Movimento envolve escolas, alunos e comunidade. Mas convence poucos
O tempo está se abrindo, prometendo um lindo dia no estado do Alabama, especialmente na pequena Citronelle, cidadezinha do distrito de Mobile. Um grupo bastante otimista de alunos do ensino médio dali espera que, pelo menos por um dia, ninguém fale palavrões. Talvez as pessoas consigam substituir o linguajar obsceno por palavras mais amenas, ou mesmo pela expressão regional “Oh, pickles!”.
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A Comissão Distrital de Mobile, através de uma solicitação de alunos que fundaram “clubes contra os palavrões” nas escolas Lott e Semmes Middle, declarou um veto às palavras obscenas durante toda a segunda-feira de 14 de fevereiro – dia dos namorados no país.
A comissão também disponibilizou aos alunos uma verba de US$5.000 para a organização de uma assembléia com a presença de McKay Hatch - adolescente californiano que em 2007 fundou o No Cussing Club como forma de tentar estimular toda uma nação que simplesmente adora proferir impropérios a parar de falar palavrões. “Conheço crianças que crescem em lares onde este linguajar obsceno é tão comum como o próprio inglês”, diz Merceria Ludgood, uma das integrantes da comissão distrital que engloba a cidadezinha de Citronelle– onde está localizada a Lott Middle School. “Os palavrões são uma questão menor, o grande problema é a civilidade. Nós nos tornamos uma nação mais medíocre”, acredita.
Fazer com que crianças em idade escolar parem de falar palavrões parece um trabalho de Sísifo. Porém, o movimento contra a linguagem obscena a duras penas vem conseguindo crescer nos últimos anos, especialmente com os próprios administradores de escolas, pais e alunos buscando novas formas de combater o bullying – atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, usados para intimidar outro indivíduo incapaz de se defender.
“Se você chama alguém usando um palavrão, isso já é um ato de bullying”, disse Nick Meinhardt, aluno da oitava série que preside o clube que deu início ao movimento contra os palavrões na Lott Middle School.
Em Connecticut, administradores de uma escola de Hartford tentaram aplicar multas de US$103 a alunos que usassem linguagem obscena. Mas, segundo um dos administradores, a iniciativa logo foi abandonada. Já o estado do Texas parece mais persistente na causa. Em outubro, um adolescente que confrontou outro aluno com um palavrão recebeu uma multa de US$340.
Palavrão x bullying
Foto: NYT Ampliar
Braceletes anti-palavrão são usados por quem se compromete a não usar linguagem obscena
“As iniciativas contra a linguagem obscena simplesmente não funcionam”, é o que afirma Timothy Jay, professor de psicologia da Faculdade de Artes Liberais de Massachusetts e autor de cinco livros sobre linguagem e comportamento - dentre eles os títulos “Why We Curse” e “Cursing in America”. “Os xingamentos sempre existiram. Se tudo funcionasse, ninguém diria palavrões”, disse ele.
O movimento contra a linguagem obscena não é diferente das iniciativas contra as drogas, que trabalham sob o argumento de que a maconha abre as portas para outros entorpecentes. As verdadeiras questões são bem mais profundas do que simplesmente dizer não.
“Precisamos ensinar as pessoas a lidar com a raiva, ao invés de simplesmente dizer a elas para não fazer isso. Assim, estamos lidando apenas com um sintoma”, disse Jay.
Embora Mike Dean, outro integrante da Comissão Distrital de Mobile, tenha votado a favor do financiamento do programa anti-palavrões, ele também se referiu ao mesmo como um artifício. Aos 55 anos, Dean está mais focado nas questões de infra-estrutura. Ele diz que cinco mil dólares é o suficiente para comprar vários equipamentos para um parquinho infantil ou mesmo para pavimentar um estacionamento. “Na minha época, nos ensinavam o respeito. As crianças eram punidas”, ele diz.
Mesmo McKay, que está no ultimo ano do colegial da South Pasadena High School, na Califórnia, enfrenta dificuldades para manter o interesse da nação no “clube contra os palavrões”, fundado por ele em 2007. Anteriormente, o clube era muito mais solicitado: McKay era convidado para os noticiários matinais e para o programa “The Tonight Show With Jay Leno”. Ele atingiu seu auge quando convocou uma coletiva de imprensa, no ano passado, depois de o vice-presidente Joe Biden soltar um palavrão em rede nacional ao cumprimentar o Presidente Barack Obama pela aprovação da revisão do sistema de saúde do país.
Apesar da afirmação de Brent Hatch, pai de McKay, de que o movimento (patenteado por ele) já conte com 100 clubes em escolas e igrejas em todo o mundo e 20.000 integrantes online, a planejada turnê contra os palavrões por 60 cidades americanas fracassou por falta de verbas. E mesmo que Brent Hatch continue tentando recrutar escolas para a turnê “Bullied No More”, ele admite que o interesse tenha se limitado, em grande parte, aos estados da Califórnia e Arizona. Além disso, logo seu filho vai para a faculdade e o empreendimento familiar contra a linguagem obscena irá desaparecer.
Por isso, pai e filho vão aproveitar ao máximo a viagem ao Distrito de Mobile, onde eles pretendem dar as caras nos órgãos distritais para a proclamação do dia sem-palavrões e, em seguida, seguir caminho para a Lott Middle School, com seus 500 alunos.
Este não é o primeiro ataque contra a linguagem obscena realizado pelo clube desta escola. Em dezembro, foi organizada uma assembléia onde houve a distribuição de braceletes contra os palavrões, alunos se comprometeram com a causa e promessas foram feitas.
Mas, pelos corredores da escola, na semana passada, os pôsteres do movimento provocaram reações de reprovação - especialmente entre os garotos da oitava série.
Wayne Jenkins, 14 anos, disse que participou do pacto em dezembro e que participaria da assembleia. Mas ele não está completamente convencido de que isso faça alguma diferença. Para ele, falar palavrões é um habito que já está impregnado na sociedade.
“Eu tenho um irmãozinho de 4 anos e ele conhece todos os palavrões existentes”, diz.
Tradução: Claudia Batista Arantes
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