sábado, julho 09, 2011

OS INESQUECÍVEIS ANOS 80


Raul Seixas profetizou que seriam anos de “melancolia e promessas de amor”. Entretanto, para quem era jovem ou adolescente na época, a década de 1980 não foi nada melancólica. Muito pelo contrário: constituiu-se num período inesquecível, marcante, que, atualmente, é relembrado com um misto de satisfação e saudade.

Quem hoje possui menos de trinta anos pode considerar exagero deste humilde escriba. Afinal, Jardim de Piranhas, naqueles tempos, não oferecia muitas das facilidades modernas. Não havia CD, DVD, computador, internet, Playstation. Telefone era artigo de luxo, assim como motocicletas, antenas parabólicas e televisão em cores. A população sofria com a falta de hospital, dentistas, óticas, laboratório de análises clínicas. O comércio oferecia poucas opções. Teares elétricos eram raros. Contudo, apesar de tudo isso, arrisco a dizer que fomos espectadores privilegiados de um momento ímpar da História local.

Assistimos ao surgimento do Real Sociedade Independente e do Clube Atlético Piranhas. Dividimo-nos entre um e outro. Trabalhamos arduamente, visando ao engrandecimento de ambos. Rivalizamo-nos dentro e fora de campo, mas sempre com respeito e civilidade, apesar de algumas esporádicas discussões, travadas entre os torcedores mais apaixonados. Todo domingo, era programa obrigatório ver o jogo do time de coração. Cada gol marcado era celebrado com fogos de artifício, cujo objetivo também era o de “informar” à torcida rival que se estava vencendo.

Divertíamo-nos indo a festas no mercado público. Isso até serem construídas a quadra do ginásio e as sedes sociais do CAP e do Independente. As bandas de sucesso na época – Circuito Musical, Feras, Impacto 5, Terríveis, Impossíveis, Gota d’Água –, somadas ao Emy Som 7 e ao Caminho Livre, tocavam, durante cinco horas, sucessos atuais e antigos. Ouvia-se de tudo: rock, música romântica, forró, lambada etc. Todos os ritmos tinham sua hora, a fim de atender aos mais variados gostos. Não havia necessidade de se contratar mais de uma banda, o que tornava o preço da entrada acessível à grande maioria da população.

Não foram poucos os namoros que iniciaram quando se dançava uma música romântica. Na época, não se aceitava com naturalidade namorar mais de uma menina na mesma festa. “Ficar”, então, nem pensar. A menina que assim se comportasse logo era tachada de “galinha”. Por outro lado, era dever de todo bom rapaz, terminada a festa, acompanhar a namorada até a residência dela e procurá-la no outro dia, nem que fosse para, usando-se uma desculpa qualquer, informá-la de que não queria continuar o relacionamento. Caso não seguisse esse “protocolo”, corria-se o risco de ficar com a reputação “manchada” e, assim, ser rejeitado por outras meninas que tentasse namorar no futuro.

Ouvíamos boa música, de qualidade infinitamente superior aos “sucessos” atuais. Acompanhamos o surgimento de Cazuza, Legião Urbana, Titãs, Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Kid Abelha, RPM, Engenheiros do Hawaii. Também curtíamos forró, mas cantado por artistas da categoria de Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Jorge de Altinho, Elba Ramalho. Roberto Carlos ainda não havia perdido sua inspiração e, todo final de ano, brindava-nos com um novo disco e um imperdível especial na Rede Globo.

Não havia a ostentação que se vê na atualidade. Como a cidade era pequena, todos ainda se conheciam e se tratavam com mais respeito e camaradagem. As drogas se resumiam à maconha (consumida às escondidas, por um restrito grupo) e ao “loló”. Podia-se dormir em paz e assistir à TV em qualquer dia da semana, já que ninguém possuía “paredões” de som.

Se eu fosse aqui mencionar todos os fatos que marcaram a década de 1980, o texto final, certamente, cansaria alguns leitores deste modesto blog. Muitos dos jovens e adolescentes de hoje, após a leitura desta postagem, certamente não irão concordar com alguns (ou todos) fatos nela registrados. E o farão com toda a razão. Eles, quando chegaram à casa dos quarenta anos, também lembrarão com saudade a época atual. Assim é a vida. Não adianta lutar contra ela nem tentar modificá-la. Para nossa felicidade, temos a capacidade de guardar na memória os bons momentos que marcaram nossa existência. E como é prazeroso fechar os olhos e relembrar tais momentos.

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