segunda-feira, outubro 01, 2012

Viva a democracia, desde que...



Embora as atenções dos jardinenses estejam voltadas para a ferrenha disputa eleitoral pela sucessão de Antônio Macaco, é possível que alguns estejam acompanhando o julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.
Comparando esses dois momentos, lembrei-me de uma frase proferida pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que, em depoimento à CPI, no dia 4 de agosto de 2005, defronte de José Dirceu, na época o todo-poderoso chefe da Casa Civil de Lula, afirmara àquele: “Vossa Excelência provoca em mim os instintos mais primitivos.”
Pois bem. Durante a Festa da Padroeira e os dias que se seguiram, acompanhei, atentamente, as ações e reações da população local. Nas ruas e na internet, impossível não testemunhar comportamentos que, guardadas as devidas proporções, assemelham-se ao sentimento revelado por Roberto Jefferson. As eleições deste ano, na opinião deste humilde escriba, provocaram os instintos primitivos de muita gente.
Antes, acreditava que, para revelar a personalidade de alguém, bastava lhe conceder dinheiro ou poder. Nos últimos meses, no entanto, descobri outra coisa capaz de fazer as pessoas mostrarem a verdadeira face. Basta fazer delas um fanático eleitor. Alguns destes, no calor da disputa, comportam-se de modo irreconhecível: agridem, insultam, caluniam, difamam, sem se importarem com a extensão de suas atitudes.
Antes de a campanha se iniciar, já me preocupava o estado de beligerância que reinaria no município. Deixei isso bem claro em inúmeras postagens. Publiquei até uma “previsão do tempo” alertando para isso, que, para meu espanto, foi interpretada por alguns de maneira completamente equivocada. No atual estágio em que a disputa se mostra, não se pode negar que minhas previsões, infelizmente, foram todas confirmadas. O embate entre o amarelo e o azul pelo poder tem se mostrado pior do que ocorrera na eleição de 2000. Jardim parece um barril de pólvora, cujo risco de explosão, temo, continuará alto mesmo após se conhecer o eleito.
Entristeço-me quando vejo adolescentes e jovens, que sequer podem votar, mergulhados de corpo e alma nessa disputa insana. Preocupo-me quando deparo com adultos e idosos comportando-se como crianças, passando por cima de tudo e de todos visando, unicamente, à vitória do salvador da pátria que “escolheu”. Perco a esperança quando me vejo morando em um lugar em que quase todos os eleitores não dão a mínima para o comércio desavergonhado de consciências.
Resisto a acreditar que tamanha paixão vista nas ruas seja motivada apenas pelo desejo de ver este município progredir. Já fui tolo. Não sou mais. Peço perdão a quem a carapuça servir, porém, discordo veementemente de todos os que, na ânsia de defender o lado escolhido, saem a disparar insultos e impropérios aos que consideram adversários. Confesso que, mesmo tendo optado por me manter neutro, sinto-me atingido por eleitores de ambos os lados quando estes afirmam que não compartilhar da mesma opinião deles é sinal de despreparo intelectual, incompetência pessoal ou profissional, falta de caráter ou inconformismo com a vida que se leva. Quanta estupidez e ignorância!!!
  
Desculpem-me se fui excessivamente duro e direto. Mas achei que deveria externar como me sinto. Gosto muito de Jardim de Piranhas. Guardo profundo respeito por quase todos os habitantes deste lugar. Quem convive de perto comigo sabe que detesto este período eleitoral, momento em que, para meu profundo desgosto, assisto a familiares, amigos e conhecidos digladiando-se a troco de nada. Toda eleição me deprime, na medida em que, a cada dois anos, convenço-me de que jamais conhecerei a cidade com que sonho.
Só me resta, pois, torcer para que essa guerra por poder e prestígio vitime o menor número de jardinenses. Embora não creia nem por um segundo, faço votos para que, a partir de 2013, esta amada terra entre nos trilhos e encontre, finalmente, o caminho da paz e do progresso. E que o próximo governo, ao contrário de todos os anteriores, não se ocupe em perseguir quem vestiu uma cor diferente na época da campanha.

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