Em vez de barreiras nas escolas, educadores defendem respeito e inclusão para diminuir episódios violentos
A morte de 12 crianças na escola municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, colocou a segurança de estudantes entre os principais assuntos nacionais. Diante do choque, muitos defenderam barreiras que mantenham as crianças protegidas, mas pesquisadores de violência escolar vão no caminho contrário. Para eles, a prevenção se faz com fortalecimento das relações entre alunos, professores e, inclusive, com maior integração com a comunidade.
Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena
Escolas públicas no Brasil já são fechadas com grades e cadeados
“Quando acontece uma tragédia, as pessoas pensam em soluções pontuais e não em combater as causas”, afirma o coordenador do Observatório de Violência nas Escolas da Universidade da Amazônia (Unama) em convênio com Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Reinaldo Nobre Pontes. “O motivo deste horror foi o mesmo dos pequenos horrores diários na maioria das escolas: a falta de tolerância”, diz.
Uma pesquisa realizada em escolas da região metropolitana de Belém, no Pará, mostra que 69% dos alunos já assistiram a agressões físicas e 41% psicológicas. “Em todos estes casos, há elementos em comum com grandes tragédias: vingança e ressentimento entre crianças ou adolescentes que não aceitam bem as diferenças. Aí é que temos de trabalhar”, afirma. Para ele, as escolas devem pedir e oferecer ajuda a outras instituições como universidades e o poder judiciário. "A escola não tem que se isolar, o problema é sério e deve ser visto por toda a sociedade."
A pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), Caren Ruotti, lembra que as escolas brasileiras já são bastante fechadas, com muros altos, portões de ferro e divisão entre a área frequentada por visitantes e alunos – a unidade onde ocorreu o massacre em Realengo contava ainda com câmeras. “O país que mais investe em barreiras eletrônicas, os Estados Unidos, é o que mais convive com este tipo de tragédia. Não resolve. Em vez de fechar as portas, temos de evitar que as pessoas queiram se vingar daquele sistema, promovendo um ambiente acolhedor”, diz.
Inclusão exige mais do aluno
Para ela, a inclusão de todos na escola, que ocorreu a partir do final da década de 1980, tornou mais comum a intolerância. “Antes, mesmo na escola pública, a maioria das pessoas só estudava com pessoas parecidas com elas, o que tornava a aceitação do outro mais fácil”, lembra. “Hoje conseguimos incluir pobres e negros e fala-se mais abertamente das opções sexuais o que demanda uma capacidade de compreensão do diferente. Isso ainda não foi resolvido.”
Ela também desmitifica a ideia de que bullying é algo comum, que a maioria das pessoas sofreu na vida escolar. “Uma piada ou agressões isoladas, por pior que sejam, não caracterizam a perseguição contínua e a humilhação implícitas no conceito de bullying. Estamos falando de algo mais sério”, diz.
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Em vez de fechar as portas, temos de evitar que as pessoas queiram se vingar daquele sistema"
A educadora Clélia Brandão, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) arrisca dizer que nenhum aparato teria evitado uma ação planejada como ocorreu no Rio de Janeiro. “A melhor maneira de evitarmos a violência é ensinando a conviver”, defende. Para ela, os professores podem fazer isso pelo exemplo, pela escolha dos conteúdos, pela maneira como tratam os alunos e, inclusive, incluindo a comunidade. “Se a escola se fecha, prega a exclusão”, explica, colocando-se contra a adoção de barreiras.
“Foi terrível, mas quando se fala em medidas para evitar violência escolar, temos de atuar na formação do ser humano para que isso não ocorra na escola, no shopping, no trânsito e dentro de casa.”
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