Anunciado como vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura na última terça-feira à noite, Rubens Figueiredo já se coloca como um dos autores mais premiados do ano. O seu "Passageiro do fim do dia", publicado esse ano pela Companhia das Letras, já havia vencido o Prêmio São Paulo de Literatura - Livro do Ano. Mesmo assim, em entrevista realizada uma semana antes do anúncio do Portugal Telecom, o premiado escritor não parecia ser exatamente um fã dos prêmios literários [R$ 100 mil do Portugal Telecom e R$ 200 mil do SP]. "Não sei avaliar. Mas suponho que os prêmios tenham algum efeito", disse.
DivulgaçãoRubens Figueiredo ganha mais um prêmio pelo livro Passageiro do Fim do Dia.
Quando as perguntas são direcionadas ao seu trabalho em si, Rubens Figueiredo é mais "falante". "Passageiro do Fim do Dia" fala sobre o percurso de Pedro em um ônibus, do trabalho para a casa da namorada, no qual ele reflete sobre o mundo ao seu redor. Ao fim do percurso, ele passa a entender melhor os mecanismos de opressão e resistência presentes na sociedade. "Eu queria escrever um livro sobre a desigualdade, as maneiras como ela se reproduz e se legitima. Isso supunha investigar os mecanismos que afetam nossa percepção da desigualdade e dos processos que a produzem", explica. Rubens Figueiredo estará no Festival Literário da Pipa - Flipipa para falar sobre "Romance e Narrativas" em mesa também composta pelo escritor potiguar Carlos Fialho. O bate-papo fecha a última noite da Flipipa, no dia 18 de novembro, a partir das 21h30. Além de romancista, Figueiredo também é tradutor, tendo sido responsável por traduções importantes como "Pais e Filhos" e "Anna Karenina", clássicos da literatura russa.
O senhor venceu o Prêmio São Paulo de Literatura e o Prêmio Portugal Telecom em 2011. Qual a importância dos prêmios para que o autor consiga se fazer ver por crítica e público?
Rubens Figueiredo - Não sei avaliar. Mas suponho que os prêmios tenham algum efeito, pois constituem um recurso usado em muitos países.
Como se deu a entrada no "mercado" de literatura, tanto como tradutor quanto como autor? Uma das principais reclamações dos autores é a dificuldade de ser visto. Essa dificuldade é real?
RF - Comecei a escrever meu primeiro livro aos vinte e dois anos, eu acho. Demorei dois anos para escrever e esperei quase cinco anos para que alguma editora o publicasse. Comecei a traduzir movido pela necessidade de completar meu orçamento mensal, depois que tive de abandonar um dos dois colégios onde lecionava. Tive problemas de voz e outras circunstâncias enjoadas num dos colégios. Eu já havia publicado três livros meus, nessa altura. Achei que podia traduzir profissionalmente. E já faz vinte anos que estou nessa rotina de traduzir, escrever e dar aula num colégio à noite.
Como se dá o trabalho de composição de seus romances? Há autores que elaboram verdadeiros mapas com nomes de personagens, lugares, traços do enredo, etc. Como foi o processo de composição de Passageiro do Fim do Dia?
RF- A estrutura de meus livros vai se delineando à medida que o livro vai ganhando corpo. Quero dizer, não tenho um plano prévio da composição do livro: quando o assunto e o alcance do livro se define melhor em meu pensamento e no texto, surge também a ideia de uma estrutura. Mesmo numa fase já um pouco adiantada do trabalho, essa estrutura se modifica, pois também se modifica minha compreensão do que o livro quer e pode dizer. O que prevalece não é uma ideia prévia de composição. É o significado geral do livro que determina sua estrutura.
Resenhas acerca do "Passageiro do Fim do Dia" tratam os devaneios de Pedro como "fluxo de consciência", comumente ligado a temáticas mais subjetivas. Ao mesmo tempo, o livro aborda temas sociais. Como o senhor trabalhou essas duas características para chegar ao resultado final?
RF- Eu queria escrever um livro sobre a desigualdade, as maneiras como ela se reproduz e se legitima. Isso supunha investigar os mecanismos que afetam nossa percepção da desigualdade e dos processos que a produzem. Queria questionar o motivo de nossa dificuldade para reconhecer a presença de tais processos em gestos e situações banais do cotidiano. Achei que a dimensão subjetiva pesava bastante na questão e explorei isso no livro.
O senhor tem um trabalho de tradutor reconhecido, além de ser romancista e contista. O que há de diferença e de semelhança nos dois trabalhos? Há uma influência mútua?
RF- Há uma influência recíproca, sim. Acho que a chave está no emprego consciente da língua portuguesa como destino final de ambas atividades. Quero dizer, quando escrevo, algo que se exprime como sentimento, ideia, imagem tem de ser traduzido em língua portuguesa. Na tradução, experiências expressas em outros idiomas são, da mesma forma, traduzidas para o português.
O que ocorre com Pedro, o personagem principal do romance, é uma espécie de epifania? Ele passa a perceber a realidade que o cerca de forma diferente, ele passa a perceber as relações de poder?
RF- Não sei dizer se é uma epifania. Prefiro pensar que ele, e o leitor a seu lado, tenta compreender os mecanismos de um processo cuja presença ele pressente o tempo todo como algo opressivo e resistente à sua atenção.
No livro não fica claro qual a cidade onde se desenrola a trama. Qual o seu objetivo ao utilizar essa ferramenta?
RF- Os nomes dos logradouros são todos fictícios. A despeito do acúmulo de detalhes concretos e particulares, eu queria dar a impressão de algo muito generalizado, mas ao mesmo tempo familiar e próximo o bastante para que o leitor se sentisse parte do problema.
O senhor venceu o Prêmio São Paulo de Literatura e o Prêmio Portugal Telecom em 2011. Qual a importância dos prêmios para que o autor consiga se fazer ver por crítica e público?
Rubens Figueiredo - Não sei avaliar. Mas suponho que os prêmios tenham algum efeito, pois constituem um recurso usado em muitos países.
Como se deu a entrada no "mercado" de literatura, tanto como tradutor quanto como autor? Uma das principais reclamações dos autores é a dificuldade de ser visto. Essa dificuldade é real?
RF - Comecei a escrever meu primeiro livro aos vinte e dois anos, eu acho. Demorei dois anos para escrever e esperei quase cinco anos para que alguma editora o publicasse. Comecei a traduzir movido pela necessidade de completar meu orçamento mensal, depois que tive de abandonar um dos dois colégios onde lecionava. Tive problemas de voz e outras circunstâncias enjoadas num dos colégios. Eu já havia publicado três livros meus, nessa altura. Achei que podia traduzir profissionalmente. E já faz vinte anos que estou nessa rotina de traduzir, escrever e dar aula num colégio à noite.
Como se dá o trabalho de composição de seus romances? Há autores que elaboram verdadeiros mapas com nomes de personagens, lugares, traços do enredo, etc. Como foi o processo de composição de Passageiro do Fim do Dia?
RF- A estrutura de meus livros vai se delineando à medida que o livro vai ganhando corpo. Quero dizer, não tenho um plano prévio da composição do livro: quando o assunto e o alcance do livro se define melhor em meu pensamento e no texto, surge também a ideia de uma estrutura. Mesmo numa fase já um pouco adiantada do trabalho, essa estrutura se modifica, pois também se modifica minha compreensão do que o livro quer e pode dizer. O que prevalece não é uma ideia prévia de composição. É o significado geral do livro que determina sua estrutura.
Resenhas acerca do "Passageiro do Fim do Dia" tratam os devaneios de Pedro como "fluxo de consciência", comumente ligado a temáticas mais subjetivas. Ao mesmo tempo, o livro aborda temas sociais. Como o senhor trabalhou essas duas características para chegar ao resultado final?
RF- Eu queria escrever um livro sobre a desigualdade, as maneiras como ela se reproduz e se legitima. Isso supunha investigar os mecanismos que afetam nossa percepção da desigualdade e dos processos que a produzem. Queria questionar o motivo de nossa dificuldade para reconhecer a presença de tais processos em gestos e situações banais do cotidiano. Achei que a dimensão subjetiva pesava bastante na questão e explorei isso no livro.
O senhor tem um trabalho de tradutor reconhecido, além de ser romancista e contista. O que há de diferença e de semelhança nos dois trabalhos? Há uma influência mútua?
RF- Há uma influência recíproca, sim. Acho que a chave está no emprego consciente da língua portuguesa como destino final de ambas atividades. Quero dizer, quando escrevo, algo que se exprime como sentimento, ideia, imagem tem de ser traduzido em língua portuguesa. Na tradução, experiências expressas em outros idiomas são, da mesma forma, traduzidas para o português.
O que ocorre com Pedro, o personagem principal do romance, é uma espécie de epifania? Ele passa a perceber a realidade que o cerca de forma diferente, ele passa a perceber as relações de poder?
RF- Não sei dizer se é uma epifania. Prefiro pensar que ele, e o leitor a seu lado, tenta compreender os mecanismos de um processo cuja presença ele pressente o tempo todo como algo opressivo e resistente à sua atenção.
No livro não fica claro qual a cidade onde se desenrola a trama. Qual o seu objetivo ao utilizar essa ferramenta?
RF- Os nomes dos logradouros são todos fictícios. A despeito do acúmulo de detalhes concretos e particulares, eu queria dar a impressão de algo muito generalizado, mas ao mesmo tempo familiar e próximo o bastante para que o leitor se sentisse parte do problema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário