A reflexão foi proposta pela revista eletrônica Salon na matéria When bad people write great books – ou, quando pessoas ruins escrevem grandes livros.
Estimulada por um leitor, Laura Miller, titular do espaço, analisou Charles Dickens – notoriamente um homem que se comportava mal socialmente – e sua obra: “sendo ele um sujeito mau, seria, portanto, errado amar sua obra?”, era a pergunta central.
Dias atrás, V.S. Naipaul, homem de natureza grotescamente misógina, foi notícia ao bradar que, como escritores, homens são melhores do que mulheres.
Naipaul tem um Nobel em algum lugar de sua casa. Não pode ser, a despeito de gosto literário, considerado mau escritor. Mas, como autor, deve ser abandonado por causa das inúmeras declarações intolerantes que já deu?
Monteiro Lobato, hoje sabemos, era racista. É, portanto, necessário que deixemos sua obra de lado?
Acho que a pergunta é pertinente e que pode levar a bons debates.
Minha opinião é a de que devemos lutar para separar o autor de sua obra da mesma forma que talvez devamos separar o bom jogador de sua vida privada.
Não é tarefa mundana – muito pelo contrário. Monteiro Lobato, para mim, perdeu a graça. Mas deveria ser assim?
O fato é que já não me interessa conhecer a fundo a vida de um determinado autor que eu particularmente adore. Eça, Clarice, Nelson Rodrigues, Machado, Nick Hornby, David Foster Wallace, Proust. Por que quereria eu saber mais a respeito de suas vidas? Não me basta a obra?
E, mesmo quando parte do caráter duvidoso do autor vier à tona através de sua obra, não seria essa uma grande oportunidade para que questões como racismo, sexismo, anti-semitismo e demais preconceitos fossem discutidos? Não seria essa a melhor maneira de eliminá-los?
automobilístico em Carmel, no norte da California.
Acho a obra de Seinfeld genial: livros, stand-ups, sitcom. Quando o vi no mesmo evento, totalmente à paisana e justamente em uma época em que meu encantamento por sua obra estava no ponto mais elevado, me retirei.
Levei anos para entender por que fiz aquilo.
Hoje sei que escapei por medo. Medo de flagar algum comportamento que me parecesse estranho, esnobe ou arrogante e que, com isso, eu deixasse de reverenciar sua obra.
Saí de perto do autor para continuar colada à obra.Mas deveria ser assim Autor: Milly Lacombe
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