segunda-feira, fevereiro 28, 2011

O Discurso do Rei é o grande vencedor do Oscar 2011

Veja a lista completa de vencedores do Oscar 2011:
- Melhor fime: "O Discurso do Rei"
- Melhor diretor: Tom Hooper, por "O Discurso do Rei"
- Melhor ator: Colin Firth, por "O Discurso do Rei"
- Melhor atriz: Natalie Portman, por "Cisne Negro"
- Melhor ator coadjuvante: Christian Bale, por "O Lutador"
- Melhor atriz coadjuvante: Melissa Leo, por "O Lutador"
- Melhor roteiro original: "O Discurso do Rei"
- Melhor roteiro adaptado: "A Rede Social"
- Melhor filme estrangeiro: "Em Um Mundo Melhor", Dinamarca
- Melhor trilha sonora: "A Rede Social"
- Melhor canção original: "Toy Story 3", com "We Belong Together"
- Melhor fotografia: "A Origem"
- Melhor montagem: "A Rede Social"
- Melhor direção de arte: "Alice no País das Maravilhas"
- Melhor figurino: "Alice no País das Maravilhas"
- Melhores efeitos especiais: "A Origem"
- Melhor animação em longa-metragem: "Toy Story 3"
- Melhor animação em curta-metragem: "The Lost Thing"
- Melhor mixagem de som: "A Origem"
- Melhor edição de som: "A Origem"
- Melhor maquiagem: "O Lobisomem"
- Melhor curta-metragem: "God of Love"
- Melhor documentário em curta-metragem: "Strangers No More"
- Melhor documentário: "Trabalho Interno"

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Exemplos apontam caminhos para reverter fracasso no ensino médio

Ensino profissionalizante, aulas atraentes, uso de tecnologias e formação de professores mostram resultado

iG São Paulo
Escolas que abrem portas para o mercado de trabalho, aulas ao ar livre, visitas a parques e museus, novas tecnologias à disposição dos alunos e investimento na formação de professores. Para a grande maioria dos jovens brasileiros, iniciativas como essas parecem utopia, mas todas já existem em plena rede pública e dão resultados que apontam caminhos para reverter o fracasso do ensino médio retratado pela série especial do iG Educação.
Foto: Arquivo Pessoal
Alunos de escola estadual de São José (SC) em visita a praia de pescadores em Florianópolis

Uma das ações mais apoiadas por especialistas na área é o crescimento da oferta de vagas em cursos profissionalizantes. Além da conexão com o ambicionado mercado de trabalho que aumenta o interesse dos jovens pelo estudo, os exemplos mostram que as escolas com ensino médio integrado a cursos técnicos conseguem melhores resultados no aprendizado das disciplinas básicas.
Os alunos dos Institutos Federais, que oferecem essa integração, obtiveram nota média igual a dos países mais desenvolvidos do mundo no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), que testa capacidades em leitura, matemática e ciências. As Escolas Técnicas Estaduais, em São Paulo, também estão entre as primeiras colocadas no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
No Brasil todo, no entanto, há apenas 860 mil vagas para cursos assim, incluindo a rede particular: uma para cada 10 jovens que estão no ensino médio. “Nos países mais ricos, a oferta de profissionalizantes é de 20% a 30% do total da etapa. No Brasil, estamos em 10%”, lamenta Wanda Engel, superitendente do Instituto Unibanco.
O governo federal anunciou um programa que deverá ampliar este porcentual dando a alunos de escolas públicas bolsas para cursos no Sistema S, que gerencia Sesi, Sesc, Senai e Senac. A previsão é de que no primeiro ano sejam ofertadas 1,6 milhão de vagas. “Vamos ver como vai funcionar, o ideal seria que essa formação fosse dentro da escola para ajudar a tornar aquele ambiente interessante”, diz a doutoranda em Educação e presidente do Centro de Estudos e Memória da Juventude, Fabiana Costa.
Ensino Médio Inovador
A aposta do Ministério da Educação (MEC) para melhorar a escola tradicional é o projeto piloto Ensino Médio Inovador, que começou a ser implantado no final de 2009 em 357 escolas – 2% das 17 mil unidades desta etapa – em 18 Estados. O governo federal envia uma verba diretamente para a instituição que formular um projeto em que os estudantes tenham 20% mais tempo de estudo com atividades culturais e recuperação de conteúdos em que demonstremm dificuldades.
O responsável pelo projeto, Carlos Artexes, foi diretor de Concepções e Orientações Curriculares para Educação Básica do MEC até janeiro deste ano, quando decidiu voltar a dar aulas em uma instituição de ensino superior no Rio de Janeiro. “Percebemos que era importante fortalecer a cultura das escolas e aumentar o tempo que o aluno passa dentro dela. Vamos ver os resultados em 2012, quando os alunos que estavam no 1º ano em 2010 se formarem”, conta.
Na escola estadual Laércio Caldeira de Andrada, em São José, Santa Catarina, os benefícios já são comemorados. No ano passado, os alunos participantes foram conhecer museus em Porto Alegre, projetos ambientais em Curitiba e áreas históricas em Florianópolis, como a vila de pescadores Pântano do Sul. Dentro da escola, tiveram aulas com a participação conjunta de professores de diferentes disciplinas e novos materiais adquiridos com a verba, como máquina fotográfica, filmadora e laptop.
“Das quatro turmas que temos, duas participaram e a diferença de resultados em evasão e aprendizado foi grande”, diz a assistente técnica pedagógica Rosilane Rachadel Martins, que coordena o projeto na unidade. Ela aponta problemas, como a falta de espaço físico para montar salas e de um profissional pago para tratar apenas do projeto, mas defende que o programa seja estendido para todo o País. “Agora os alunos têm mais expectativas da escola”, resume.
Artexes acredita que o caminho da mudança é esse, ainda que dependa da adesão dos Estados e da criatividade das equipes pedagógicas de cada escola. “O Brasil é uma federação, e os Estados têm autonomia para conduzir o ensino médio, que é responsabilidade deles. Mudanças radicais, como as da China, acontecem em culturas autoritárias. Nós não queremos isso”.
Secretários conhecerão novas diretrizes em março
A mesma linha segue o Conselho Nacional de Educação, que discute desde agosto do ano passado novas diretrizes para o ensino médio. O relator da comissão, José Fernandes de Lima, diz que as ideias estão prontas, mas como muitos responsáveis pelas secretarias estaduais foram trocados com os novos governos empossados este ano, haverá uma nova conversa, já agendada para 30 e 31 de março.
Segundo ele, o esboço das diretrizes, que já está pronto, pede ênfase nas disciplinas ligadas a trabalho, cultura e ciências, mas em vez de fórmulas, incentiva que os sistemas e unidades avaliem do que precisam. “O resumo da nossa mensagem para os gestores é: descubram e assumam a personalidade da sua escola e façam com que isso se aproxime dos interesses da juventude que está perto de você”, afirma Lima.
Foto: Fabio Guinalz/Fotoarena
Liliane Oliveira estagia no laboratório de informática da escola: aprende e ensina
Outros projetos, com bons resultados, ainda que isolados, são de iniciativas de cada secretaria estadual. Em São Paulo, o governo contratou alunos do ensino médio como estagiários do laboratório de informática. Os jovens, que costumam ter uma afinidade maior com a internet do que a maioria dos professores, ganham R$ 400 para passar quatro horas a mais na escola e mantêm abertas as salas de computadores que antes passavam a maior parte do tempo fechadas.
A estagiária Liliane Miranda de Oliveira, de 17 anos, atende professores e alunos da escola estadual Angela Bortolo diariamente. “Eu já sabia informática, mas aprendo a lidar com as pessoas e ajudo quem tem dificuldade”, diz. O diretor da escola, Washington Luis dos Santos Falcão, afirma que os demais estudantes ficaram satisfeitos por contar com o laboratório à disposição no contraturno e que os estagiários apresentam melhora no comportamento estudantil.
Formação e aumento de salário
No Espírito Santo, foi feito um investimento nos professores de matemática, disciplina em que os alunos mais apresentam dificuldades. Uma parceria da Fundação Roberto Marinho com a Secretaria de Educação oferece formação aos docentes da área no ensino médio de 300 escolas desde 2008. Nos dois primeiros anos, os encontros entre os educadores eram quinzenais e, em 2010, passaram a ser trimestrais, mas foi montado um curso à distância com uma rede social própria para 1.500 educadores trocarem ideias.
Foto: Divulgação
Professores de matemática do ensino médio em formação que melhorou média dos alunos em três anos

Para apurar os resultados, é realizada uma avaliação com os alunos nos mesmos moldes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do governo federal. Em 2008, a nota média foi 242, em uma escala de zero a 400, no ano seguinte, 251, e no ano passado, chegou a 272. A professora Marinete Santana, de São Mateus, no interior do Estado, usa o próprio exemplo para dizer que a mudança foi maior do que atestam os números. “Antes, a gente pulava conteúdo que não sabia, eu fazia isso com geometria”, assume.
Os professores recebem R$ 160 por mês para fazer a formação com 40 aulas. Também houve um expressivo aumento nos salários na rede estadual. Marinete, por exemplo, ganha R$ 2.400 por 40 horas semanais, o dobro do que há 4 anos. “Ainda não é compatível com a remuneração de outros profissionais com ensino superior, mas percebi que já aumentou o interesse pela carreira”, diz.
São ações que respondem aos problemas de desinteresse e desistência dos alunos, baixo nível de aprendizado e má formação do professor, apresentados nesta série. Falta, agora, deixarem de ser exceções.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Faltam professores qualificados no ensino médio

Docentes desta etapa lidam com várias turmas, salas cheias e lecionam conteúdos para os quais não se formaram

iG

 
Para ensinar, seria esperado que os professores estivessem entre os profissionais mais bem preparados da sociedade, mas indicadores apontam que isso está longe de acontecer. Décadas de salários baixos e relatos de condições de trabalho inadequadas afastaram da carreira a maioria das pessoas com os melhores desempenhos enquanto estudantes. A falta de atratividade da profissão atinge a educação brasileira como um todo, mas provoca consequências ainda mais sérias no ensino médio, como falta de professores especializados, o tema da quarta reportagem da série especial do iG Educação sobre o fracasso desta etapa.
Uma pesquisa da Fundação Lemann aponta que 30% dos estudantes que decidem ser professores estavam no grupo dos 5% com as piores notas quando eram alunos. “As pessoas que buscam a carreira são, em geral, de classe baixa e ainda vêem o cargo como ascensão social, mas infelizmente carregam pouca bagagem cultural”, comenta Elizabeth Balbachevsky, pesquisadora participante de grupos internacionais na área de educação para jovens e livre docente pela Universidade de São Paulo.

A falta de preparo é mais preocupante no ensino médio. A complexidade dos conteúdos exigiria profissionais com formações específicas e aprofundadas, mas como as escolas não encontram quantidade suficiente no mercado, salas de aula acabam ficando vazias ou docentes de uma área são improvisados em outras para as quais não têm formação adequada.
A primeira opção é mais comum nas redes públicas. Alan Henrique Meira dos Santos, de 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio na escola estadual Irma Annette Marlene Fernandez de Mello, zona leste de São Paulo, afirma que a falta de aulas por ausência de professor é o maior problema que enfrenta para aprender.
O jovem conta que, no ano passado, não teve aula nenhuma sexta-feira. “De português, trocou o professor três vezes e teve aula no máximo durante dois meses”, afirma, enquanto folheia o caderno na tentativa de lembrar de todas as disciplinas que cursa. “Física, o professor vinha, biologia, faltou só um pouco, e filosofia veio quase metade do ano. Inglês, não teve.”
Na ausência do professor específico, as escolas tentam preencher as aulas com o profissional que tem à disposição. Um relatório de 2009 também da Fundação Lemann mostra que menos de 40% dos professores de física, química, artes e inglês do ensino médio são formados na disciplina que ministram. Mesmo em língua portuguesa e matemática, esse porcentual não passa de 70%.
Foto: Pablo Rey/Fotoarena
Sociológo, Jocimar da Silva, dá aulas também de filosofia e espanhol em colégio particular de Recife
No Recife, o sociólogo Jocimar da Silva procurou trabalho como professor de sociologia no colégio particular Curso Menezes e ganhou também as vagas para ministrar disciplinas de filosofia e espanhol. Segundo ele, mesmo sem ter estudado a didática de ambas, o fato de ter feito um curso de línguas o ajuda nas aulas de espanhol e as outras duas matérias são relacionadas à sua formação. “Foi minha primeira experiência como professor titular. Antes, durante a faculdade, eu tinha feito estágio em escola pública, mas como substituto de matemática”, conta.
Jocimar assumiu todas as três séries do ensino médio e também parte do fundamental. Com isso, passa as manhãs em sala de aula. À tarde, ele tem um segundo emprego como assessor de um vereador. “Por sorte, só vou à Câmara em dias de reuniões e, no restante, trabalho de casa e consigo tempo para ver o material da escola e preparar a aula.”
Empregos múltiplos
A falta de dedicação exclusiva à educação também é mais frequente no ensino médio do que no ensino fundamental ou infantil, segundo pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro, braço do Ibope voltado à educação. Segundo entrevistas realizadas com professores das 10 maiores capitais brasileiras, enquanto 12% dos docentes em geral realizam outro trabalho além de lecionar, no ensino médio, esse porcentual vai para 21%.
A diretora-executiva da instituição, Ana Lúcia Lima, ainda aponta o fato de os docentes darem aulas em muitas turmas, normalmente superlotadas, como dificultador do trabalho docente. “Há no ensino médio uma parcela maior de professores com melhor formação. Por outro lado, a grade curricular prevê um grande número de disciplinas, com aulas distribuídas ao longo da semana, fazendo com que muitos lecionem em várias turmas, às vezes, dispersas por diferentes escolas”, diz.
Na pesquisa, os docentes do ensino médio também reclamaram de falta de valorização por parte dos pais e alunos e da lotação das várias salas de aula que frequentam. Um educador dessa fase de ensino tem, em média, 402 alunos, com os quais mantém um contato pouco frequente. “Em síntese, é mais crítica a situação dos professores do ensino médio com relação às condições de trabalho e ao desprestígio junto à sociedade”, conclui a diretora do instituto.
Foto: Amana Salles/Fotoarena
Professor Walmir dá 31 aulas por semana: "Infelizmente, não sobra tempo para preparar projeto de aula diferenciado ou de recuperação para os alunos"

Quem tenta melhorar a formação encontra dificuldade
O professor de língua portuguesa da rede estadual de São Paulo, Walmir Siqueira, dá aulas para uma quantidade de estudantes um pouco acima da média registrada pela pesquisa: 440 em 11 turmas diferentes. “As salas de ensino fundamental têm até 35, mas as do ensino médio, todas, recebem mais de 40”, comenta.
Formado em 1994, ele conta que procurou a profissão com a visão que tinha na época: “Ser mestre ainda era algo nobre”, lembra. Em 1995, chegou a receber orientações dentro da escola em que iniciou a carreira. “Tinha um coordenador por disciplina e reuniões semanais para discutir projetos em conjunto”, afirma.
A formação interna foi interrompida no ano seguinte, mas o governo formou uma parceria com universidades para que os professores fizessem pós-graduação. “Comecei e estava adorando, mas o convênio foi interrompido no meio, ninguém ganhou diploma nem nada”, recorda. Empolgado com os estudos, Walmir se matriculou em um curso particular no ano seguinte, mas diz que não concluiu o projeto por falta de tempo e dinheiro.
O professor recebe R$ 1.600 por mês e conta que o salário baixo também o impede de se dedicar mais às dificuldades apresentadas pelos alunos. “Para ganhar isso, dou 31 aulas semanais (o limite permitido pela legislação paulista é de 32). Infelizmente, não sobra tempo para preparar um projeto diferenciado, mais atraente, ou aulas de recuperação, que são obviamente necessárias.”

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Alunos terminam ensino médio sem aprender

Avaliações mostram que 90% não têm o conhecimento mínimo esperado para a fase. Veja exemplos práticos

Calcular quanto um trabalhador deve receber em cada parcela do 13º salário pode parecer uma tarefa trivial após 11 ou, mais recentemente, 12 anos de estudo que levam uma pessoa até o fim do ensino médio. A maioria dos jovens que concluíram essa fase na última década, no entanto, não consegue chegar ao valor correto. O exemplo ajuda a entender uma estatística alarmante sobre o conhecimento dos alunos no terceiro ano do ensino médio. Segundo o Ministério da Educação, apenas 10% dos estudantes adquirem os conteúdos esperados.

Foto: Reprodução
Tentativa de um aluno do 3º ano de resolver questão de matemática
A terceira reportagem da série especial do iG Educação sobre o ensino médio mostra como os jovens se formam com conhecimentos irrisórios. Nem todos os alunos dessa etapa escolar passam por avaliações do MEC – como ocorre no ensino fundamental – mas os resultados são suficientes para produzir estatísticas assustadoras.
A mais recente delas, do Ibope, mostra que 62% das pessoas com ensino médio não são plenamente alfabetizadas. A expectativa era que, aos 18 anos, e tendo frequentado a escola durante a infância e a adolescência, os jovens soubessem ler e entender textos longos, mas só 38% o fazem.

Para quem ainda está estudando, o governo aplica, desde 1999, uma prova por amostragem do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Em todas as edições, o porcentual de  alunos do 3º ano do ensino médio que chega à pontuação adequada nas provas de matemática variou entre 9,8% e 12,8%. No último exame, de 2009, foram 11%. “O que preocupa é que não saímos deste patamar, mesmo quando temos uma melhora no fundamental. Quando o jovem vai para o médio, estaciona”, comentou Mozart Neves Ramos, consultor do movimento Todos Pela Educação, em apresentação de números organizados pela ONG a partir da avaliação feita pelo governo.
Considerando apenas os conhecimentos de língua portuguesa, o resultado é menos pior, porém ainda chocante: 28,9% alcançaram a nota mínima no teste de 2009. Os números valem para todos os estudantes, incluída a rede privada. Considerado só o sistema público, o porcentual cai para 23,3% em português e 5,8% em matemática. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), a amostra apenas das particulares é pequena para concluir o porcentual de estudantes desta rede que aprende o necessário.
Exemplos em São Paulo, Paraná e Maranhão
O Ministério da Educação mantém entre suas publicações a escala do Saeb de língua portuguesa e de matemática com todas as capacidades que são esperadas dos estudantes ao final do ensino médio. Para ilustrar o que os números sobre a aprendizagem apontam, o iG selecionou um item em cada disciplina, buscou exemplos de situações em que eles sejam pedidos e levou um teste a jovens matriculados em escolas em São Paulo, no Paraná e no Maranhão. 
Em matemática, o iG sugeriu um problema já usado pelo MEC e uma questão elaborada pelo professor e autor de livros didáticos Luiz Imenes. Ambos avaliam a capacidade de “resolver problemas que envolvam variação proporcional entre três grandezas (regra de três simples)”, o que só 7% conseguem, segundo a estatística do governo.
Em língua portuguesa, foi escolhida uma habilidade que apenas 6% têm: a de distinguir um trecho opinativo entre as informações de um texto. Novamente foi apresentada uma questão usada pelo governo e outra baseada em dois textos do iG Educação que tratam do mesmo fato, um informando e outro opinando.
- CLIQUE AQUI PARA VER OS TESTES, RESPONDER ÀS PERGUNTAS E CONFERIR AS RESPOSTA

Abaixo, algumas respostas de alunos
 
Aluno confunde informação com opinião
Foto: Reprodução
Aluno confunde informação com opinião
Em São Paulo, as perguntas foram apresentadas a estudantes da escola estadual José Monteiro Boanova, que obteve o melhor resultado entre as unidades públicas no último ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na capital paulista, desconsiderando as escolas técnicas e unidade da Universidade de São Paulo (USP). Dos cinco alunos questionados, nenhum conseguiu responder corretamente qualquer uma das questões de matemática. A primeira parcela do 13º de um trabalhador que recebe R$ 1.200 e trabalhou oito meses de um ano, variou entre R$ 150 para um aluno e R$ 6.120 para outro. Já em português, houve dois acertos em cada pergunta.
Em São Luiz, três alunos do centro de ensino médio Manoel Beckman, no bairro Bequimão, zona de classe média da capital maranhense receberam as questões e não acertaram nada. Em uma das provas, uma aluna se confundiu e respondeu “sim” a uma questão que pedia um valor matemático. Nas questões de língua portuguesa, o resultado foi o mesmo. Um deles, aproveitou para mostrar como vai a gramática: “Os dois textos é opinativo”, escreveu.
Os melhores resultados, ainda que não sejam bons, vieram do Paraná. Sete alunos do colégio estadual Manuel Borges de Macedo, em Rio Branco do Sul, responderam as perguntas e, finalmente, alguém chegou às respostas corretas de matemática. “O problema do 13º salário é algo que dá para fazer de cabeça, mas a maioria dos alunos do ensino médio não consegue entender a relação entre os dados de um enunciado para saber qual conta pode ser feita”, diz o professor Imenes.

E as outras matérias?
Se os diagnósticos em matemática e língua portuguesa são ruins, a situação em relação a outras disciplinas sequer é conhecida. O Saeb segue a mesma escala aplicada ao ensino fundamental e só tem as duas matérias consideradas essenciais desde a alfabetização.
No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são cobrados conteúdos de ciências humanas (história, filosofia, sociologia e geografia) e ciências naturais (física, química e biologia). Mas só quem quer faz a prova de acesso a programas universitários, e a escola não recebe um diagnóstico sobre como seus estudantes se saíram por conteúdo.
A única avaliação de ciências feita no Brasil dá indícios de que o patamar é o mesmo verificado em português e matemática. No programa de avaliação internacional de estudantes (Pisa, na sigla em inglês), feito pela Organização para Cooperação de Países Desenvolvidos (OCDE), com estudantes de 15 anos – que deveriam estar no 1º ou 2º ano do ensino médio – os brasileiros aparecem em 53º lugar em ciências entre 65 países. É a mesma colocação obtida em leitura, e melhor do que a 57º posição em matemática.

Reflexo na universidade
Com o aumento do acesso à universidade, possibilitado pela expansão tanto do sistema público como de programas de bolsa e financiamento em instituições particulares, muitos destes estudantes chegam ao ensino superior. No total, 15% dos jovens de 18 a 29 anos estão na faculdade ou já a concluíram. Para alguns especialistas, o reflexo do ensino médio ruim inclui a queda da qualidade das universidades e das pesquisa que devem ser realizadas nelas – além de cidadãos mal formados para a vida, como mostrou a reportagem publicada na terça-feira.
Para Elizabeth Balbachevsky, livre docente do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora participante de grupos internacionais na área de educação para jovens, as universidades também devem colaborar. "No mundo todo, o aumento do acesso ao ensino superior levou para as faculdades um novo público. Elas também devem ajudar os alunos a fazer um ensino médio bom ou a completar suas habilidades paralelamente ao curso superior. É isso ou deixá-los prosseguir sem boa formação."
*colaboraram Luciana Cristo, iG Paraná, e Wilson Lima, iG Maranhão

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Ensino médio afasta aluno da escola

Etapa foca apenas no preparo para o vestibular, mas não prepara jovens "para o mundo", segundo educadores e estudantes

Até a 8ª série, Evelyn Manuel Rodrigues era a típica boa aluna, com caderno caprichado, gosto pelos estudos e notas acima da média. Na 1ª série do ensino médio, seu rendimento caiu, faltou várias vezes às aulas, chegou atrasada tantas outras, acabou reprovada e desistiu de estudar. Longe de ser uma exceção, ela entrou para um grupo que consiste na metade dos estudantes desta etapa de ensino: os que desistem antes de terminá-la. A escola não consegue manter o interesse dos adolescentes.
A falta de atratividade é tema da segunda reportagem da série do iG Educação sobre o ensino médio. Além dos alunos que deixam de estudar nesta fase, muitos dos que ficam não demonstram vontade de aprender, o que contribui diretamente para torná-la a pior etapa da educação brasileira.

Foto: Amana Salles/Fotoarena
Para especialistas, ensino médio com o currículo atual é inútil para a maioria dos estudantes

“O ensino médio, como está, é algo inútil na vida da maioria dos jovens”, afirma Elizabeth Balbachevsky, livre docente do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora participante de grupos internacionais na área de educação para jovens. Para ela, a orientação para o vestibular, objetivo de quase todas as escolas desta etapa, é um desperdício.


“Para quem não está na perspectiva de entrar na faculdade, a sala de aula não tem nada a oferecer. O ensino brasileiro tem uma carga muito forte, toda preparatória para o acesso à universidade e não para a vida ou o curso superior em si”, comenta. O problema é que a maioria não vai prestar o tão esperado processo seletivo, principalmente antes de experimentar primeiro o mercado de trabalho: só 15% dos jovens brasileiros de até 29 anos fizeram ou estão fazendo um curso superior. Nos países mais desenvolvidos esta porcentagem dobra, mas ainda fica muito longe de ser maioria.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, concorda que o foco do ensino médio precisa ser ajustado. “No mundo todo, a fase tem um caráter terminativo. Dali para frente a pessoa está preparada para começar a vida adulta, pode até ser na faculdade, para quem quer, mas também pode ser trabalhando ou em qualquer projeto. A educação básica está concluída”, diz.

Hoje aos 19 anos, Evelyn Rodrigues, a jovem que abre esta reportagem, percebeu a falta que lhe faz os estudos. Nos três anos em que ficou longe da sala de aula, trabalhou como tosadora de cães, foi morar com o namorado e ficou grávida. “Nesta época, eu queria trabalhar. Quando arrumei um emprego, achei que estava aprendendo mais lá do que na escola. A aula parecia não ter muito a ver com minha vida. Agora sei que era fundamental para melhorá-la.”

“Acho que a escola podia dar um curso”

Os alunos do ensino médio reconhecem o objetivo pré-vestibular da escola. Ao ser questionado sobre para que serve essa fase, Ayrton Senna da Silva Souza, de 16 anos, estudante do 3º ano na escola estadual José Monteiro Boanova, no Alto da Lapa, área nobre de São Paulo, resume a função em uma frase: “Para mim, esta é a etapa que vai mostrar quem está pronto para entrar na faculdade”, disse.

Quando a pergunta é o que gostariam que a escola oferecesse, a resposta muda. “Um curso”, responde Carlos Eduardo Dias, de 18 anos, que se formou na mesma unidade em dezembro. Ele espera fazer curso superior um dia, quando souber melhor em que área quer se especializar e tiver dinheiro para pagar a mensalidade. Enquanto isso, trabalha como auxiliar em uma concessionária de veículos. “Tive sorte de ser indicado, mas acho que a escola podia dar um curso que ajudasse mais, de informática, de vendas, algo assim.”
Outra colega do 3º ano, Eliza Rock da Silva, de 17 anos, mesmo tendo a universidade como meta, gostaria de ter mais autonomia e um ambiente melhor para aprender. “Acho que se os alunos tivessem o direito de escolher parte do curso, diminuiria o desrespeito pelos professores e, quem tem interesse, conseguiria estudar. Eu gostaria.”
A superintendente do Instituto Unibanco, Wanda Engel, sugere, além de conteúdos voltados ao mercado de trabalho, mais atividades culturais e esportivas. Ela lembra que até pouco mais de uma década, o ensino médio era uma "festa" para os jovens que tinham acesso a ele. Os alunos se envolviam em grêmios estudantis, festivais culturais, competições esportivas e outras atividades que desapareceram da maioria das instituições. Para a educadora, só há dois motivos capazes de manter os jovens na escola: “ou eles vão porque vale o esforço, vão aprender algo útil e conseguir emprego; ou porque há atrações que os envolvem”.


Formação do ser humano

Nem só o mercado de trabalho precisa de jovens bem formados. O professor de Políticas Educacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Pablo Gentile, lembra que os jovens também são cidadãos, eleitores e ajudam a definir a cara da sociedade brasileira por gerações. "O ensino médio deveria se preocupar com a formação do ser humano", resume.
Ele entende que a adolescência é um momento de transformação da pessoa e, portanto, é essencial que bons valores sejam apresentados. "O ensino médio é uma oportunidade impar para que o jovem se depare com o conhecimento que vai torná-lo ativo e produtivo”, afirma.
Para ele, em vez de um conteúdo voltado ao vestibular ou ao mercado de trabalho imediato, as escolas deveriam focar nas disciplinas que ampliam o entendimento do mundo em que vivem, com noções de política, filosofia, sociologia, ciências, português e matemática. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tenta atrair a escola para esses focos, ao solicitar nas provas de acesso a boa parte das universidades públicas mais conhecimentos gerais e capacidade de raciocínio do que conteúdos específicos. “Um cidadão melhor se tornará, inclusive, bom profissional.”

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Luta contra palavrões inclui multa e proibição nos EUA

Movimento envolve escolas, alunos e comunidade. Mas convence poucos

NYT

Foto: NYT Ampliar
Sinalização indica área livre de palavrões em escola norte-americana
O tempo está se abrindo, prometendo um lindo dia no estado do Alabama, especialmente na pequena Citronelle, cidadezinha do distrito de Mobile. Um grupo bastante otimista de alunos do ensino médio dali espera que, pelo menos por um dia, ninguém fale palavrões. Talvez as pessoas consigam substituir o linguajar obsceno por palavras mais amenas, ou mesmo pela expressão regional “Oh, pickles!”.
Veja também:
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- Minha idade é assunto meu
- Que defeitos o BBB revelaria sobre você?
A Comissão Distrital de Mobile, através de uma solicitação de alunos que fundaram “clubes contra os palavrões” nas escolas Lott e Semmes Middle, declarou um veto às palavras obscenas durante toda a segunda-feira de 14 de fevereiro – dia dos namorados no país.
A comissão também disponibilizou aos alunos uma verba de US$5.000 para a organização de uma assembléia com a presença de McKay Hatch - adolescente californiano que em 2007 fundou o No Cussing Club como forma de tentar estimular toda uma nação que simplesmente adora proferir impropérios a parar de falar palavrões. “Conheço crianças que crescem em lares onde este linguajar obsceno é tão comum como o próprio inglês”, diz Merceria Ludgood, uma das integrantes da comissão distrital que engloba a cidadezinha de Citronelle– onde está localizada a Lott Middle School. “Os palavrões são uma questão menor, o grande problema é a civilidade. Nós nos tornamos uma nação mais medíocre”, acredita.
Fazer com que crianças em idade escolar parem de falar palavrões parece um trabalho de Sísifo. Porém, o movimento contra a linguagem obscena a duras penas vem conseguindo crescer nos últimos anos, especialmente com os próprios administradores de escolas, pais e alunos buscando novas formas de combater o bullying – atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, usados para intimidar outro indivíduo incapaz de se defender.
“Se você chama alguém usando um palavrão, isso já é um ato de bullying”, disse Nick Meinhardt, aluno da oitava série que preside o clube que deu início ao movimento contra os palavrões na Lott Middle School.
Em Connecticut, administradores de uma escola de Hartford tentaram aplicar multas de US$103 a alunos que usassem linguagem obscena. Mas, segundo um dos administradores, a iniciativa logo foi abandonada. Já o estado do Texas parece mais persistente na causa. Em outubro, um adolescente que confrontou outro aluno com um palavrão recebeu uma multa de US$340.
Palavrão x bullying

Foto: NYT Ampliar
Braceletes anti-palavrão são usados por quem se compromete a não usar linguagem obscena
Alguns especialistas afirmam que a noção de que os palavrões levam aos atos de bullying é uma interpretação errônea. A Academia Americana de Pediatria recentemente incluiu uma seção sobre bullying nas normas e diretrizes que definem o papel do pediatra na prevenção da violência entre os jovens. Os palavrões, porém, não foram mencionados no documento.

“As iniciativas contra a linguagem obscena simplesmente não funcionam”, é o que afirma Timothy Jay, professor de psicologia da Faculdade de Artes Liberais de Massachusetts e autor de cinco livros sobre linguagem e comportamento - dentre eles os títulos “Why We Curse” e “Cursing in America”. “Os xingamentos sempre existiram. Se tudo funcionasse, ninguém diria palavrões”, disse ele.
O movimento contra a linguagem obscena não é diferente das iniciativas contra as drogas, que trabalham sob o argumento de que a maconha abre as portas para outros entorpecentes. As verdadeiras questões são bem mais profundas do que simplesmente dizer não.
“Precisamos ensinar as pessoas a lidar com a raiva, ao invés de simplesmente dizer a elas para não fazer isso. Assim, estamos lidando apenas com um sintoma”, disse Jay.

Embora Mike Dean, outro integrante da Comissão Distrital de Mobile, tenha votado a favor do financiamento do programa anti-palavrões, ele também se referiu ao mesmo como um artifício. Aos 55 anos, Dean está mais focado nas questões de infra-estrutura. Ele diz que cinco mil dólares é o suficiente para comprar vários equipamentos para um parquinho infantil ou mesmo para pavimentar um estacionamento. “Na minha época, nos ensinavam o respeito. As crianças eram punidas”, ele diz.

Foto: NYT Ampliar
Na escola: proibido fumar, usar drogas, carregar armas e falar palavrões
Mesmo McKay, que está no ultimo ano do colegial da South Pasadena High School, na Califórnia, enfrenta dificuldades para manter o interesse da nação no “clube contra os palavrões”, fundado por ele em 2007. Anteriormente, o clube era muito mais solicitado: McKay era convidado para os noticiários matinais e para o programa “The Tonight Show With Jay Leno”. Ele atingiu seu auge quando convocou uma coletiva de imprensa, no ano passado, depois de o vice-presidente Joe Biden soltar um palavrão em rede nacional ao cumprimentar o Presidente Barack Obama pela aprovação da revisão do sistema de saúde do país.
Apesar da afirmação de Brent Hatch, pai de McKay, de que o movimento (patenteado por ele) já conte com 100 clubes em escolas e igrejas em todo o mundo e 20.000 integrantes online, a planejada turnê contra os palavrões por 60 cidades americanas fracassou por falta de verbas. E mesmo que Brent Hatch continue tentando recrutar escolas para a turnê “Bullied No More”, ele admite que o interesse tenha se limitado, em grande parte, aos estados da Califórnia e Arizona. Além disso, logo seu filho vai para a faculdade e o empreendimento familiar contra a linguagem obscena irá desaparecer.
Por isso, pai e filho vão aproveitar ao máximo a viagem ao Distrito de Mobile, onde eles pretendem dar as caras nos órgãos distritais para a proclamação do dia sem-palavrões e, em seguida, seguir caminho para a Lott Middle School, com seus 500 alunos.
Este não é o primeiro ataque contra a linguagem obscena realizado pelo clube desta escola. Em dezembro, foi organizada uma assembléia onde houve a distribuição de braceletes contra os palavrões, alunos se comprometeram com a causa e promessas foram feitas.

Mas, pelos corredores da escola, na semana passada, os pôsteres do movimento provocaram reações de reprovação - especialmente entre os garotos da oitava série.

Wayne Jenkins, 14 anos, disse que participou do pacto em dezembro e que participaria da assembleia. Mas ele não está completamente convencido de que isso faça alguma diferença. Para ele, falar palavrões é um habito que já está impregnado na sociedade.

“Eu tenho um irmãozinho de 4 anos e ele conhece todos os palavrões existentes”, diz.
Tradução: Claudia Batista Arantes

Ensino médio: a pior etapa da educação do Brasil

Série especial do iG mostra por que os adolescentes perdem interesse pela escola, acabam desistindo ou não aprendem o que deveriam

 iG São Paulo 
Há duas avaliações possíveis em relação à educação brasileira em geral. Pode-se ressaltar os problemas apontados nos testes nacionais e a má colocação do País nos principais rankings internacionais ou olhar pelo lado positivo, de que o acesso à escola está perto da universalização e a comparação de índices de qualidade dos últimos anos aponta uma trajetória de melhora. Já sobre o ensino médio, não há opção: os dados de abandono são alarmantes e não há avanço na qualidade na última década. Para entender por que a maioria dos jovens brasileiros entra nesta etapa escolar, mas apenas metade permanece até o fim e uma pequena minoria realmente aprende o que deveria, o iG Educação apresenta esta semana  uma serie de reportagens sobre o fracasso do ensino médio.
O problema é antigo, mas torna-se mais grave e urgente. As tecnologias reduziram os postos de trabalho mecânicos e aumentaram a exigência mínima intelectual para os empregos. A chance de um jovem sem ensino médio ser excluído na sociedade atual é muito maior do que há uma década, por exemplo. “Meus pais só fizeram até a 5ª série, mas eram profissionais bem colocados no mercado. Hoje teriam pouquíssimas e péssimas chances”, resume Wanda Engel, superintendente do Instituto Unibanco, voltado para pesquisas educacionais.
Ao mesmo tempo, a abundância de jovens no País está com tempo contado, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O Brasil entrou em um momento único na história de cada País em que há mais adultos do que crianças e idosos. Os especialistas chamam o fenômeno de bônus demográfico, pelo benefício que traz para a economia. Para os educadores, isso significa que daqui para frente haverá menos crianças e adolescentes para educar.
“É agora ou nunca”, diz a doutoranda em Educação e presidente do Centro de Estudos e Memória da Juventude, Fabiana Costa. “A fase do ensino médio é crucial para ganhar ou perder a geração. Ali são apresentadas várias experiências aos adolescentes. Ele pode se tornar um ótimo cidadão pelas décadas de vida produtiva que tem pela frente ou cair na marginalidade”, afirma.
História desfavorável
O problema do ensino médio é mais grave do que o do fundamental porque até pouco tempo – e para muitos até agora – a etapa não era vista como essencial. A média de escolaridade dos adultos no Brasil ainda é de 7,8 anos e só em 2009 a constituição foi alterada para tornar obrigatórios 14 anos de estudo, somando aos nove do ensino fundamental, dois do infantil e três do médio. O prazo para a universalização dessa obrigatoriedade é 2016.
Por isso, governo, ONGs e acadêmicos ainda concentram os esforços nas crianças. A expectativa era de que os pequenos bem formados fizessem uma escola melhor quando chegassem à adolescência, mas a melhoria no fundamental não tem se refletido no médio.
Para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a questão envolve dinheiro. Quando o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) foi criado, em 1996, repassava a Estados e municípios verba conforme o número de matrículas só naquela etapa. “O dinheiro não era suficiente para investir em tudo e foi preciso escolher alguma coisa”, diz o especialista.
A correção foi feita em 2007, quando o “F “da sigla foi trocado por um “B”, de Educação Básica, e os repasses de verba passaram a valer também para o ensino médio. “Só que aí, as escolas para este público já estavam sucateadas”, lamenta Cara.
A diferença é percebida pelos estudantes. Douglas Henrique da Silva, de 16 anos, estudava na municipal Guiomar Cabral, em Pirituba, zona oeste de São Paulo, até o ano passado quando se formou no 9º ano. Conta que frequentava a sala de informática uma vez por semana e o laboratório de ciências pelo menos uma vez por mês.
Foto: Amana Salles/Fotoarena
À esquerda, escola municipal Guiomar Cabral e, em frente, a estadual Cândido Gomide em São Paulo: diferença que pode ser percebida por quem passa é maior para quem estuda

Em 2010, no 1º ano do ensino médio, conseguiu vaga na escola estadual Cândido Gomide, que fica exatamente em frente à anterior. Só pelos muros de uma e outra, qualquer pessoa que passa por ali já pode notar alguma diferença de estrutura, mas os colegas veteranos de Douglas contam que ele vai perceber na prática uma mudança maior.
“Aqui nunca usam os computadores e não tem laboratório de ciências”, afirma Wilton Garrido Medeiros, de 19 anos, que também estranhou a perda de equipamentos quando saiu de uma escola municipal de Guarulhos, onde estudou até 2009. Agora começa o 2º ano na estadual de Pirituba, desanimado: “Lá também tinha mais professor, aqui muitos faltam e ninguém se dedica.”
Até a disponibilidade de indicadores de qualidade do ensino médio é precária. Enquanto todos os alunos do fundamental são avaliados individualmente pela Prova Brasil desde 2005, o ensino médio continua sendo avaliado por amostragem, o que impossibilita a implantação e o acompanhamento de metas por escola e aluno e um bom planejamento do aprendizado.
A amostra, no entanto, é suficiente para produzir o Índice da Educação Básica (Ideb), em que a etapa é a que tem pior conceito das avaliadas pelo Ministério da Educação. Foi assim desde a primeira edição em 2005, quando o ensino médio ficou com nota 3,4; a 8ª série, 3,5; e a 4ª série, 3,8; em uma escala de zero a 10. Se no ensino fundamental ocorreu uma melhora e em 2009 o conceito subiu, respectivamente, para 4 e 4,6, os adolescentes do ensino médio não conseguiram passar de 3,6.
“A etapa falha na escolha do conteúdo, que não é atrativo para o estudante, e também não consegue êxito no ensino do que se propõe a ensinar”, diz Mateus Prado, presidente do Instituto Henfil e colunista do iG que escreverá artigos especialmente para esta série, que durante os próximos dias conduzirá o leitor a conhecer o tamanho do problema e refletir sobre possíveis soluções.
Acompanhe esta semana:
Terça-feira: Por que o adolescente perde o interesse pela escola?
Quarta-feira: O que significa a má qualidade indicada nos índices?
Quinta-feira: Falta o mínimo: professores qualificados
Sexta-feira: Iniciativas que podem mudar este quadro

domingo, fevereiro 20, 2011

Convocação

O nosso blog está necessitando renovar sua equipe, visto que as pessoas que faziam parte da equipe de 2010 não podem, ou não desejam, participar do nosso trabalho em 2011.
Então fica combinado: se você é aluno(a) da Escola Estadual Amaro Cavalcanti, gosta de ler e escrever, tem alguma intimidade com a Internet e tem disponibilidade para fazer da equipe do Jardimtudo, entre em contato com a direção da escola e seja um integrante do nosso blog.
Precisamos de gente que goste, principalmente, de escrever, de criar; precisamos de gente que encare o trabalho no nosso blog com responsabilidade, acreditando que este é um veículo para divulgação dos trabalhos de todos os que fazem a Amaro Cavalcanti.
Não se omita. Venha fazer parte desta equipe.

Novo dia, novo começo.

Se você prestar atenção agora, você vai reparar que o dia vai começando e que ritmo do seu corpo vai junto, começando serenamente, e que o silêncio da manhã é único.
Com certeza, em poucos momentos do resto do dia você conseguirá encontrar uma situação igual a essa.
E logo no início de um novo dia você encontra esses minutos de paz.
A cidade está acordando, outras pessoas, assim como você também precisam levantar cedo e, aos poucos, o dia vai ganhando seu ritmo natural.
Mas esse comecinho de dia pode fazer a diferença em todo o resto.
A maneira com que você encara o início da manhã vai pesar na maneira como você verá as coisas no decorrer do dia.
Então, desperte junto com o amanhecer.
O sol vai renascer e que suas esperanças renasçam junto com ele. Talvez ontem tenha sido um dia difícil, mas não é por isso que hoje tem que ser igual. Pelo contrário.
Você tem que fazer a sua parte para esse dia ser diferente.
Pare e converse. Tenha a certeza que você não estará falando sozinho. Desabafe, abra o coração, conte o que você espera.
Lembra da maneira como seu filho ou sua filha falam com você quando querem te contar algo que anseiam muito?
Talvez você não ouça uma voz te falando o que você tem que fazer. Mas tenha certeza que você sentirá no seu coração, e verá no decorrer do dia, a resposta daquele que te escutou. Ele sempre te escuta.

Paulo Piedade

A Chave da Felicidade

Corremos de um lado para o outro esperando descobrir a chave da felicidade... Esperamos que tudo que nos preocupa se resolva num passe de mágica.
Achamos que a vida  seria tão diferente, se pelo menos fôssemos felizes.
E, assim, uns fogem de casa para serem felizes e outros fogem para casa para serem felizes...
Uns se casam para serem felizes e outros se divorciam para serem felizes...
Uns fazem viagens caríssimas para serem felizes e outros trabalham além do normal para serem felizes...
Uma busca sem fim.
Anos desperdiçados.
Nunca a Lua está ao alcance da mão, nunca o fruto está maduro.
Nunca estamos satisfeitos.
Mas, há uma forma melhor de viver! A partir do momento em que decidimos ser felizes, nossa busca da felicidade chegou ao fim.
A felicidade não tem nada a ver com conseguir. Consiste em satisfazer-nos com o que temos e com o que não temos. Poucas coisas são necessárias para fazer feliz o homem sábio, ao mesmo tempo em que nem a maior de todas as fortunas satisfaria a um inconformado.
Enquanto nós tivermos alguma coisa a fazer, alguém a amar, alguma coisa a esperar, seremos felizes.
Então Lembre disso: a única fonte de felicidade está dentro de você, e deve ser repartida.
Repartir alegrias é como regar uma planta: sempre algumas gotas acabam caindo sobre você mesmo.
Na incerteza do amanhã... Aproveite o hoje para ser feliz !

As coisas mais importantes

O dia mais belo? Hoje.
A coisa mais fácil? Errar.
O maior obstáculo? O medo.
O maior erro? O abandono.
A raiz de todos os males? O egoísmo.
A distração mais bela? O trabalho.
A pior derrota? O desânimo.
A primeira necessidade? Comunicar-se.
O que mais lhe deve fazer feliz? Ser útil aos demais.
O maior mistério? A morte.
Nosso pior defeito? O mau humor.
A pessoa que nos é mais perigosa? A mentirosa.
O sentimento mais ruim? O rancor.
O melhor presente ? O mais belo que possamos dar: o perdão.
O bem mais imprescindível? O lar.
A rota mais rápida? O caminho certo.
A sensação que nos é mais agradável? A paz interior.
A maior satisfação? O dever cumprido.
O que nos torna mais humanos, mais tolerantes? A dor.
Os melhores professores? As crianças.
As pessoas mais necessárias? Os pais.
A força mais potente do mundo? A fé.
A mais bela de todas as coisas? O amor...sempre o amor!

(Madre Teresa de Calcutá) 

Valor aos Humildes

Durante meu primeiro ano da faculdade, nosso professor nos deu um questionário.
Eu era bom aluno e respondi rápido todas as questões até chegar a última:
"Qual o primeiro nome da mulher que faz a limpeza da escola?".
Sinceramente, isso parecia uma piada. Eu já tinha visto a tal mulher várias vezes.
Ela era alta, cabelo escuro, lá pelos seus 50 anos, mas como eu ia saber o primeiro nome dela?
Eu entreguei meu teste deixando essa questão em branco e um pouco antes da aula terminar, um aluno perguntou se a última pergunta do teste ia contar na nota.
"É claro!", respondeu o professor. "Na sua carreira, você encontrará muitas pessoas.
Todas têm seu grau de importância. Elas merecem sua atenção mesmo que seja com um simples sorriso ou um simples "alô".
Eu nunca mais esqueci essa lição e também acabei aprendendo que o primeiro nome dela era Dorothy.
Obs.: Você pode e deve ser importante, mas o mais importante é o respeito ao próximo e o valor que você dá aos humildes.

Autor desconhecido

Sob Pressão

Pressão deve vir de dentro, para depois ser transformada num sentimento de empolgação e exuberância. Pat Riley

Todos os dias você pode estar sob a ameaça de variadas formas de pressão - pressão para agradar seus pais, sua família, seus amigos; ou pressão para de uma forma passiva se submeter às regras de um determinado grupo, comissão ou empresa.

Considere, por exemplo, quanta influência você permite - em apenas um dia – que outras pessoas exerçam sobre seus pensamentos e seu comportamento. Você está temeroso de que as pessoas não gostem de você, ou desaprovem suas atitudes ou comportamento? Você se veste para impressionar outras pessoas? Você tem dificuldades em expressar sua opinião, quando ela difere da opinião dos outros? Sucumbir às pressões alheias significa curvar-se à opinião de outros, anulando as próprias convicções.

A próxima vez em que você se encontrar diante do dilema de fazer o que os outros desejam que você faça, em lugar de permanecer firme naquilo em que você acredita, e está convencido de ser a verdade, diga a você mesmo: Eu sou amado de Deus, e tenho um valor muito especial diante de seus olhos; a minha auto-estima, portanto, não depende da aprovação das outras pessoas.

Ao trazer à mente essa preciosa realidade, você irá perceber que lidar com pressões assumirá uma nova e encorajadora postura. .
GLENN CLOSE DE SUSAN BOYLE!

Eu ia justamente escrever aqui sobre esta notícia segundo a qual Glenn Close aceitou viver Susan Boyle no cinema, e com isso viabilizou o filme que está em vias de produção sobre a cantora. Mas gostei tanto do comentário que André Luís Cia fez a respeito aqui no portal, que resolvi mantê-lo inédito nos comentários e trazê-lo para a página aqui de cima. Leiam e curtam.


Estava lendo a notícia de que Glenn Close interpretará Susan Boyle no cinema e achei a escolha perfeita. Close já nos brindou com grandes papéis, mas acho a sua interpretação em Atração Fatal um grande marco na sua carreira.
Deve ser emocionante para um ator interpretar um personagem real e que está em plena atividade. Neste caso da Susan, sua história é comovente. O patinho feio em que ninguém acreditava e que se transformou num sucesso mundial.
Quando vejo o primeiro teste dela no programa me surpreendo com a arrogância dos jurados e da platéia, que subestimaram e menosprezaram a sua presença no palco devido a sua aparência física. Mas bastou ela abrir a boca para calar e emocionar todos os presentes.
Isso me faz pensar o quanto a beleza é subjetiva e não diz muita coisa. Infelizmente vivemos sob a ditadura da beleza, na qual homens e mulheres são capazes de verdadeiras loucuras para ficarem mais bonitos ou sarados. Claro que beleza é importante e pode até abrir portas num certo instante da nossa vida, mas ela não é passaporte para o sucesso porque só permanecem na ativa os que têm talento, seja em qualquer profissão.
Susan Boyle é o grande exemplo disso. Uma mulher feia e desprovida de vaidade que virou ídolo mundial ao realizar seu grande sonho: cantar. Graças a Deus ela não desistiu de realizá-lo. Acredito que, muitas vezes, ela deve ter entrado em desespero por saber que a idade estava avançando e que as oportunidades para uma pessoa humilde como ela eram muito pequenas diante de tantos jovens promissores e também rostinhos e corpos mais bonitos que o dela.
Mas nada a fez desistir de lutar por seu maior sonho. As adversidades da vida só devem nos servir como estímulo para que possamos vencer. Espero que muitas Susans apareçam no mundo, pois elas só nos provam que vale a pena viver e crer.
Sempre, sempre e sempre!!!
(André Luís Cia)
Do blog de Aguinaldo Silva

sábado, fevereiro 19, 2011

Da série MUSICÃO - Por onde andei - Nando Reis

Músicas para curtir no seu domingo

A "professorinha" está em extinção?

Medo do antigo estereótipo de uma profissão que era quase extensão dos afazeres domésticos contribui para afastar novas candidatas

Cauê Muraro, especial para o iG São Paulo

A profissão de professora passou de única escolha possível para uma entre muitas
Professora aposentada, Maria do Carmo, 68, escolheu sua profissão porque isso lhe parecia natural, quase inevitável. De suas seis irmãs, cinco acabariam seguindo o mesmo caminho: “Nunca pensei que pudesse fazer outra coisa”. Com Camila, 21, foi diferente – tinha outras alternativas, chegou a cogitá-las. Adolescente, imaginou-se psicóloga, por exemplo. Mas terminou fazendo faculdade de pedagogia. Dar aulas era preferência que vinha dos tempos de criança.
Quatro décadas separam o ingresso das duas no mercado de trabalho. Décadas em que o país conheceu significativas mudanças sociais, políticas e econômicas. Dentre as transformações, muitas se referem ao papel da mulher. E isso está refletido na maneira como Maria do Carmo Justo Teixeira de Carvalho, de São Roque (SP), e Camila Gasparetto Barazetti, da capital, se iniciaram como docentes dos primeiros anos do ensino fundamental.
Era bem outro o Brasil do final da década de 1950, quando a primeira ingressou no curso normal (equivalente ao ensino médio), que a habilitou a dar aulas para estudantes do antigo primário. “Naquele tempo, a maioria das moças não trabalhavam fora, elas iam se casar. Não existiam muitos empregos para mulheres, o mais fácil mesmo era ser professora”, recorda. Maria do Carmo sequer sabia se tinha verdadeiramente vocação. Conta que acabou gostando muito: trabalhou na rede pública, sobretudo com quarto e quinto ano, e se aposentou em 1988.
Veja também:
Você está na profissão certa?

Mulheres com sobrepeso têm mais dificuldade de subir na carreira


Camila formou-se pedagoga em 2010 e, desde o vestibular, queria a educação infantil. Atualmente, dá aulas para o primeiro ano do ensino fundamental no Colégio Dante Alighieri, de São Paulo. Se aventou outras possibilidades de carreira, é porque o campo de trabalho se abriu para mulher e porque o status da profissional responsável pela alfabetização é outro. Mas ela sabe que representa exceção: “Acho que, dos cerca de 100 formandos no ensino médio do colégio em que estudei, fui a única que escolheu fazer faculdade de pedagogia”.


Normalistas e samba

Maria do Carmo e Camila não simbolizam apenas períodos distintos do exercício da atividade de professora. As diferenças de trajetória entre as duas trazem à tona, em alguma medida, o próprio lugar que a mulher passou a ocupar na sociedade. Antigamente, o ensino de criança era uma atividade complementar à formação materna. Era aceitável para as mulheres.

“Por quê? Porque podia ser feita em meio período, então a moça podia lecionar na parte da manhã e ter a tarde para cuidar da casa etc.”, observa Dermeval Saviani, coordenador geral do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”, vinculado à Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Isso começa no Império e vai ter uma regularidade maior após a década de 1930, chegando até a de 1960”.

Mas a figura da “professorinha”, conforme se dizia antigamente, deixou de existir? Saviani crê que num processo de extinção, iniciado ainda nos anos 1970. “A ‘professorinha’ sobrevive no ensino pré-escolar, mas também tende a se extinguir, inclusive em áreas rurais, na medida em que a educação infantil passa a exigir formação específica.” Assim, se essas professoras são profissionais, elas tendem naturalmente a desejar ser reconhecidas como tais, e não como pessoas que fazem da carreira uma extensão da vida doméstica.

Situação bastante diversa da que viviam as normalistas do passado. Normalistas eram as jovens que faziam o curso normal, ministrado durante o antigo 2º grau, com o objetivo de se tornarem professoras das primeiras séries. Saviani cita uma referência pejorativa: a escola normal, em dado momento, era conhecida como “curso espera marido”. “Ao ser formada para instruir crianças, a mulher também estava aprendendo a lidar com seus filhos. Além disso, por ser meio período, ela também podia continuar o aprendizado de prendas domésticas em casa. Essa visão vinha desde o início da republica.”

Não por acaso, foi lançado, em 1949, por obra de Benedito Lacerda e David Nasser, o samba “Normalista”, famoso na voz de Nelson Gonçalves. Havia os seguintes versos: “Vestida de azul e branco/ Trazendo um sorriso franco/ Num rostinho encantador/ Minha linda normalista/ Rapidamente conquista/ Meu coração sem amor/ (...) Mas a normalista linda/ Não pode casar ainda/ Só depois que se formar/ Eu estou apaixonado/ O pai da moça é zangado/ E o remédio é esperar”.

Finda a espera, pensava-se, lá estaria uma futura esposa devidamente pronta a exercer todas as funções que lhe fossem atribuídas.
Exceção
Hoje em dia, a lei prevê que as professoras dos primeiros anos do ensino fundamental tenham curso superior (pedagogia ou Normal Superior). Maria Stela Santos Graciani, coordenadora do curso de pedagogia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), aponta que quem escolhe essa graduação enfrenta questionamentos. “Os pais perguntam: ‘você vai querer ser professora, uma profissional desvalorizada, que não tem prestígio social?’. Logicamente, eles preferem filhas médicas, engenheiras, representantes das multimídias, advogadas...”

A lista de profissões segue longe. A coordenadora diz que, dentre suas alunas (há raríssimos graduandos do sexo masculino), só a minoria escolhe exercer o magistério no ensino fundamental. A maior parte elege atuar em outras áreas paras quais o curso de pedagogia habilita. Entram em empresas, no terceiro setor, prestam consultorias.

“Antes, essa era a única opção do mercado de trabalho para a mulher. Um lugar onde a mulher poderia estar protegida, uma extensão do lar. Muito dessa tradição permanece: é seguro, só tem criança. Mas também é um espaço conflituoso para mulheres de gerações mais recentes. Elas descobrem que o amor a profissão é pouco”, afirma Maria do Rosário Longo Mortatti, professora do curso de pedagogia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e autora e organizadora de diversos livros sobre o tema, como “Formação de professores” e “Atuação de professores”.
Censo
O último censo da educação superior no Brasil, de 2009, revela a maioria (55%) dos professores do ensino infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental são formados em cursos de educação a distância. De acordo com Maria do Rosário, isso pode ter relação com a atual necessidade de essas professoras terem um diploma de nível superior.

Antes, para essa faixa do ensino, era suficiente o curso de magistério feito no ensino médio. De maneira que, atualmente, as que pretendem atender a exigência buscam se habilitar. Os cursos de Normal Superior e pedagogia a distância constituem, para muitas delas, a opção mais imediata, ainda que questionado por especialistas que atentam à importância da troca de experiência, presencial, entre as futuras professoras.

Seja como for, nos cursos presenciais de parte das faculdades e universidades, as estudantes dispostas a tomar parte no ensino de crianças adotam postura diferente da que tinham as professoras de décadas atrás. Um tempo em que, como no caso de Maria do Carmo, o magistério era também um sintoma das restrições ao ingresso da mulher no mercado de trabalho. Hoje, a despeito das questões que envolvem políticas de educação e valorização do profissional, a vocação tem um papel anterior, como acontece com Camila.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Professor de Santos é investigado por apologia do crime

Docente aplicou problemas sobre venda de drogas, armas e crimes. Polícia intima acusado e diretora da escola a depor

iG

Um professor de matemática de uma escola estadual está sendo investigado pela Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) de Santos, no litoral de São Paulo. De acordo com o delegado Francisco Garrido Fernandes, o docente da Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro do São Bento, aplicou problemas matemáticos com contextos impróprios e sobre atividades ilícitas como venda de drogas, roubo de carros, armas e prostituição.

Em uma das questões apresentadas aos estudantes do 1º ano do ensino médio, o professor perguntava sobre a mistura de cocaína com outras substâncias, como pó de giz e bicarbonato de sódio. Outra questão fazia os estudantes calcularem quantas rajadas uma arma AK-47 poderia disparar. O caso foi revelado em reportagem do jornal “A Tribuna de Santos” desta sexta-feira.

Os pais de uma aluna da escola denunciaram o caso e registraram um Boletim de Ocorrência na Delegacia Seccional de Santos na manhã da última quarta-feira (16). Segundo informações da Polícia Civil, o B.O. registra que os pais exibiram um caderno com “anotações de exercícios de matemática que consistiriam em cálculos de lucros obtidos em situações hipotéticas que configurariam crimes”.

A Secretaria de Estado da Educação instaurou uma investigação e afastou o professor de matemática. Enquanto o processo interno não for concluído a Secretaria não irá se posicionar sobre o caso, por entender que não pode “correr o risco de caracterizar prejulgamento”.

A Dise abriu inquérito para apurar se houve apologia do crime e intimou o professor acusado e a diretora da escola a depor na próxima segunda-feira.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Forró mais pop

Mesmo para quem não é fã de forró, não dá para ignorar sua existência. O mais tradicional gênero musical do Nordeste está presente - para o bem/mal - em todas as partes: seja no ônibus, no toque de celular ou no carro de som mais perto de você! Enfim, esse estilo fica ainda mais onipresente quando tira inspiração da música pop.

E, apesar de dividir opiniões, é fato que as famosas versões de forró para hits internacionais caem no gosto popular. Essas "releituras" de sucessos gringos geralmente têm arranjos parecidos com o ritmo original (embora venham incrementadas com sua típica pegada acelerada) e uma tradução - bem - livre da letra (já notou que muitas vezes a nova composição não tem nada a ver com a principal?). Outro traço em comum nessas adaptações são os temas recorrentes: amor, perda e traição dominam o repertório. Feitas as apresentações, vamos às regravações que já viraram febre nas rádios.

A Aviões do Forró é uma das campeãs. Com um feeling musical certeiro, suas versões são sucessos garantidos. E os vocalistas Solange Almeida e Xandd Avião não se intimidam: já fizeram incursões no universo pop de Lady Gaga. A bombante "Alejandro" se transformou em "Alexandre" e já tem o aval dos fãs. "Descobri, descobri, que te amo, que te amo, e toda noite é o seu nome que chamo. Vou insistir, e vou provar o tamanho do meu amor. Você não vai se arrepender, prometo. Alexandre!", canta o grupo, que também já eternizou Beyoncé ("Single Ladies" virou "Hoje eu Tô Solteira"), Rihanna ("Umbrella" se tornou "Vai me perder") e Justin Bieber (continuou "Baby").

Gaga também agradou os paraibanos do Calcinha Preta, que ficou famoso no Brasil após o hit "Você não vale nada, mas eu gosto de você", apesar de que sua "Paparazzi" tenha um começo um pouquinho diferente da original: "Você é legal e é fundamental/Ter um flash na mão, você é tão lindo, é tão mágico". Puro glamour, hein? O pop romântico de James Blunt também é referência pra essa turma. Se "You´re beautiful" já era impregnante, "Já me acostumei" é inesquecível.

Outra banda que pegou carona em uma canção já consolidada na esfera pop foi o Forró do Muído. Os coleguinhas Simone, Simaria e Binha Cardoso elegeram "Lucky", um dueto de Jason Mraz e Colbie Cailat, e tiveram literalmente "Sorte". Não só estourou nas paradas, como virou trilha sonora do casamento das irmãs-cantoras.

Carla Bruni, primeira-dama da França, também foi homenageada. Sua música mais famosa, "Quelqu´un M´a Dit", ganhou versão simpática aos ouvidos em "Baby, fala pra mim" da Desejo de Menina. Alanis Morissete, com sua depressiva "In Your house", ficou estranhamente superanimada no remake "Sua Casa", do mesmo grupo.

Aprovada!

O Aviões do Forró também revisitou o sucesso "Me adora", de Pitty. Ao contrário do que muita gente pensa, a cantora adorou! "Isso é indicativo de que a música bombou além das esferas premeditadas, acho lisonjeiro", tuitou a roqueira.

´Come as you are´

Falando em rock, o Forró Estourado teve influência do Nirvana regravando "Come as you are", que resultou na polêmica "Liga o som"... "Liga o som/ e o garçom traz um uísque bom pra mim/ Eu cheguei, eu sou rei e a mulherada fica afim/Afim de mim..." Pobre do Kurt Cobain, deve estar se revirando no túmulo.

Agora, a original:



E um forrozinho mais romântico, para desopilar:



Cinema - O Discurso do Rei

Um dos favoritos ao Oscar, "O Discurso do Rei" convida à reflexão sobre a monarqui, a relação com seus súditos e a arrogância ligada à ostentação do poder
Numa das cenas mais provocantes de "O Discurso do Rei", Albert Frederick Arthur George (1891 - 1952. interpretado por Colin Firth, em papel recusado por Paul Bettany), sob os cuidados do terapeuta da fala Lionel Logue (1880 - 1963, Geoffrey Rush), assiste a vários filmetes publicitários. Em um deles, chama-lhe especial atenção para um discurso de Adolf Hitler (1889 - 1945), fluente e eloquente. Albert se impressiona com a força das palavras do homem que levaria o mundo a Segunda Guerra Mundial.

O nazismo não é tratado de frente no filme. Contudo, o roteiro de David Seidler - acusado de ser evasivo quanto ao tema - o mantém vivo nas entrelinhas. O diretor Tom Hooper, igualmente, o preserva, nas imagens. No longa, ainda é sugerida a simpatia que David (1894 - 1972), o renunciante rei Edward VIII, e sua amante, a americana Wallis Simpson (1896 - 1986) - destratada nos gabinetes e corredores do palácio de Buckingham por ser divorciada e estar com outra separação a caminho -, tinham pelo regime de Hitler.

"O Discurso do Rei" recupera um momento no qual a História britânica se define em uma conjunção de acontecimentos em 1936. No plano interno da monarquia, tivemos a crise de credibilidade popular; a sucessão conturbada de George V com a recusa do novo rei, Edward VIII; e o drama de Albert, que precisou enfrentar sua timidez e a gagueira. Também havia a insatisfação do Parlamento com Edward VIII. O primeiro ministro Stanley Baldwin chegou a pressionar o palácio, ameaçando com a renúncia do gabinete, caso Edward continuasse sua relação com a norte-americana divorciada. No plano externo, a crise econômica, ascensão de Hitler e a iminência da guerra.

Com a renúncia de Edward, o Duque de York, Albert, o próximo na linha de sucessão, assume o trono como George VI. Mesmo antes da posse, passa por constrangimentos ao não fazer os pronunciamentos no rádio. É aí que entra em cena sua mulher, Elizabeth Bowes-Lyon (Helena Bohan-Carter), que o leva para o terapeuta da fala, o qual tanto passa a tratar da gagueira como destravar os problemas psicológicos dele, adquiridos na infância, já que foi criado sob a opressão de suas babás.

Bastidores da corte
"O Discurso do Rei", segundo o roteirista David Seidler, não tem por base o romance "The King´s Speech: how one man saved que British Monarchy", de Mark Logue, neto de Lionel (no Brasil pela Editora Record, R$ 29,90). O enredo foi armado a partir de entrevistas com a Rainha-Mãe, falecida em 2001. Ela pediu para publicar somente após a sua morte. Basicamente, o filme trata da relação entre o monarca e o cidadão, mas revela uma história pouco conhecida cheia de detalhes relevantes.

O cinema britânico tem, ao longo de sua história, feito, sistematicamente, abordagens simpáticas dos personagens do Palácio de Buckingham. Essa visão começa a mudar com "A Rainha" (2006), no qual Stephen Frears faz uma irônica reconstituição da relação entre a monarquia e a nação, centrado na relutância da rainha Elizabeth II (Helen Mirren) em se curvar perante o clamor popular para que a princesa Diana tivesse um funeral real. Apegada às tradições, Elizabeth não percebe as mudanças que se processam do lado de fora de seu Palácio.

A arrogância originada da importância dada à ostentação do poder é novamente tratada em "O Discurso do Rei". Ela é trabalhada, sobretudo, na relação entre o então Duque de York, o futuro monarca George VI, e o terapeuta Lionel. Não em apenas uma ocasião, mas em várias.

Enquanto em Lionel se manifesta um propósito de igualdade - "aqui é melhor nos fazermos iguais", diz ele ao Duque de York no primeiro encontro; "meu castelo, minhas regras", afirma mais tarde, ao salientar que o Duque deve vir ao consultório e não o terapeuta ao Palácio; e, principalmente, em tratá-lo por "Bertie", como é chamado entre seus familiares. Essa mesma exposição volta a ocorrer, mais tarde, na Abadia, quando Lionel se senta na cadeira na qual os reis recebem a Coroa.

Ao Duque de York sobra elegância - está sempre bem vestido, anda de forma imponente e exige o devido tratamento hierárquico por ser um dos ocupantes da casa de Windsor -, e arrogância mesclada de destempero. Na cena em que caminham pela avenida envolta pela névoa - uma sequência antológica que faz refletir sobre a divisão de classes e intolerância dos detentores do poder -, Lionel faz um gesto de tocá-lo, mas ele logo se afasta o chama a atenção. "Não se atreva a tanto", diz furioso.

A reação do Duque vai mais longe ainda, em grosseria, ao se utilizar de uma revelação do terapeuta, o qual, em conversa informal sobre a sua família, revelou ser o pai um fracassado fabricante de cerveja. "Você é filho de um cervejeiro decepcionante" e "você não é ninguém!".

Essa visão preconceituosa aos "inferiores" volta a ser exposta, no interior do Palácio, quando a família real se reporta a Wallis Simpson. Ao forçar Edward VIII a renunciar, não sabe a família real o erro histórico que cometeu. Ainda hoje há quem lamente que o divórcio - via Wallis Simpson e George VIII - não tenha sido aceito pela Monarquia. Esqueceram que Henrique VII matou gente e desonrou o trono em sua luta pelo divórcio.

Crítica
Não há, no filme, uma "queda de braço" entre monarca e súdito. Mas mostra como um cidadão pode colocar um rei em comunicação com a nação, diga-se, povo. As adversidades entre eles expõem apenas os limites entre classes, uma exposição de como a monarquia vê o povo, ou os "seus súditos". Sabe-se que o tratamento fonoaudiólogo concebido por Lionel fez o rei superar todas as suas fraquezas e que, em retribuição, o rei teria lhe dado um título nobre e sido um monarca sensível às questões sociais.

"O Discurso do Rei", portanto, não traz uma visão simpática da monarquia. Vai além. E atentem: a monarquia, citada pelos historiadores como um sistema já distante do mesmo poder de antigamente, que ostenta um caráter puramente "simbólico" nos tempos atuais, corre riscos. Ao redor do planeta, ainda existem 44 arquejantes exemplares. Mas, na onda de exigência de liberdade que provoca mudanças no mundo e a mentalidade nas pessoas, não será surpresa se, em breve, elas sumirem do mapa. Deixa a vida para figurar nos livros de História - ou em bons filmes, como "O Discurso do Rei".