terça-feira, maio 10, 2011

Apenas 25% dos alunos que terminam o fundamental aprendem o que deviam da língua portuguesa

No Brasil, mais de 700 mil crianças de 6 a 14 anos ainda estão fora da escola. Na escala de 0 a 10 do Ideb, o indicador de qualidade do MEC, a média dos estudantes do 5° ano foi 4,6 em 2009.

O Jornal Nacional apresenta uma série especial de reportagens sobre os maiores problemas da educação no Brasil. Nesta terça-feira (10), o repórter Alan Severiano dá um panorama do ensino fundamental, que foi ampliado de oito para nove anos. 
O Brasil do presente e o futuro do país passam pelo quarteirão do mercado financeiro de São Paulo, que movimenta bilhões de reais por dia.
Mas o que crianças da região vão ser quando crescerem? “Vai ficar que nem o pai, puxador de carroça, catador de papelão”, disse um catador. Sem endereço fixo, o pai diz que não consegue matricular os filhos.
Ana tem 8 anos, nunca foi à escola e tem uma enorme vontade de aprender a ler.
No Brasil, mais de 700 mil crianças de 6 a 14 anos ainda estão fora da escola. Apesar da ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos, nem todos os que frequentam a sala de aula aprendem.
No 5° ano, muitos ainda não conseguem ler. O Pará é o estado em que alunos do 5° ano tiveram pior desempenho no Ideb, o indicador de qualidade do Ministério da Educação. O número combina o resultado das provas oficiais com o índice de aprovação. Na escala de 0 a 10, a média dos estudantes brasileiros do 5° ano foi 4,6 em 2009. O Pará ficou com 3,6. A meta do país é chegar a 6 em 2022.
“A maioria dos alunos está saindo do 5° anos sem saber ler. Descobrir palavras conseguem, interpretar o que lê é que está o grande problema”, destacou o professor Haroldo Gonçalves.
Os alunos percorrem grandes distâncias para chegar à escola, onde 30% dos professores não têm nível superior.
A diretora de uma escola em Breu Branco, no Pará, mostrou um freezer vazio. No dia da visita da equipe do Jornal Nacional, não tinha merenda.
Os primeiros anos do ensino fundamental são a base para toda a vida escolar. Foi nessa etapa que a educação brasileira mais avançou recentemente. Mas ainda estamos longe de atingir uma meta importante: alfabetizar todas as crianças até 8 anos.
Dos 4 aos 8 anos, a área do cérebro responsável pela linguagem está em plena atividade. Se compararmos com a rede elétrica de uma casa em construção, é a hora de fazer o máximo de conexões. Quanto mais tomadas instaladas, maior a capacidade de fazer ligações no futuro.
E a criança que não se alfabetiza no tempo certo? “Tarefas de leitura e escrita serão tarefas que exigirão sempre muito esforço dela. E possivelmente ela não venha a ter a mesma habilidade que aquela que iniciou na idade mais apropriada”, explicou a psicóloga Nadia Aparecida Bossa.
O resultado é que no Brasil só 34% dos alunos que terminam o 5º ano sabem português como deveriam. No fim do ensino fundamental, o aproveitamento é ainda pior: 26%.
A possível explicação para o problema está na porta de uma escola em São Paulo. “A gente está saindo mais cedo, todo dia. Falta de professor. Venho na escola para aprender e não para sair mais cedo”, contou Leonardo Nates, de 11 anos.
Em Maceió, o retrato do desinteresse: centenas de carteiras quebradas com menos de dois anos de uso. Do pátio à secretaria, faltam funcionários.
“Eu fico no portão, eu ajudo na merenda. A gente funciona porque a escola precisa funcionar, mas é difícil”, relatou a diretora de escola Cely Barbosa.
Em outra escola, ameaçado por bandidos, o porteiro foi embora. No lugar dele, estava um aluno. “O diretor mandou eu ficar aqui fechando o portão. Quando chegar algum aluno, abrir o portão para eles entrarem. A minha aula pelo momento não estou assistindo”, disse Leandro Ferreira de Moraes, de 17 anos.
“A gente está levando o problema para a secretaria e espero que ela resolva o mais rápido possível”, declarou o diretor Jeferson Levino.
Com nota 2,9, Alagoas ocupa o último lugar no ranking do Ideb no fim do ensino fundamental, bem abaixo da média brasileira: 4,0.
A falta de estrutura nem é o maior problema. Estamos em 2011, mas alguns alunos ainda não saíram de 2010. As aulas que começaram no ano passado só vão terminar em julho, com sete meses de atraso. Em Alagoas, o calendário também virou inimigo do ensino. Foram seis greves nos últimos quatro anos.
“O pessoal das outras escolas passando e a gente aqui ficando. É ruim”, disse Joyce Tainá, de 15 anos.
“Fico sem vontade até de estudar, já pensei até em desistir”, desabafou outro aluno.
O exemplo não vem de cima. No mural, um erro de português é o sinal da falta de cuidado com a educação.
“Em um futuro bem próximo que alunos estamos formando? Sem vontade pela leitura, sem gosto pela leitura. A culpa talvez seja nossa, a culpa é da escola, a culpa é da sociedade, quem culpar?”, questionou um professor.
A Secretaria Estadual da Educação de São Paulo disse que o problema da falta de professores é pontual. Segundo a secretaria, o que foi mostrado nesta reportagem já foi resolvido e as aulas serão repostas.
A Secretaria estadual de Educação de Alagoas informou que foi criado um calendário especial para evitar mais prejuízos aos estudantes. E que, agora, apenas um em cada dez alunos está cursando o ano letivo de 2010.
A secretaria de educação de Breu Branco, no Pará, contestou as informações dadas pela diretora da escola, de que não havia merenda no dia da visita da nossa reportagem. De acordo com a secretaria, um relatório da própria direção teria registrado os cardápios oferecidos nos três turnos naquele dia. E o freezer mostrado, que estava vazio, seria da refeição dos professores e não dos alunos.
O repórter Alan Severiano disse que, ao pedir para ver o freezer das merendas, a diretoria da escola o levou ao que foi mostrado na reportagem.
(g1.com)

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