anos.
Minutos após o término do filme, Schoenaerts estava sendo questionado sobre suas perspectivas em Hollywood. "É engraçado você dizer isso porque na semana passada eles me chamaram para 'Rambo 34', e eu disse que vou fazer se eu conseguir o 35 e o 36 também", brincou ele em uma entrevista coletiva.
"Definitivamente há coisas rolando nos Estados Unidos, mas eu tenho tempo, eu não estou com pressa. Sou muito jovem, eu acho."
Ele pode esperar repetir o sucesso do ator francês Jean Dujardin, que era pouco conhecido fora da França até a estreia mundial em Cannes no ano passado de "O artista", que o colocou em um caminho para a fama global e um Oscar de melhor ator.
Evitando melodrama
Em "Rust and Bone", Schoenaerts interpreta o personagem central Ali, um homem rude que se torna amigo de uma funcionária da Marineland chamada Stephanie, interpretada pela vencedora do Oscar Marion Cotillard, depois que ela perde as pernas em um acidente de trabalho.

Com a sorte em baixa e dormindo com seu filho Sam de cinco anos na garagem de sua irmã na costa sul da França, Ali vivia apenas com o essencial antes de começar a lutar por dinheiro extra.

No final do filme, houve aplausos calorosos dos críticos notoriamente exigentes e repórteres em Cannes. As primeiras críticas do filme, em sua maioria positivas, concentraram-se nas atuações, embora algumas tenham mencionado que o enredo parecia implausível.
Schoenaerts admitiu sentir-se ansioso em atuar com Cotillard, que já estava caracterizada na personagem quando ele a conheceu no set.
"Eu vi Marion antes do ensaio, ela estava em uma cadeira de rodas, ela parecia totalmente deprimida e eu pensei ...'Não vai funcionar muito bem com Marion' e eu pensei 'O que eu faço? Devo falar com ela?'."
"Rust and Bone" é vagamente baseado em uma coleção de histórias curtas escritas por Craig Davidson, e é um dos 22 filmes na competição principal do festival.
O diretor francês Jacques Audiard empolgou o público com seu drama prisional "O profeta" em 2009 e, embora em "Rust and Bone" ele troque as celas escuras e apertadas pelo sol brilhante e cenários expansivos, novamente ele conta a história de um homem que está para baixo e deve lutar pela sobrevivência e redenção.

Flip anuncia programação e homenagem a Drummond

Evento literário acontece em Paraty (RJ) de 4 a 8 de julho.
Jonathan Frazen, Jennifer Egan e Le Clezio são destaques.

Do G1

A escritora norte-americana Jennifer Egan, uma das atrações da Flip 2012 (Foto: Egan Van Hattem/divulgação) 
A escritora norte-americana Jennifer Egan,
 uma das atrações da Flip 2012
(Foto: Egan Van Hattem/Divulgação)
Foi anunciada nesta quinta-feira (17) a programação da décima edição da Festa Literária de Paraty, a Flip. O evento acontece de 4 a 8 de julho e vai homenagear o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
Segundo a organizaçao, a Flip tem orçamento de R$ 7 milhões, 23% a mais do que no ano passado. Ao todo, serão 40 autores de 14 países.
Neste ano, três dos destaques são Jennifer Egan, Jonathan Franzen e Le Clezio. Eles participam do evento na Tenda dos Autores. Egan venceu o prêmio Pullitzer de ficção no ano passado e vem pela primeira vez ao Brasil. O francês Le Clezio é o quinto a ganhar o prêmio Nobel a integrar a programação da Flip, em suas dez edições. Franzen é autor de ''Liberdade'', de 2011.
Os ingressos começam a ser vendidos a partir de 4 de junho pela internet, no site (www.ticketsforfun.com.br). Eles custam R$ 40 (tenda dos autores), R$ 30 (show de abertura) e R$ 10 (casa da cultura). Após 3 de julho, as entradas só podem ser compradas em Paraty.
O evento vai trazer de volta autores que passaram pela Flip nas nove edições anteriores. Ian McEwan, Enrique Vila-Matas e Hanif Kureishi retornam. As mesas também terão escritores como o libanês Amin Maalouf, a cubana Zoe Valdes, o americano-nigeriano Teju Cole e a portuguesa Dulce Maria Cardoso.
A conferência de abertura será em duas partes. Na primeira, Luis Fernando Veríssimo é o convidado. Na sequência, Drummond começa a ser homenageado com os poetas Antonio Cícero e Silviano Santiago. O show que inicia o evento é o do pernambucano Lenine.
Veja a programação completa da Flip 2012:
4 de julho - quarta-feira
19h - Abertura / Flip, ano 10, com Luis Fernando Veríssimo e homenagem a Carlos Drummond de Andrade
21h - Show de abertura: Ciranda de Tarituba e Lenine

5 de julho - quinta-feira
10h - Mesa 1: Escritas da finitude, com Altair Martins, André de Leones e Carlos de Brito e Mello. Mediação: João Cezar de Castro Rocha
11h45 - Mesa Zé Kleber: A leitura no espaço público, com Silvia Castrillon e Alexandre Pimentel. Mediação: Écio Salles
15h - Mesa 2: Apenas literatura, com Enrique Vila Matas e Alejandro Zambra. Mediação: Paulo Roberto Pires
17h15 - Mesa 3: Ficção e história, com Javier Cercas e Juan Gabriel Vásquez. Mediação Ángel Gurría-Quintana
19h30 - Mesa 4: Autoritarismo, passado e presente, com Luiz Eduardo Soares e Fernando Gabeira. Mediação: Zuenir Ventura

6 de julho - sexta-feira
10h - Mesa 5: Drummond – o poeta moderno, com Antonio C. Secchin e Alcides Villaça. Mediação: Flávio Moura
12h - Mesa 6: O mundo de Shakespeare, com Stephen Greenblatt e James Shapiro. Mediação: Cassiano Elek Machado
15h - Mesa 7: Exílio e flânerie, com Teju Cole e Paloma Vidal. Mediação: João Paulo Cuenca
17h15 - Mesa 8: Literatura e liberdade, com Adonis e Amin Maalouf. Mediação: Alexandra Lucas Coelho
19h30 - Mesa 9: Encontro com Jonathan Franzen. Mediação: Ángel Gurría-Quintan

7 de julho - sábado
10h - Mesa 10: Cidade e democracia, com Richard Sennett e Roberto DaMatta. Mediação: Guilherme Wisnik
12h - Mesa 11: Pelos olhos do outro, com Ian McEwan e Jennifer Egan. Mediação: Arthur Dapieve
15h - Mesa 12: Em família, com Zuenir Ventura, Dulce Maria Cardoso e João Anzanello Carrascoza. Mediação: João Cezar de Castro Rocha
17h - Mesa 13: O avesso da pátria, com Zoé Valdés e Dany Laferrière. Mediação: Alexandra Lucas Coelho
19h30 - Mesa 14: Encontro com J. M. G Le Clézio. Mediação: Humberto Werneck

8 de julho - domingo
10h - Mesa 15: Vidas em verso, com Jackie Kay e Fabrício Carpinejar. Mediação: João Paulo Cuenca
11h45 - Mesa 16: A imaginação engajada, com Rubens Figueiredo e Francisco Dantas. Mediação: João Cezar de Castro Rocha
14h30 - Mesa 17: Drummond – o poeta presente, com Armando Freitas Filho (em vídeo), Eucanaã Ferraz e Carlito Azevedo. Mediação: Flávio Moura
16h30 - Mesa 18: Entre fronteiras, com Gary Shteyngart e Hanif Kureishi. Mediação: Ángel Gurría-Quintana
18h15 - Mesa 19: Livro de cabeceira. Autores convidados da Flip 2012 leem e comentam trechos de seus livros favoritos.

"Catástrofe liberal": crise arrasta Europa para a incerteza

O cientista político, economista e ex-deputado ecologista Alain Lipietz resume o momento pelo qual atravessa a Europa com duas palavras: “a catástrofe liberal”. As bolsas europeias voltaram a fechar com índices negativos, enquanto a Espanha, arrastada pelo redemoinho da especulação e dos cortes, acusa a Grécia de ser a responsável pela situação. A União Europeia considera cada vez mais a possibilidade de a Grécia abandonar a moeda única. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

Paris - A história cruza suas espadas e faz papel picado da construção europeia tal como ela foi plasmada no modelo ultraliberal. No momento em que o socialista François Hollande se prepara para assumir a presidência da República da França, a Europa está espremida em uma grave crise enquanto os mercados seguem movendo os fios para não perder um centavo de seus já abismais lucros: a Grécia continua sem formar um governo que aceite submeter o povo à sangria da austeridade imposta pelos mesmos que foram cúmplices da derrocada. As bolsas europeias - Paris, Londres, Milão, Frankfurt, Atenas – voltaram a fechar com índices negativos, enquanto a Espanha, arrastada pelo redemoinho da especulação e dos cortes, acusa a Grécia de ser a responsável pela situação.

“A instabilidade política grega é o principal elemento de incerteza e é aí que devemos agir. Temos que tomar decisões”, disse em Bruxelas o ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos. A União Europeia se divide em torno do irmão menor. Responsáveis da Comissão Europeia, ministros, analistas e meios de comunicação já contempla, sem se escandalizar, o futuro da Europa com a Grécia fora do euro. Os responsáveis europeus colocaram Atenas ante uma disjuntiva com final similar: morrer dentro do euro, ou morrer fora dele. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse que “se os acordos não são respeitados por um país, isso significa que não há condições para continuar com esse país”.

Na verdade, são os mercados que antecipam a hecatombe. Assustados pela eventualidade de um atraso ou de uma suspensão das ajudas financeiras prometidas a Atenas para que faça frente a seus vencimentos, os investidores se refugiam ali onde seus capitais estão a salvo, neste caso nos títulos alemães. A taxa de risco espanhola alcançou um máximo histórico ao mesmo tempo em que os títulos alemães, os Band, percorreram o caminho contrário: chegaram a seu piso mais baixo da história graças à corrida dos investidores para esse produto seguro. A crise grega se juntou com os desarranjos da banca espanhola oriundos de anos anteriores. O incêndio está chegando aos cofres dos bancos e se expande com as faíscas do passado.

A reforma bancária proposta pelo governo conservador de Mariano Rajoy obriga os bancos a aportar provisões de 30 bilhões de euros para sustentar as contas castigadas por empréstimos imobiliários de alto risco. Cinco dos principais bancos do país – Bankia, CaixaBank, Popular, Santander e BBVA – necessitam de 16 bilhões de euros para sanear-se. Os bancos espanhóis arrastam uma sombra de 238 bilhões de dólares de ativos imobiliários cujo valor é aleatório.

Como se isso não bastasse, o socialista François Hollande assume nesta terça-feira a presidência em pleno confronto com a Alemanha a propósito do manto de austeridade com o qual Berlim cobriu a Europa. O presidente francês se empenhou em renegociar o pacto fiscal adotado em março passado por 25 dos 27 países da União Europeia com a meta de superar a crise. Mas esse pacto implica severas políticas de austeridade e Hollande disse que a austeridade sem crescimento não faz sentido. O chefe de Estado francês quer renegociar o tratando incluindo medidas a favor do crescimento, algo que a Alemanha rejeita. No entanto, os analistas consideram que a força da crise grega obrigará Paris e Berlim a um consenso no momento em que a ideia da saída da Grécia do euro deixou de ser uma metáfora.

O tabu sobre a unidade em torno do euro foi reduzido a pedaços. A União Europeia considera cada vez mais a possibilidade de que a Grécia abandone a moeda única. O semanário britânico The Observer chegou até a publicar uma nota sobre “como a Grécia poderia deixar o Euro em cinco etapas difíceis”. Em Atenas, o chefe do partido de extrema-esquerda Syriza, negou-se a formar um governo com mandato para aplicar um programa que ele mesmo qualificou de “criminoso”. Sem governo na Grécia, a única alternativa seria realizar novas eleições daqui a um mês. Marcus Huber, membro da empresa de consultoria financeira ETX Capital, disse à imprensa que “essas eleições não só conduziriam a um novo rechaço das medidas de austeridade, como representariam um verdadeiro referendo sobre a permanência ou não do país na zona do euro”.

Antes impensável, essa eventualidade torna-se tangível e as capitais europeias já começaram a fazer contas. Na França, o governador do Banco da França, Christian Noyer, declarou que nenhum grupo financeiro, banco ou companhia de seguro atravessaria sérias dificuldades em caso de “um cenário extremo na Grécia”. O passivo da Grécia com os bancos franceses chega a 13 bilhões de euros.

Atenas deve cumprir com o plano de ajuste ou partir. O cenário de um erro sem a Grécia é menos otimista que as declarações oficiais. Se isso ocorrer, muitas empresas entrariam em situação de moratória. Segundo a agência de avaliação financeira Fitch, as repercussões da Grécia fora do Euro se fariam sentir nas notas de países como Itália e Espanha. De fato, a crise polifônica que atinge a Europa é consequência do dogma liberal: desmontar os Estados, impor a bota da austeridade e do rigor. Em termos de funcionamento, o dogma também criou desarranjos difíceis de corrigir: o Banco Central Europeu (BCE) não empresta dinheiro aos Estados, só aos bancos privados. Só o BCE tem o poder de desvalorizar o euro e unicamente o BCE e os bancos privados podem emitir moeda, não os Estados.

Por esta razão, a Grécia não pode nem desvalorizar nem criar moeda, nem obter dinheiro do Banco Central a uma taxa razoável. A universitária Sophia Mappa, pesquisadora no Laboratório de Investigações sobre a Governabilidade (Largotec) assinala que “a crise grega é o espelho dos limites do modelo liberal, não só econômico, mas também social”. O cientista político, economista e ex-deputado ecologista Alain Lipietz resume o momento pelo qual atravessa a Europa com duas palavras: “a catástrofe liberal”.

Nada retrata melhor sua análise do que as cifras do banco BBVA. No informe anual apresentado em abril passado pelo BBVA, ante a Comissão do Mercado de Valores dos Estados Unidos, o banco registrou: “A crise da dívida soberana na Europa se intensificou em agosto de 2011 e se contagiou com pressões de financiamento no setor financeiro. As tensões financeiras na Europa seguem em níveis superiores àquelas verificadas após a queda do Lehman Brothers em 2008”. Quatro anos depois da grande quebra do Lehman, a crise não fez outra coisa do que desenhar um redemoinho que arrasta povos inteiros ao desemprego, à pobreza e à incerteza.

Pessoas ganhadoras

Quando a pessoa ganhadora comete um erro, diz: "Me equivoquei", e aprende a lição.

Quando uma pessoa perdedora comete um erro, diz: "Não foi minha culpa", e culpa os outros.

Uma pessoa ganhadora sabe que a adversidade é o melhor dos professores.

Uma pessoa perdedora se sente vítima ante a adversidade.

Uma pessoa ganhadora sabe que o resultado das coisas depende dele.

Uma pessoa perdedora crê que a má sorte existe.

Uma pessoa ganhadora trabalha muito forte e gera mais tempo para si mesmo.

Uma pessoa perdedora está sempre "muito ocupada" e não tem tempo nem para os seus.

Uma pessoa ganhadora enfrenta os problemas um a um.

Uma pessoa perdedora dá voltas e nem sequer se atreve a tentar.

Uma pessoa ganhadora se compromete, dá sua palavra e a cumpre.

Uma pessoa perdedora faz promessas, não assegura nada, e quando fala só se justifica.

Uma pessoa ganhadora diz:

"Sou bom, mas vou ser melhor".

Uma pessoa perdedora diz:

"Não sou tão mal como muita gente"

Uma pessoa ganhadora escuta, compreende e responde.

Uma pessoa perdedora só espera até que chegue sua hora de falar.

Uma pessoa ganhadora respeita aqueles que sabem mais que ele e trata de aprender algo com eles.

Uma pessoa perdedora resiste aos que sabem mais que ele e só se fixa em seus defeitos.

Uma pessoa ganhadora se sente responsável por algo mais que somente seu trabalho.

Uma pessoa perdedora não se compromete e sempre diz:

"Faço o meu trabalho"

Uma pessoa ganhadora diz:

"Deve haver uma forma melhor de se fazer isto..."

Uma pessoa perdedora diz:

"Esta é a forma como sempre fizemos"

Uma pessoa ganhadora é parte da solução.

Uma pessoa perdedora é parte do problema.

Uma pessoa ganhadora se fixa em "como se vê a parede em sua totalidade".

Uma pessoa perdedora se fixa "no ladrilho que cabe a ela colocar".

Um terço dos brasileiros tem internet em casa

Brasil ocupa a 63ª posição de um total de 154 países em ranking de acesso residencial à internet


Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira, 16, revelou que 33% dos brasileiros têm acesso à internet em suas casas. O Brasil, no entanto, ainda está bem atrás de países do norte europeu e da Ásia quando o assunto é inclusão digital.
No topo da lista aparece a Suécia, com 97% da população tendo acesso à internet residencial. O Brasil, por sua vez, ocupa a 63ª posição de um total de 154 países.
A pesquisa, denominada Mapa da Inclusão Digital, foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com a operadora de telefonia Vivo.

São Caetano: 69% dos lares com internet

Apesar de ainda estar bem atrás de alguns países europeus, por exemplo, o acesso à internet no Brasil vem se expandindo. Há seis anos, apenas 8% dos brasileiros tinham internet em suas casas. O crescimento foi de 154% desde então.
A cidade de São Caetano, no ACB paulista, apresenta o maior índice de acesso à internet residencial no país: 69%.

Certo e Errado!

Será que é pedir muito aos nossos políticos e polícia que tenham a mesma pressa em investigar casos como o mensalão que tiveram na apuração do caso Carolina Dieckmann?

por Claudio Schamis

Quem é você? Trabalha na Globo?
Esse episódio com a atriz Carolina Dieckmann mostrou mais uma vez como a coisa funciona em nosso país. Infelizmente.
É a coisa do está certo, mas ao mesmo tempo errado.
Tenho certeza que ela não foi a primeira. Mas ela é atriz da Globo, famosa e coisa e tal. Queria assistir essa mesma mobilização da polícia se as fotos que vazassem fossem as da Carolina Que Não é Dieckmann Santos, como isso ia ser? Teríamos esse circo todo armado? Teríamos essa correria, presteza e eficiência para que, em questão de horas, já conseguirem identificar alguns dos culpados? Acredito que não.
Até a Câmara foi mobilizada e um projeto que tipifica os chamados crimes cibernéticos foi incluído às pressas na pauta de votação e a proposta foi aprovada em segundos.
Se os deputados tivessem essa pressa com outros assuntos também…
Quando o meu apartamento foi assaltado por menores de idade armados de pistola, não vi nada noticiado no jornal, telejornais, ou assunto comentado podendo concorrer para ser um dos “trending topics” do Twitter. Mas quando as casas do Renato Aragão e do William Bonner foram assaltadas (como a de outros famosos), virou noticia, virou manchete e os assaltantes foram até presos. Os que visitaram o meu apartamento, provavelmente assaltaram outros tantos e ficou tudo por isso mesmo.
Eu só queira que a lei tratasse todos de forma igualitária. Aliás, a nossa própria Constituição diz que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. Mas acho que faltou colocar, para ficar sincero e bonito, um adendo de que isso só vale se você for político, Global ou famoso. Ou ambos.
Será que é pedir muito? Ou quem sabe se eu contratar alguém famoso para dizer isso…
História do Brasil – revisada!
Sérgio Cabral e Pezão depois não gostaram do cheiro da História do Brasil revisada
Podemos quase nos orgulhar se tudo se confirmar e termos mais um descobridor.
Estou começando a achar que quem descobriu Paris foi Sérgio Cabral, primo de 6º grau de Pedro Alvares Cabral. Deve ser coisa de família. Tá no sangue. Depois do silêncio, Sérgio resolveu falar pela primeira vez depois de ter sido exposto como o politico brasileiro e carioca que mais tirou foto com a Torre Eiffel nos últimos tempos.
Cabral disse que não se arrepende de todas as viagens que tem feito e que através dessas viagens tirou o Rio do Janeiro do limbo, trazendo investidores nacionais e internacionais. E disse ainda que seu governo é transparente como o Rio Tietê, que apesar de ser de São Paulo, deve servir de referência de uma coisa transparente.
Transparência, segundo o dicionário aqui de casa, tem outro significado. Mas vai ver é coisa da nova reforma ortográfica.
Procuro um prefeito para alugar como tio!
Já comprei a minha placa
Se você tem um prefeito tio, ou um tio perfeito, não importa o grau de parentesco que você tenha e que pode variar de primo, passando por irmão, até chegar ao cunhado, você tá bem na fita. Em 41 dos 92 municípios do estado do Rio de Janeiro, há parentes de prefeitos e vice-prefeitos no primeiro e no segundo escalões de governo.
Ou seja, a prática de nepotismo é ainda corriqueira.
Mas tio, eu tô até aceitando um cargo de terceiro escalão, tá?
Foco, por favor!
Melhor assim com o Gurgel? Ou melhor assim com o Cachoeira?
Nós como sociedade atenta às mazelas de nossos políticos, devemos exigir mais foco por parte de quem quer respostas e coibir os que parecem querer atrapalhar ainda mais a CPI do Cachoeira.
Essa história envolvendo agora o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, parece querer tirar as lentes do foco principal que é Carlinhos Cachoeira, a Delta e o senador sem partido e vergonha-na-cara Demóstenes Torres.  E que pode também com isso querer dificultar ainda mais a já arrastada questão do julgamento do mensalão.
Foco, galera! Foco!
Rio dois mil e quanto?
Quando será que o Rio de Janeiro vai sair do limbo na Saúde e na Educação?  Depois o ministro Alexandre Padilha vai ficar chateado. Mas será que ele sabe que 67% das emergências do estado do Rio sofrem com falta de equipamentos? Aliás, será que alguém, além dos que precisam e sentem isso na pele, sabe disso?
E será que alguém consegue explicar a razão da sangria de dinheiro público nos hospitais federais do Rio de Janeiro, que segundo a Controladoria Geral da União chega a formar um prejuízo de R$ 96,5 milhões de reais? Nunca ninguém percebeu nada? Se isso já acontece nos hospitais federais, o que será que acontece nos hospitais do município? Quem é que está anestesiado e deixa isso chegar a esse ponto?
E podemos bater no peito com orgulho de ter a segunda maior taxa de reprovação escolar do país, ficando somente atrás de Minas Gerais. Tá bom pra você? Não para mim! E depois vem o governo dizer…
É o caos!
Salvem as baleias. Não joguem lixo no chão. Não fumem em ambiente fechado.

Sobre mulheres inteligentes.

Por Téta Barbosa
Mulheres inteligentes são assim: MultiTask.
Porque ser inteligente não é de todo difícil. Mas quero ver ser inteligente, levar o menino pro dentista, pegar o carro na oficina, lembrar do aniversário da sogra, comprar o corretivo certo para seu tom de pele, saber que soutien com alça de silicone não se usa (nem sob tortura) e ainda almoçar salada usando aquela calcinha que está te apertando mas que, se tudo der certo, vai fazer o maior sucesso logo mais a noite.
Então, minha admiração por mulheres inteligentes que são lindas, descoladas,  têm doutorado e ainda sabem a diferença entre pó compacto e iluminador, só aumenta.
Vamos aos fatos:
Bruna Caputo – advogada concursada. Concursada, repito.Voltando de Garanhuns (onde trabalha) para Recife, deu um duplo mortal carpado com o carro. Leia-se: capotou várias vezes porque um cachorro atravessou a BR . Quando aterrizou ela pensou: bem que a moça da concessionária avisou que esse carro tem tecnologia de fórmula 1 (seja lá o que isso signifique). Na seqüência, o alívio: meu shiseido está intacto, ufa.
*Se você é homem, inteligente e concursado e mesmo assim não sabe o que é shiseido, acabo de provar minha teoria: mulheres são phoda.
Fabiana Moraes – melhor jornalista em linha reta do Norte/Nordeste (incluindo a Bahia). Tem mais prêmio do que bingo de quermesse. Por esses dias postou uma matéria escrita por ela. O título da matéria: Os limites da infodiversão – resgate do jornalismo impresso, televisivo ou online e sua relação com o entretenimento. O título da postagem: “é tudo mentira, eu só penso em rímel.”
Porque ser inteligente é fácil, quero ver ser inteligente e usar rímel à prova d’água ao mesmo tempo.
Futilidades, diriam os espertos.
Concordamos. Deixemos eles preocupados com as coisas importantes desta vida: peladas (do futebol e do canal para adultos).
A gente se preocupa com o resto.
*Mas se a gente tivesse uma ajudinha, ia ser massa. Fica a dica.
Acordei tão feminista hoje. Por isso, se quiser abrir a porta para eu passar ou pagar a conta do jantar, fique à vontade.

domingo, maio 06, 2012

Os Tipos de Veríssimo

O Analista de Bagé

Ele se diz freudiano ortodoxo, mas tem um jeito todo próprio de aplicar os fundamentos da psicanálise. Quando o cliente é homem, por exemplo, o Analista de Bagé o recebe logo com um “joelhaço”, método que consiste em atingir em cheio os bloqueios do analisado. Dói, mas dá resultado, segundo dizem os que encontram ar para falar depois. Criado para Jô Soares interpretar num programa, o psicanalista gaúcho acabou não sendo usado na TV, mas se transformou no personagem mais popular de Verissimo.

Família Brasil 

Um pai que sofre vendo o salário acabar e o mês insistir em continuar; uma filha que preza o amor acima de tudo, inclusive acima dos rendimentos do pai, que sustenta o revezamento de genros em sua casa; um neto curioso em relação ao mundo, coisa que o avô já não sabe mais explicar, se é que soube um dia. Assim é a Família Brasil, ou parte dela. Verissimo criou no início dos anos 80 este típico núcleo da classe média nacional e até hoje desenha seus personagens.
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Velhinha de Taubaté

Os governos mudam, as promessas se renovam, as autoridades nem tanto, mas se há uma coisa firme no país é a crença da Velhinha de Taubaté. Presidentes da República e ministros, por exemplo, a consideram um patrimônio nacional, já que ela acredita em todos os seus projetos e nas justificativas que dão depois para o fracasso dos projetos. Criada durante o Governo Figueiredo, a Velhinha não é mais personagem das crônicas de Verissimo, mas permanece um símbolo da fé cega no Brasil.

Ed Mort

O escritório – chamado de “escri”, porque o “tório” não cabe no imóvel – tem cadeira (uma), telefone (cortado), jornais (antigos), muito movimento (de baratas e um rato), mas o que atrai mesmo as belas clientes são o charme e a argúcia do detetive. Mort, Ed Mort. Assim está na plaqueta na porta da sua sala, assim ele se apresenta desde que foi criado por Verissimo no final dos anos 70, como paródia aos tipos da literatura noir. Tornou-se, para sempre, um dos detetives mais conhecidos do país.
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Dorinha

Você pode já ter estado várias vezes ao lado de Dora Avante e não ter percebido. A ravissante, como Verissimo a chama, já fez incontáveis cirurgias plásticas, numa proporção aproximada de uma para cada marido (não lhe perguntem os nomes deles, ela se lembrará no máximo dos mais recentes). Dorinha se comunica com Verissimo sempre por carta, contando novidades de seu movimento político, as Socialites Socialistas, e de seus intensos movimentos físicos e financeiros.

Variações do acaso

Pedro Süssekind trabalha a relação entre forma e conteúdo em romance de múltiplos níveis narrativos


Pedro Süssekind, autor de Triz
Triz, primeiro romance de Pedro Süssekind, propõe logo de saída uma importante premissa, que pode ser fundamental enquanto chave de compreensão de sua obra: a de que “a vida só faz sentido durante as horas de jogo”.
Com efeito, o protagonista-narrador, Murilo Zaitsev Albuquerque, num primeiro momento, faz-nos saber que é um viciado em corrida de cavalos. Mas não se trata apenas de mais um caso de jogador compulsivo que, ao fim e ao cabo, acabará falindo, tanto material quanto moralmente, como muitos personagens literários obcecados por jogatinas. Nesse sentido, aliás, é o próprio narrador que nos remete a outros grandes romancistas russos que tratam da temática do jogo, instaurando, assim, de modo explícito, como um de seus procedimentos narrativos, o diálogo intertextual que com eles estabelece, como ocorre com Dostoiévski (O jogador) e Gustav Traub (A aposta). Indo além destes, poderíamos citar também os mais modernos Verão em Baden-Baden (1981), de Leonid Tsípkin, ou ainda outro, de matriz freudiana, Aurora (1926), do austríaco Arthur Schnitzler, em que o primeiro-tenente Wilhem, devido às suas pulsões obsessivas, perde-se completamente diante da impossibilidade de saldar uma absurda dívida de jogo. Recorrentes a todas essas obras, o desespero fatal dos que se endividam por conta do vício.
O que, no fundo, distingue Murilo de tantos outros anti-heróis jogadores, representantes do fracasso e da derrocada, advindos da ilusão dos ganhos desse flertar com a própria sorte, é que ele reflete sobre o ato de jogar como indissociável do ato de viver, acredita mais no acaso e na intuição do que nas estratégias articuladas para a almejada vitória e confessa:
Já eu, que só enxergo nas corridas as imprevisíveis variações do acaso, até ouço as constantes e variáveis das análises estatísticas, acredito nelas, mas no caminho para o guichê de apostas sempre sou assaltado por alguma intuição definitiva e aparentemente infalível. Os números e os nomes se combinam, tomando forma, e finalmente escolho seguir aquela intuição em vez da estatística. Mesmo assim, é preciso admitir meu fracasso na tentativa de imitar Aleksiéi Ivânovitch, de Um jogador, ou de Nikolai Kolotov, de A aposta, afinal meu sangue russo talvez seja muito diluído para gestos dramáticos, dívidas acumuladas, derrocadas e riscos exagerados. Gasto um pouco, ponho na conta do divertimento; a alegria de um ou outro acerto, se não paga as perdas, compensa com sobra as apostas erradas…
Se é verdade, então, que Süssekind rende homenagem aos russos (uma vez que o protagonista, neto de russo, é estudioso e amante da literatura russa, além de seu tradutor), especialmente às obras que têm o jogo como assunto dominante, é também verdade que,  numa proposta abrangente e filosófica, busca investir na leveza do acaso e em suas múltiplas variações, em que o que importa é apostar, mais do que ganhar ou perder. Daí por que, seja nas questões concernentes às corridas no Jóquei do Rio de Janeiro, seja no que diz respeito a seus relacionamentos amorosos, ou mesmo nas escolhas tradutórias que precisa fazer, Murilo encarna, de certa forma, o que Schiller postulara em Sobre a educação estética a respeito do impulso lúdico como elemento necessário ao ato criativo. Tais idéias de Schiller fundamentadas em Kant, em síntese, revelam que “é no estado lúdico, ‘desinteressado’ ou ‘desinteresseiro’ (isto é, sem interesse na existência material do objeto) que o homem supera as dilacerações da vida interessada”. Seguindo essa linha de raciocínio, percebemos que um dos aspectos mais interessantes do livro de Süssekind reside exatamente no fato de apostar no discurso eminentemente estético, já que como anunciamos anteriormente “a vida só faz sentido durante as horas de jogo”. Se a vida é jogo e a natureza lúdica é intrínseca ao humano (Huizinga — Homo ludens), o homem deve jogar com a beleza e fruir o que o ato de apostar traz em si, enquanto fuga possível das dilacerações da realidade.
É esse traço lúdico que perpassa todo o romance, para além do vício, que, no caso, não faz do protagonista um perdedor aniquilado, mas alguém que vai aprendendo a jogar com as cartas que a vida lhe apresenta.
Viciado em tradução
Outro jogo em que o narrador também se vicia é o da tradução. De fato, mais do que ser o profissional a quem cabe a tarefa de traduzir a obra A aposta, de Gustav Traub, em que o médico russo Nikolai Kolotov será vítima das armadilhas do carteado, Murilo se deixa contaminar por ela, dando indícios de que, assumindo as funções de seu metiê, revela-se bem mais do que co-autor do texto que se propõe a verter para o português. É como se passasse a vivenciá-lo em sua própria história pessoal.
Nesse nível do desenrolar da narrativa, cabe toda uma discussão sobre o papel do tradutor e os limites e alcances de seu trabalho. Calvino já asseverara que “Tradurre è il vero modo di leggere un testo” (“Traduzir é o verdadeiro modo de ler um texto”), mas Süssekind parece radicalizar essa máxima, já que o protagonista de Triz está tão impregnado do que traduz que talvez se pudesse afirmar que para ele “traduzir é o verdadeiro modo de viver um texto”. Com efeito, é tão decisiva a influência da obra de Traub no espírito do narrador que a composição do romance, várias vezes, se utiliza do recurso da apropriação de trechos inteiros da obra daquele escritor. Se pensarmos no tradutor como um leitor exímio e extremamente habilitado, no limite, o que aqui se apresenta é a instigante questão dos efeitos do texto no espírito de quem o lê (a propósito, vale mencionar o interessante estudo de Stefano Calabrese, Wertherfieber, bovarismo e outras patologias de leitura romanesca).
Importa notar o quanto esse tipo de procedimento enriquece o romance como um todo, porque, por meio do jogo tradutório, Süssekind aponta a outro grande achado da literatura contemporânea, qual seja o das projeções especulares.
Projeções
Não é à toa que o primeiro capítulo da obra nos apresente Murilo apostando na corrida de cavalos no Jóquei Clube do Rio de Janeiro e o segundo nos desloque radicalmente, remetendo-nos, de chofre, a um dos trechos do romance A aposta, em que o perfil de Nikolai Kolotov vai se desenhando, no inverno rigoroso de Paris, onde o médico russo teria sido exilado. Para alinhavar a dinâmica fragmentária pré-anunciada (em que dois personagens, aparentemente dissociados e distantes, apresentam histórias diversas no mesmo corpo narrativo), o autor lança mão do expediente tradutório.
A tradução, nesse sentido, é um eixo de força que opera em dois níveis. O primeiro, mais evidente é o intra-ficcional, num viés metaliterário (já que Murilo é tradutor literário de Traub):
Kolotov cumprimenta o anfitrião, dizendo-lhe que é uma honra jogar numa mesa com banca tão ilustre. Então Fouquet o saúda amavelmente e indica o lugar vago bem ao lado daquele cavalheiro de grandes olhos negros (olhos vulpinos, segundo a definição de Traub que me levou a consultar o dicionário) dirigidos fixamente para as fichas vermelhas que equilibra em seus dedos finos, como se as examinasse.
O segundo nível é o que se estabelece para fora do âmbito estrito do romance, em que a tradução serviria de ponte de intermediação entre o narrador e o leitor (como se o narrador também precisasse “traduzir” — no sentido de “fazer o receptor entender” a história de Traub) que, se assim não fosse, ficaria sem saber que Murilo e Kolotov são protagonistas de romances distintos, que se tocam e se refletem especularmente.
Em outras palavras, só depois de termos sido apresentados a Murilo e em seguida a Kolotov é que ficamos sabendo que o primeiro é o tradutor do segundo e que se deixa contaminar tanto pelas atribulações e intrigas do médico, viciado em “faraó” (espécie de jogo de cartas comum à época — fins do século 19, início do 20, na Rússia), que, a todo momento, evoca os parágrafos e situações que traduz do romance para a sua própria experiência, projetando-se neles (como num jogo de espelhos, em que um revela o outro e vice-versa).
De certa forma, os níveis tradutórios se abrem aos níveis projecionais: Traub está para Süssekind, assim como Kolotov para Murilo.
Virando o jogo
Ainda que o romance ganhe força por meio desse universo de equivalências e correspondências, o que acaba lhe conferindo um tom maior é exatamente o de apostar nas idiossincrasias de cada um dos respectivos jogadores.
Por mais que possa ser uma obra de amor à Literatura Russa e aos autores que a dignificaram, por mais que Triz possa ser lido como homenagem ao grande e ainda pouco conhecido Gustav Traub (segundo o narrador, “o maior escritor russo depois de Púchkin”) e ainda que haja uma série de aproximações entre Murilo e Kolotov, talvez o grande lance de Süssekind tenha sido o de, ao final, virar o jogo, ponderando:
É exatamente o fato de ter ganhado que leva Kolotov à ruína, pensei ao passar pelas calçadas quase alagadas, na rua do Catete. Sabia o que estava para acontecer: da próxima vez que ele encontrasse Iáchvin, já seria para cair na sua armadilha. Restava da minha primeira leitura do romance, feita anos antes de começar a traduzi-lo, uma impressão angustiante dessa parte do livro, suscitada pela maneira seca como Traub descreve a derrocada do protagonista. Não há uma preparação, um processo gradual, ele simplesmente continua a apostar indefinidamente, e quando não tem mais recursos, recorre a Iáchvin como se isso fosse natural, sem se preocupar. Daquele ponto em diante, parece não haver escapatória.
Murilo, diversamente de Kolotov, mesmo perdendo, tem a escapatória dos que apostam na vida e só querem fruir o prazer estético do jogo, que pode ser também o de narrar, já que como diz analogamente a canção, ele segue, “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas sempre aprendendo a jogar”…

O literato da memória

Autor bissexto, memorialista singular, ourives da narrativa: Pedro Nava tem seu lugar reservado na história da literatura brasileira como muitos em um só.

Pesquisa recente sobre o índice de leitura do Brasil dá conta de um cenário bastante sombrio para um país que se imagina numa espiral incontestável do sucesso, certamente alavancado pelo lance de dados da economia mundial, que, malgrado o fato de não se recuperar nos países centrais, nas nações em desenvolvimento (ao menos por enquanto) tem prometido um futuro brilhante de desenvolvimento socioeconômico. Todavia, o Brasil não conhece o Brasil. E prova maior disso, para retomar a pesquisa citada acima, é a constatação de que este é um país que não lê. Ou, na melhor das hipóteses, lê pouco e lê mal. Tudo isso a despeito de as editoras comemorarem as listas dos mais vendidos; de os escritores se refestelarem nos prêmios e nas festas literárias; não obstante as oficinas de escritores e os cursos de letras que abundam nas casas de cultura e adjacências.
Ainda assim, o Brasil foi o berço de Pedro Nava.
De forma semelhante, este mesmo Brasil é acusado, dia sim e outro também, de não ter memória. Talvez sejam os casos de corrupção, que tornam toda crônica política mais absurda que qualquer realismo mágico. Ou, ainda, talvez seja culpa de certa visão cínica que marca os formadores de opinião, estes que, penas de aluguel, a todo momento decidem reescrever as interpretações e buscar um novo efeito de sentido para a história recente do país. O Brasil não conhece o Brasil, vale a pena reiterar. O Brasil se esquece do Brasil, é justo postular. Portanto, a acusação, legítima e corriqueira, exige algum tipo de reparação. A resposta, todavia, não poderia ser mais simbólica. Em vez de reação efetiva à idéia da perda do registro histórico-cultural do país, nota-se um estado de inanição por parte dos intelectuais, que refletem cada vez mais para seus pares e seus projetos particulares.
Todavia, foi nesse mesmo ambiente, quiçá ainda mais precário, que surgiu Pedro Nava.
Dono de um dos textos mais elaborados da prosa brasileira, Pedro Nava, com efeito, permanece como um autor sui generis na literatura brasileira. Em verdade, em um desses estudos acadêmicos alguém já deve ter especulado o fato de que, em Minas Gerais, a literatura brasileira parece viver um tempo diferenciado. Porque é nessa região que alguns dos principais prosadores do país, de Cyro dos Anjos a Guimarães Rosa, passando por Otto Lara Resende e Luiz Vilela, se desenvolveram como expoentes do texto literário. Dito de outra maneira, alguém ainda há de averiguar (se já não o fez) qual é o segredo das Gerais, terra que legou à nação grandes autores, como Carlos Drummond de Andrade, cujo centenário se comemora agora em 2012.
E é de Drummond o prefácio que abre o Baú de ossos, livro que a Companhia das Letras acaba de relançar junto a Balão cativo, respectivamente primeiro e segundo volumes da coleção que reúne o memorial de Pedro Nava. No texto de abertura do livro, o autor de Alguma poesia recorre à imagem mais tradicional para descrever a personalidade literária de Nava: trata-se de um bissexto. Verdade que Drummond menciona a característica em outra seara das artes, a pintura, mas é correto assinalar que, também na prosa, Pedro Nava foi considerado um autor bissexto, isto é, alguém que insistia em publicar de tempos em tempos, respeitando, talvez, um determinado espaço para a absorção de suas obras, como que estabelecendo um acabamento formal aos textos, de maneira a transformá-los na mais perfeita representação de seu projeto literário. Sobre isso, vale mais uma vez recorrer à imagem que Drummond propõe acerca de Nava: “a minúcia descritiva e a arguta propriedade vocabular são recursos para identificar, através de cada pormenor, o sentido específico da coisa, a ‘alma do negócio’”. Temos aí, em poucas palavras, o efeito produzido pela literatura de Nava. Em poucas palavras, a bela composição entre forma e conteúdo.
Com efeito, a despeito dos fartos elogios que os medalhões da literatura brasileira dispensam a Pedro Nava, é comum assinalar que o valor da obra desse escritor reside na qualidade textual do autor, algo que, como sabe quem já frequentou um curso de letras, está absolutamente ultrapassado — esse tipo de texto cedeu espaço para a lingüística aplicada e para as disciplinas de leitura e compreensão de textos. Em que pese a acuidade dessa avaliação acerca do estilo Nava, cumpre observar que esses dois campos — forma e conteúdo — não estão distantes na obra do escritor mineiro. Em verdade, é bem possível assinalar que a forma concede ao texto de Nava uma naturalidade e uma leveza para um tema assaz complexo, que é, na verdade, uma interpretação sobre o Brasil. Suas memórias, nesse sentido, servem como um modelo de invenção literária conjugada com o encadeamento da memória, de tal maneira que ambos os pontos funcionam em continuidade.
Um indício pode ser visto já no primeiro capítulo de Baú de ossos, livro que, não por acaso, começa com um traço inconfundível da mineiridade: “Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais”. Ou seja, de um lado, a aparente modéstia da parte a da frase (“eu sou um pobre homem”); de outro, a menção à terra que serve de referência para a sua narrativa: (“do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais”). Que não haja equívoco aqui: o ser mineiro aqui está na afirmação que, em tese, não possui qualquer gravidade ou afirmação de espírito. Ainda assim, basta olhar a referência acima e lá está a alusão a Eça de Queirós. Ou, dito de outra forma, já no cartão de visitas, eis um autor que conhece, inclusive, a correspondência do escritor português.
Em seguida, ainda no mesmo capítulo, o leitor tem à sua disposição todo um repertório de imagens, cenas, relatos e referências envolvidas numa linguagem fluida, como também ressaltou o “poeta federal”. Chama a atenção, aqui, a capacidade de Nava de dar continuidade ao texto como se fosse uma longa conversa. É possível afirmar, aliás, que, como poucos escritores, em Pedro Nava o termo prosa não é apenas a designação de uma forma. É, também, a maneira como seu texto flui, numa longa conversa com o leitor. Alguém poderá afirmar que também os (bons) cronistas de jornal contam com esse mérito, de maneira que anunciar esse detalhe como virtude é banal. O argumento seria correto e preciso, não fosse pelo fato de que o memorialista não fica circunscrito à narrativa do cotidiano, por mais banal que suas histórias soem ao ouvido do leitor. Trata-se, antes, de uma composição complexa, uma vez que lida não com as informações da semana, mas com os acontecimentos de uma vida. Foi, a propósito, a filósofa alemã Hannah Arendt quem certa feita escreveu acerca da diferença entre cultura e entretenimento: “a cultura relaciona-se com objetos e é um fenômeno do mundo; o entretenimento relaciona-se com as pessoas e é um fenômeno da vida”. Assim, regida por uma “ordem de mundo” que é a da sociedade do espetáculo, a prosa dos cronistas da imprensa nacional se refestela no espetáculo do entretenimento, conversando sobre pessoas, celebridades, costumes — sem mencionar as falsas polêmicas dos suplementos culturais. De sua parte, a escrita de Nava se posiciona na plenitude do universo da cultura.
Cronista do Brasil
Se a crônica como gênero literário parece ter sido efetivamente tomada de assalto pelos próceres do jornalismo, a ponto de mesmo os teóricos da comunicação e os professores de literatura na desafiadora missão de formar leitores seqüestrarem o gênero, concedendo apenas uma definição possível a esse texto — a saber: um híbrido entre jornalismo e literatura, tomando emprestado desta o estilo e daquele o assunto —, é melhor não pensar nessa definição estanque ao ler Pedro Nava. Isso porque chamá-lo de cronista, neste caso, é diminuir por demais seu empreendimento estético, haja vista que não é o autor que tenta se moldar aos temas abordados, como que deformando o estilo para comportar a forma. O processo é exatamente inverso. É o tema que se transforma sob sua carpintaria literária, pois, com sua prosa fluida e sofisticada, o escritor envolve o leitor num universo íntimo e pessoal, desses que são capazes de alienar a audiência do mundo sensível que o cerca.
Assim acontece, em Baú de ossos, ao discorrer sobre sua genealogia, deslocando-se do tempo presente para o século 18, enumerando toda sorte de referências materiais e imateriais possíveis. Nota-se, nesse quesito, que Pedro Nava não se deixa levar por uma espécie de método ou mesmo “recorte” de observação; antes, procura narrar suas memórias com tamanha argúcia que seria mesmo possível dizer que ele as (re)inventa como gênero literário. A questão da carpintaria, já mencionada no parágrafo acima, é essencial para tal impressão. Nesse primeiro livro de memórias, Nava consegue estabelecer um novo estatuto para o gênero, graças, em boa parte, ao fato de que o tecido de seu texto remonta à composição de um romance. Exemplo gritante dessa aproximação pode ser percebido ao expor suas idéias sobre a relevância das genealogias:
Não é possível vender um cavalo de corridas ou um cachorro de raça sem suas genealogias autenticadas. Por que é que havemos de nos passar, uns aos outros, sem avós, sem ascendentes, sem comprovantes? Ao menos pelas razões de zootecnia devemos nos conhecer, quando nada para saber onde casar, como anular e diluir defeitos na descendência ou acrescentá-la com qualidades e virtudes. Estuda-se assim genealogia, procurando as razões de valores físicos e de categorias morais. (…) Além de ser com a finalidade de conhecer o valor-saúde das famílias e, por extensão, o valor saúde-nacional, há outros motivos que levam aos estudos genealógicos. Herança. Aparecimento de tesouros. Está no último caso essa complicada história da herança do barão de Cocais que revoluciona periodicamente a família Pinto Coelho e leva milhares de seus membros a reverem os tombos de igrejas, bispados, cartórios, a papelada do Arquivo Público Mineiro (…).
Se no primeiro livro a preocupação com a dicotomia genealogia/herança é evidente ao longo do texto, em Balão cativo, a segunda obra das memórias, nota-se a presença destacada do escritor francês Marcel Proust — detalhe perceptível já na epígrafe do livro na presente edição da Companhia das Letras. Além do autor de Em busca do tempo perdido, há ainda Machado de Assis, cuja afinidade eletiva é perceptível também no quesito estilo. Na apresentação, André Botelho escreve, novamente ecoando Proust, acerca da idéia de recuperação do tempo perdido. Com efeito, em Nava, o tempo não apenas é reencontrado, mas também organizado num vasto mundo de referências e de repertório cultural, que vai do escritor La Fontaine ao pintor Jean-Baptiste Debret, passando pelos autores Carlos Drummond de Andrade, Humberto de Campos e Ernest Hemingway.
Assim, para além da questão do estilo, é curioso observar que Botelho empresta um tom sociológico na análise da prosa de Pedro Nava. Dessa forma, é como se o autor reconstruísse os episódios de sua infância e de sua formação como um retrato falado da época, registrando as filigranas das relações sociais de um Brasil demasiadamente marcado pelo patriarcalismo, remontando, portanto, a alguma rigidez nas relações sociais de um Brasil perdido entre o passado e o presente. Em outras palavras, nas histórias que compõem os anos de sua formação, vemos, em paralelo, as marcas determinantes desse espaço sócio-político do país, sobretudo nas suas estruturas mais simbólicas, como fica evidente na exposição dos quadros das relações familiares, ora em Juiz de Fora, ora no Rio de Janeiro.

"Nas histórias que compõem os anos de sua formação, vemos, em paralelo, as marcas determinantes desse espaço sócio-político do país."

Erudição
Em que pese a relevância acadêmica apresentada por André Botelho, o texto de Nava conquista seu próprio espaço sem a necessidade de paratextos. É o próprio Nava quem estabelece uma (alta) literatura, recorrendo à sua memória e a uma análise para lá de original para poder dissertar sobre os temas que ora surgem na sua prosa. Pois é assim, por exemplo, que o leitor tem acesso às referências de Nava quando este escreve sobre a questão da sexualidade oriunda de nossa tradição judaico-cristã. Tomando como base uma leitura bastante peculiar da criação do mundo, Nava atenta para o fato de que, em poucos dias, já “estavam criados os símbolos essenciais e o espírito de Freud rolou sobre a face da Terra”. Em seguida, quem imagina uma exortação fundamentada em textos sagrados é surpreendido com uma longa demonstração de conhecimento sobre esse tema transversal da literatura, como se observa no fragmento a seguir:
Eles desceram pelas idades com sua sinuosa espada de fogo (saberão eles? Que brandem um símbolo!) querendo expurgar a própria Bíblia, o obsceno Homero, o torpe Virgílio, o escabroso Dante, o sacanão do Camões, o safardana do Cervantes, o licencioso Rousseau, o inconveniente Balzac e, recentemente, toda a fauna representada por France, Maupassant, Gide, Dreiser, Proust, Apollinaire, Joyce, Lawrence, Cocteau, Hemingway, Radiguet — em suma, todos que usam o que se convencionou chamar pensamento ou linguagem não protocolar.
Autor bissexto, memorialista singular, ourives da narrativa: Pedro Nava tem seu lugar reservado na história da literatura brasileira como muitos em um só. Ainda assim, o que o torna realmente sui generis é sua imaginação como autor. E isso se deve à sua erudição refinada. Tal preparo intelectual está associado à formação de Nava, que, para além de médico, foi um grande leitor. Foi a partir dessa condição que ele soube estabelecer um registro biográfico sobre a sua trajetória e sobre o país que não conhece a si mesmo.

Lúdico e mágico

Nas crônicas de A perfeição não existe, Tostão apesenta reflexões e idéias para além dos campos de futebol


Tostão, autor de A perfeição não existe
Parece que estamos diante de um livro extremamente importante sob diversos pontos de vista: repensa o futebol contemporâneo e, ao fazê-lo, elabora uma leitura do imaginário e da escrita contemporâneos. O futebol brasileiro foi e é capaz de produzir um dos mais potentes e — por isso mesmo — problemáticos espelhamentos desta sociedade. Neste livro, lê-se uma afirmação da potência do futebol por meio da resistência aos discursos hegemônicos — sobretudo entre torcedores, técnicos e jornalistas — que não fazem jus aos fundamentos lúdicos e mágicos do esporte. Ao lidar com os restos de uma marca brasileira no futebol mundial — representada da maneira mais completa pela seleção da Copa de 1970 —, este livro encontra-se, no limite, emaranhado nas questões da literatura contemporânea, que lida sobretudo com os arquivos da modernidade.
Em busca da beleza
A escrita de Tostão conquistou um espaço de singular relevância no ensaísmo brasileiro. Publicadas semanalmente em jornais de inúmeros estados do país, suas crônicas atravessaram a primeira década deste século dando algo mais do que o testemunho de um craque da Copa de 1970 que, posteriormente, se tornou médico, professor de Medicina e estudioso em Psicanálise. Para se trabalhar bem um gênero que exige rápida comunicação, um gênero típico do jornalismo e marginal à tradição do livro, é necessário fazer ver a espessura do cotidiano — no caso, do dia-a-dia do futebol. Em Tostão, essa espessura encontra-se na crítica à linguagem com que se fala de futebol. Por isso suas crônicas são sempre propositivas, nunca impositivas. (Quando se impõe, não se questiona a linguagem utilizada.)
Mais do que propor como assistir ou jogar futebol, os textos de A perfeição não existe restituem o esporte como um lugar da cultura em que se definem valores necessários à vida, como na crônica em que interpreta o passe de bola: “Assim como o gol confirma a eficiência de um time, e o drible simboliza a individualidade e a improvisação, o passe representa o futebol coletivo, a solidariedade, a organização e a união de uma equipe”. Estes valores, que são imanentes ao esporte, podem ser encontrados com a mesma intensidade na arte, e é por isso que são inúmeros os poetas, prosadores, artistas em geral mencionados por Tostão para pensar o futebol.
Na mesma crônica, intitulada O passe, o escritor, após definir o passe de curva, reivindica a fala e a obra de um artista para dar a medida estética de um recurso do esporte:
O passe de curva, com a parte superior e interna do pé ou com os dedos laterais (três dedos, de rosca, trivela), é um ótimo recurso técnico para fazer a bola contornar o corpo do adversário e chegar ao companheiro que está atrás do marcador. É um passe bonito e inventivo. “A linha reta não sonha” (Oscar Niemeyer).
A beleza da maioria das análises de Tostão está em reivindicar o sonho e a utopia no futebol com base em recursos técnicos e táticos objetivos (como o passe em curva ou a tática de equipe aliada ao improviso individual), fugindo tanto ao tatibitate tecnicista dos técnicos quanto à mistificação emocional dos torcedores. Não se trata exatamente de ver o futebol com outros olhos, e sim de despir-se de saberes pouco úteis para se compreender uma partida de futebol como manifestação autônoma da cultura humana — e não do mercado de jogadores, da violência urbana, da corrupção política, da alienação social, etc. Também não se trata exatamente de defender o futebol-arte, pois o que se defende, antes de tudo, são as condições de possibilidade para que o futebol aconteça, quer dizer, para que um drible, em vez de ofender o adversário, expresse a beleza de uma disputa esportiva.
Força humanizadora
As crônicas de Tostão, ao posicionar o futebol no campo do sonho, da curva, da arte, numa linguagem simples e de rápida comunicação, realizam a força deste gênero literário tal qual preconizada pelo crítico Antonio Candido. No ensaio que dedicou ao gênero, A vida ao rés do chão, Candido define de maneira dialética a crônica como aquele texto cuja linguagem simples “fala de perto ao nosso modo de ser mais natural” e, ao mesmo tempo, como “compensação sorrateira”, recupera “certa profundidade de significado e certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata à perfeição”. A presença desta ambigüidade entre linguagem simples e significado profundo parece constituir, para a crônica, a prova do livro. No caso do de Tostão, o título estabelece um diálogo insuspeito com o crítico: A perfeição não existe.
A reunião em livro de crônicas escritas durante pouco mais de uma década deixam muito evidentes as repetições de idéias do autor. Por exemplo, são inúmeras as crônicas em que fala do ex-companheiro Pelé, defendendo que uma das principais qualidades do jogador estava na visão de 360 graus que tinha das jogadas a serem realizadas pela equipe. Tais repetições, embora deixem à mostra o caráter circunstancial com que os textos foram escritos, fazem lembrar o caráter de ritual do futebol. Isso porque as partidas de futebol funcionam como ritos de passagem da semana para o brasileiro. Afinal, segunda-feira é o dia de se ter na ponta da língua o discurso jocoso dirigido aos torcedores do time adversário. Por isso a crônica é o gênero que mais tem se repetido para se falar de futebol, pois ela também constitui um ritual de escrita com dia certo para se fazer e quantidade certa de caracteres a atender.
Apesar disso, o livro que reúne as crônicas de Tostão pode ser considerado um ensaio dedicado ao futebol brasileiro contemporâneo. As análises de Tostão transitam entre variados campos do saber, podendo ser consideradas interdisciplinares. O autor chega a apresentar resultados de pesquisas científicas para elaborar seus argumentos, sem utilizá-los como argumento de autoridade. Ao mencionar um livro de psicologia esportiva que procurava analisar o peso dos aspectos psicológicos em relação aos aspectos técnicos em atletas profissionais, Tostão se apropria do resultado, sem no entanto aderir totalmente ao ponto de vista da pesquisa: “Os dois especialistas disseram ainda que, em competição de alto nível, 70% das decisões são definidas pelos fatores psicológicos. Exageros à parte, é indiscutível sua importância”.
Outro aspecto que aproxima A perfeição não existe do gênero ensaístico é a mescla de estilos de que se compõem os textos. Além das análises de jogos, jogadores, técnicos, confederações e campeonatos, as crônicas de Tostão compõem-se muitas vezes de suas memórias — algumas não relacionadas diretamente com sua atividade de jogador de futebol — e de pequenas narrativas ficcionais, como naquelas em que imagina o drama psicológico de técnicos de futebol como Luxemburgo e Felipão. Uma das crônicas narra a noite de Natal de João, um menino pobre que sonha em ser craque de futebol. Sem poder entrar numa escolinha de futebol do bairro (pois a família não tinha condições de pagar a mensalidade), o menino passa a noite de 25 de dezembro sonhando com o dia em que se torna um craque. “João acordou e, ao lado da cama, viu uma bola de presente. Era de couro, novinha, igual à do sonho. Seus olhos brilharam. Era feliz e sabia.”
Através de uma narrativa como essa, baseada num lugar-comum da cultura brasileira, o autor relaciona uma imensa memória social a sua defesa do futebol como sonho, ou, mais precisamente, como espaço de definição dos valores da vida. Em Conto de Natal e de futebol, uma bola, brinquedo que dispensa manual de instruções, dribla a pobreza da família e restitui, para o menino, a possibilidade de buscar o sonho. A bola humaniza.
A voz de Tostão transforma a seleção brasileira de 1970 em um ponto de vista do futebol. Esta seleção é o objeto de reflexão da crônica homônima ao livro: é “fascinante”, mas não perfeita. O encontro entre jogadores altamente técnicos e habilidosos não produziu uma seleção perfeita, mas encerrou um ciclo de afirmação mundial do futebol brasileiro que havia se iniciado em 1950 e que enredou o futebol na cultura brasileira. Pelé, protagonista deste ciclo histórico, é uma referência para a própria escrita de Tostão ou, antes, para a própria escrita da crônica: “Quando joguei ao lado de Pelé, percebi que uma de suas principais qualidades era tornar simples o que era complexo. Tudo se iluminava à sua frente”. Na mesma crônica, Pelé é comparado com Freud: “Quando entrei no curso de psicanálise, imaginei que jamais entenderia as idéias de Freud. Logo percebi que seus textos eram tão claros, convincentes e simples que até os mistérios da alma tinham lógica. Freud colocou ordem no caos”.

Tostão por Osvalter
Estilo em campo
Essa simplicidade como prova de evidência dos argumentos é conquistada pelo estilo de Tostão. Predominam no seu texto as relações de coordenação entre as orações, há muitos “isso e aquilo” e, sobretudo, muitos pontos finais. “Temos virtudes e defeitos. Somos humanos. Ambivalentes e pecadores. Uns mais, outros menos.” Assim como a interdisciplinaridade estabelece relações entre um campo de conhecimento e outro, o predomínio desse estilo coordenativo (tecnicamente denominado parataxe) mantém a equivalência entre uma idéia e outra — em detrimento das relações hierárquicas que a subordinação estabelece. Tudo isso resulta num texto que, através de sua simplicidade, compõe uma extensa superfície, um plano de idéias, memórias, conhecimentos que somam entre si.
Para Tostão, as palavras não são a bola com a qual se joga. Seu trabalho move-se por um desejo anterior, mais fundamental: o de estabelecer para o leitor um campo de jogo, um espaço discursivo no qual o futebol possa ser pensado em seus valores mais fundamentais. É este campo — de linguagem — que não está dado, mas que não cessa de ser jogado a cada partida de futebol. Repetindo a maestria com que conduzia a seleção brasileira, Tostão “dá o campo” para o leitor fazer o seu gol. Nesse sentido, todo bom escritor é superficial: inventa uma superfície — generosa, nua — apta à participação do leitor.
LUIZ GUILHERME BARBOSA