Nova "Cinderela" conclama mulheres a se libertar
O livro "La Cenicienta que No Quería Comer Perdices" retrata uma princesa que é infeliz no casamento até aprender a dizer "basta"
Branca de Neve e Bela Adomercida: largando o Prozac
As espanholas Nunila López, escritora, e Myriam Cameros, ilustradora, não tiveram exatamente a ideia mais original da literatura quando recontaram a clássica história de Cinderela. Ainda assim, seu livro "La Cenicienta que No Quería Comer Perdices" virou um sucesso antes mesmo de ser publicado na Espanha - e só chegou ao papel graças à circulação virtual alcançada antes da impressão.
A chave do sucesso? O perfeito casamento entre as ilustrações modernas e cativantes de Myriam, que também é grafiteira e artista plástica, e o texto contemporâneo e irônico de Nunila, que desde os 28 anos decidiu ganhar a vida contando suas próprias histórias.
Certamente há um pouco de cada uma delas - e de cada mulher - na nova Cinderela. A começar pelo título, uma referência ao tradicional desfecho dos contos de fada em espanhol que, em vez de "e viveram felizes para sempre", terminam com "y fueron felices y comieron perdices" ("e foram felizes e comeram perdizes").
A Cinderela da dupla era vegetariana e um pouco insegura: de tão ansiosa, ela bebe demais no baile e chega em casa às 12h – do dia seguinte, sem se lembrar de nada. Ao calçar o sapatinho de cristal, espera que o príncipe seja a solução de todos seus problemas. Mas esse é apenas o começo deles.
A heroína descobre que a vida sobre saltos de cristal e servindo um príncipe que só queria comer perdizes é deprimente. Com o tempo, percebe que para libertar-se precisa dizer "basta!" - esse, aliás, é o nome da fada madrinha.
A Cinderela de Nunila e Myriam: vegetariana, ela sofre com os sapatos de cristal e as perdizes
Em "La Cenicienta", conhecemos os destinos alternativos não só de Cinderela, que abre um restaurante vegetariano, mas também da Bela Adormecida e da Branca de Neve, que estão largando o Prozac; de Pinóquio, que decide buscar a verdade, e do Homem de Lata, que encontra seu coração chorando.
Depois de conseguirem custear uma primeira edição de tiragem modesta, com contribuições espontâneas de amigas que receberam e repassaram a obra pela internet, as autoras foram contatadas pela Editorial Planeta para o lançamento da segunda edição. O livro deve chegar ao Brasil neste semestre.
Outras histórias
Segundo entrevista à imprensa espanhola, Nunila percebeu que queria contar outros tipos de histórias ao ter seu primeiro filho, há 20 anos. A opção pelo conto de Cinderela para expressar as angústias e dúvidas das mulheres de hoje deveu-se ao elemento do sapato: "além do príncipe, tem o sapato, que é uma forma de tortura estética para a mulher. Para mim, os sapatos de salto simbolizam o peso que temos de carregar todos os dias para estarmos bonitas".
A intenção da história, dedicada a "todas as mulheres corajosas que querem mudar de vida", é mostrar a elas que podem dizer "basta", seja para um trabalho, um estilo de vida ou um relacionamento. "Nossa teoria é que a felicidade é feita por cada uma, respeitando sempre a própria essência. É uma luta contra as mensagens impostas de felicidade", declarou Myriam em entrevista ao jornal La Vanguardia.
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