Próximos 2 anos serão de retomada da produção; em seguida, país deixará para trás a estagnação que dura 20 anos, dizem economistas
A economia japonesa, depois de cerca de 20 anos de estagnação, deverá engatar a marcha do crescimento. A tragédia natural que destruiu parte do país na última semana traz perdas humanas imensuráveis. O perigo nuclear traz preocupação. Mas, quando a situação japonesa é avaliada apenas do ponto de vista macroeconômico, o país terá uma oportunidade de crescimento, segundo economistas. Eles acreditam que passado um momento inicial de retomada de atividade produtiva, que deve durar de um a dois anos, a economia japonesa deverá ter um avanço expressivo.
“Em menor proporção, o Japão deverá ter um revival do avanço que aconteceu no país após a 2ª Guerra Mundial”, diz Reinaldo Gonçalves, professor titular de Economia Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nas décadas de 1950 e 1960, a economia do país deslanchou. No ano de 1968, por exemplo, cresceu mais de 12%.
No entanto, nas duas décadas seguintes, os japoneses avançaram 4,5%, em média. A partir de 1990, foram raras as vezes que superaram 3% de avanço anual. “O país está estagnado há 20 anos, desde 1991, quando terminou o fluxo de investimentos para lá. Agora, poderá voltar a crescer.”
Após dois anos difíceis, de reconstrução, economistas dizem que a economia japonesa deverá apresentar um crescimento forte
Mas o mesmo não aconteceria em outros países, segundo os especialistas, pois poucas economias têm a mesma capacidade de recuperação da japonesa. “O Japão tem um colchão de segurança”, diz Lia Valls Pereira, coordenadora do Centro de Comércio Exterior do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getulio Vargas. O país asiático possui grandes reservas de capitais e a população tem como característica cultural a formação de poupança.
“A situação é totalmente diferente do que houve no Haiti, que é um país carente. O Japão tem uma economia estabilizada e, apesar de perder uns anos se reconstruindo, tem todas as condições de se recuperar”, afirma Daniel Motta, professor de Economia do Insper. Assim, da mesma forma que conseguiu se levantar após o terremoto de Kobe, em 1995, desta vez o país não deverá ter problemas para financiar sua reconstrução e retomar o consumo.
A estimativa de perdas nas regiões afetadas pelo terremoto e pelo tsunami é de cerca de 15 trilhões de ienes (aproximadamente R$ 284,5 bilhões a R$ 305 bilhões), diz o Credit Suisse em relatório. Mas o Japão possui reservas sete vezes superiores a este valor, de aproximadamente US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 2,2 trilhões), lembra Gonçalves. “Só em ouro, os japoneses têm US$ 35 bilhões (R$ 58 bilhões), que é exatamente o montante estimado para os prejuízos das seguradoras com a tragédia”, diz o professor da UFRJ. "Com esses recursos, o Japão vai tirar de letra a reconstrução", diz Gonçalves.
Reconstrução
Na opinião dos economistas, serão necessários dois anos, no máximo, para a economia japonesa entrar em uma trajetória de crescimento. Neste período, pode ser que os japoneses percam o posto de terceira maior economia do mundo para a Alemanha, depois de já terem sido ultrapassados pelos chineses no ano passado. Mas a aposta é que devem recuperar a posição nos anos seguintes.
“O PIB deverá ter sofrer impactos no curto prazo, sobretudo em função dos efeitos negativos da catástrofe natural sobre o setor de alta tecnologia. Mas acredito que os japoneses levarão dois anos para se recompor”, afirma Celso Grisi, professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do instituto de pesquisas Fractal.
Neste primeiro ano, o Japão será palco de dois movimentos: investimentos fortes em infraestrutura e aumento do consumo das famílias. "Não será um ano de crescimento econômico, mas sim de “retomada de atividade”, diz Motta, do Insper.
Os setores de telecomunicações, de portos, industrial e comercial, que foram destruídos, receberão uma injeção de recursos para serem refeitos. Também serão destinados capitais para a compra de máquinas e equipamentos. Ao mesmo tempo, os japoneses que perderam suas casas e carros vão colocar a mão na poupança e voltar a comprar esses ativos.
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