"Minha geração teve uma formação excepcional, em escola pública, laica, republicana"
Perguntar qual a importância da educação para mim é como perguntar qual o significado da minha própria vida. Ela é constitutiva da minha própria existência. Venho de uma família de jornalistas e professores, então a presença da formação educacional vem desde meu primeiro mês de vida!
Mas gostaria de realçar algumas questões que me marcaram em particular: em primeiro lugar, a qualidade da escola e dos professores que eu tive ao longo da vida. Foram excepcionais. Minha geração teve uma formação excepcional, em escola pública, laica, republicana. Tive o privilégio de estudar em escolas públicas que tinham professores muito bem formados, reconhecidos e bem remunerados. Havia infra-estrutura para o ensino e até para uma pequena pesquisa.
Mas gostaria de realçar algumas questões que me marcaram em particular: em primeiro lugar, a qualidade da escola e dos professores que eu tive ao longo da vida. Foram excepcionais. Minha geração teve uma formação excepcional, em escola pública, laica, republicana. Tive o privilégio de estudar em escolas públicas que tinham professores muito bem formados, reconhecidos e bem remunerados. Havia infra-estrutura para o ensino e até para uma pequena pesquisa.
Um segundo aspecto é que não consigo imaginar minha trajetória intelectual sem a contribuição do ensino que tive especificamente na área de Humanidades. Na época, todos os alunos tinham contato com o que havia de mais consistente na cultura ocidental. Só de línguas estrangeiras, por exemplo, aprendi Inglês, Francês, Espanhol, Latim e Grego. E além das disciplinas convencionais - como Português, História, Geografia e Literatura - havia a Filosofia.
Tive um professor de Filosofia incrível: [João] Eduardo [Rodrigues] Villalobos. Foram suas aulas que me levaram a optar por essa área de estudo. Minha intenção inicial era me tornar professora do Colegial. Isso porque, já na época, percebi o papel formador decisivo que a Filosofia tinha na escola, para todos os estudantes. De criar espírito crítico, questionador, independente da opção profissional futura.
Meu professor me fascinou ao mostrar que o pensamento é capaz de pensar a si próprio, e a linguagem é capaz de falar ela própria. Essa reflexão foi minha descoberta filosófica fundamental. Pensar é alcançar algo até então desconhecido, tendo a certeza de que não há saber pronto e acabado. Considero uma vitória o retorno da Filosofia ao Ensino Médio.
Por último, acho importante dizer que na minha época, tínhamos um profundo desprezo pela escola privada. Era considerada de baixa qualidade, apenas uma rede comercial. Existia para os alunos ricos, preguiçosos, mal informados. Sua função era oferecer diplomas para quem não queria estudar. Quando um colega ia para a escola privada, dizíamos: "Ih! Ele vai para o clube!".
Passei apenas três anos fora do sistema público de ensino, em um colégio religioso. Mas isso me marcou profundamente porque lá tive contato com um excesso de hierarquia e com uma clara desigualdade econômica e social entre as alunas. Muito diferente do que vivi na escola pública, aonde as diferenciações vinham da personalidade, do modo de se relacionar com os estudos, das amizades.
Cabe, entretanto, ressaltar que não havia na época uma política educacional que visasse a sociedade brasileira como um todo. A educação existia somente em determinados lugares. Portanto, o que descrevo aqui é uma experiência dentro da cidade de São Paulo. Quando não havia a marca da atual capital paulistana: a diferença entre centro e periferia. No meu tempo, os bairros mais afastados eram tão equipados educacionalmente quanto os mais centrais. As escolas supriam a demanda de toda a cidade.
Vivemos tempos de uma violenta desigualdade social e econômica, de polarização entre a carência absoluta - que caracteriza a periferia - e o privilégio absoluto - no caso, o centro. E isso começou a partir da Ditadura Militar, que criou uma cidade-arquipélago.
Também na Ditadura é criada a ideia de que escola pública é subversiva. A crise começou com a destruição das escolas vocacionais e, posteriormente, do resto das escolas públicas. Tudo isso com o apoio dos empresários da educação. Houve uma inversão de papéis, com a subordinação da educação ao dinheiro. Uma tragédia.
Tive um professor de Filosofia incrível: [João] Eduardo [Rodrigues] Villalobos. Foram suas aulas que me levaram a optar por essa área de estudo. Minha intenção inicial era me tornar professora do Colegial. Isso porque, já na época, percebi o papel formador decisivo que a Filosofia tinha na escola, para todos os estudantes. De criar espírito crítico, questionador, independente da opção profissional futura.
Meu professor me fascinou ao mostrar que o pensamento é capaz de pensar a si próprio, e a linguagem é capaz de falar ela própria. Essa reflexão foi minha descoberta filosófica fundamental. Pensar é alcançar algo até então desconhecido, tendo a certeza de que não há saber pronto e acabado. Considero uma vitória o retorno da Filosofia ao Ensino Médio.
Por último, acho importante dizer que na minha época, tínhamos um profundo desprezo pela escola privada. Era considerada de baixa qualidade, apenas uma rede comercial. Existia para os alunos ricos, preguiçosos, mal informados. Sua função era oferecer diplomas para quem não queria estudar. Quando um colega ia para a escola privada, dizíamos: "Ih! Ele vai para o clube!".
Passei apenas três anos fora do sistema público de ensino, em um colégio religioso. Mas isso me marcou profundamente porque lá tive contato com um excesso de hierarquia e com uma clara desigualdade econômica e social entre as alunas. Muito diferente do que vivi na escola pública, aonde as diferenciações vinham da personalidade, do modo de se relacionar com os estudos, das amizades.
Cabe, entretanto, ressaltar que não havia na época uma política educacional que visasse a sociedade brasileira como um todo. A educação existia somente em determinados lugares. Portanto, o que descrevo aqui é uma experiência dentro da cidade de São Paulo. Quando não havia a marca da atual capital paulistana: a diferença entre centro e periferia. No meu tempo, os bairros mais afastados eram tão equipados educacionalmente quanto os mais centrais. As escolas supriam a demanda de toda a cidade.
Vivemos tempos de uma violenta desigualdade social e econômica, de polarização entre a carência absoluta - que caracteriza a periferia - e o privilégio absoluto - no caso, o centro. E isso começou a partir da Ditadura Militar, que criou uma cidade-arquipélago.
Também na Ditadura é criada a ideia de que escola pública é subversiva. A crise começou com a destruição das escolas vocacionais e, posteriormente, do resto das escolas públicas. Tudo isso com o apoio dos empresários da educação. Houve uma inversão de papéis, com a subordinação da educação ao dinheiro. Uma tragédia.
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